Em queda e com rejeição recorde, Serra desaparece das fotos de aliados

Cartazes, 'santinhos' e cavaletes de candidatos a vereador em São Paulo ocultam o nome do tucano, ou tentam reduzi-lo ao mínimo, em contraste com os adversários, que recebem espaço generoso na publicidade dos aliados

Cadê Serra? Os cabos eleitorais de Milton Ferreira juram fidelidade ao tucano, mas o nome do ex-prefeito não se vê (Fotos: Danilo Ramos/Rede Brasil Atual)

São Paulo – Se, como se diz, uma imagem vale mais do que mil palavras, a campanha de José Serra (PSDB) está definitivamente com problemas, e não é apenas nas pesquisas. Os candidatos do PSD, partido de Gilberto Kassab, do PV, do PR, do DEM e em alguns casos até do PSDB não mostram a figura de seu candidato a prefeito. Nos materiais de campanha como “santinhos”, cavaletes e cartazes, ele é no máximo citado em caracteres muitas vezes quase invisíveis, só legíveis a curta distância. Fotos de Serra ao lado dos postulantes a uma cadeira na Câmara Municipal pela coligação PSDB/PSD/DEM/PR/PV não são vistas.

A reportagem da Rede Brasil Atual percorreu a cidade e diversos redutos de candidatos da coligação e não conseguiu fotografar sequer uma imagem de Serra junto a seus supostos apoiadores e candidatos ao Legislativo, ao contrário dos outros postulantes a chefiar o Executivo municipal. Imagens de Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB) e Carlos Giannazi (PSOL) são vistas em profusão ao lado de seus candidatos a vereador. Celso Russomanno (PRB) aparece em muitas bandeiras e material próprio, sozinho. Serra nem isso.

Ao entrar no comitê do vereador e candidato à reeleição David Soares (PSD), por exemplo, na região central, e pedir um “santinho” da campanha questionando se ele está com o candidato tucano à prefeitura, ouvimos a seguinte resposta: “É o partido do vereador que é aliado ao partido de Serra. Mas você pode votar no nosso candidato e no candidato à prefeitura que preferir”, explica um cabo eleitoral.

No extremo leste da cidade, em Guaianases, onde fica o comitê do vereador Milton Ferreira (PSD), um veículo de sua campanha mostra o termo “Serra 45” muito timidamente, quase “caindo” do automóvel. No comitê, seus cabos eleitorais garantem que são fiéis à aliança com Serra e reforçam o bordão de que ele é o mais preparado para administrar a cidade, pela qual, dizem, já fez muito.

No entanto, o comitê do dr. Milton Ferreira, como é conhecido, tem nas paredes fotos dele com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o ex-ministro Ciro Gomes, com o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), entre outros. Mas não se vê nenhuma imagem com José Serra, nem nas paredes nem no material de campanha.

O senhor Gersino é petista fiel e acredita que o candidato de Lula e Dilma sairá vencedor

Em seu caso, talvez porque o bairro de Guaianases é um reconhecido reduto do PT, hoje dividindo o eleitorado com Celso Russomanno. Para o aposentado Gersino Zeferino, de 83 anos, pernambucano, que se diz “do Partido dos Trabalhadores”, a legenda “é forte e não perde eleição” no bairro porque fez “muita coisa”. “Inclusive Lula presidente da República deu um grande recado. A Dilma (Rousseff, presidenta) tá dando um grande recado. É isso”, explica.

No bairro do Belém, ao procurar o comitê de campanha da pessedista Marta Costa, o eleitor é orientado a procurar a Igreja Assembleia de Deus, que indica o comitê propriamente dito a cerca de cem metros. Nem no enorme caminhão da campanha estacionado em frente à igreja, nem em cavaletes ou “santinhos” a candidata do partido de Gilberto Kassab exibe fotos de Serra, cujo nome aparece pequeno no material. 

Nos cartazes de Marta Costa, com sorte se enxerga o símbolo do PSD. Para ver o nome de Serra, é preciso mais do que isso

Perto dali, outra vereadora em campanha pelo PSD, Edir Sales, tem material um pouco mais generoso, mas não muito, e apenas no tamanho com que é grafado o nome do candidato a prefeito de sua coligação. Sem imagens.

Em Itaquera, o mesmo ocorre com o candidato Adolfo Quintas. Com um detalhe: ele é do PSDB. Na frente de seu comitê, no maior cartaz a indicar que ali é um escritório político nem o nome de José Serra aparece. Nos “santinhos” e nos cavaletes, o “Serra 45” é minúsculo. Fotos, nada.

Mais significativo ainda é o caso do cartaz de Mário Covas Neto, descendente de um dos ícones do tucanato paulista. Em vez da foto de Serra, a do ex-governador Mário Covas. O termo “Serra Prefeito” tem muito menos destaque do que teria se o PSDB estivesse desde o início unido em torno da candidatura tucana.

Vereadores negam campanhas solo

Se a falta de generosidade dos materiais de campanha dos candidatos do PSD para com a candidatura de José Serra parece ser sintoma de pouca vontade do prefeito Gilberto Kassab em apoiar o mentor de sua chegada à prefeitura de São Paulo, os vereadores e candidatos de seu partido negam que estejam abandonando o barco serrista. Em queda nas pesquisas, Serra perdeu a liderança para Russomanno e agora é ameaçado na segunda posição pelo petista Haddad. De quebra, atingiu no levantamento divulgado esta semana pelo Datafolha uma rejeição recorde, de 46%. 

Edir Sales cumpre o prometido: não se esquece do nome de Serra. Destacá-lo são outros quinhentos

“É uma coisa insana afirmar isso. Nunca ouvi. Só pode ser coisa de quem está interessado nesses boatos”, diz o presidente da Câmara Municipal, José Police Neto. Para ele, a informação é fruto de intrigas disseminadas pelos próprios interesses eleitorais. Ele cita o candidato petista Fernando Haddad como um interessado.

No gabinete da também pessedista Edir Sales, candidata à reeleição, seus assessores garantem que não existe a possibilidade de a vereadora abandonar Serra ou “esquecer” seu nome na campanha. “Somos aliados no sucesso e no fracasso. Até porque o sucesso da campanha de José Serra é importante para nós, já que quanto melhor ela for, mais vereadores elegemos.” 

A baixa exposição de Serra contrasta com os espaços dedicados a Chalita, por exemplo

O vereador Roberto Trípoli (PV), líder do governo Kassab na Câmara, diz estar surpreso com as especulações segundo as quais alguns candidatos do PSD estariam de fato fazendo campanhas solo incentivados discretamente pelo prefeito. “Sou líder do governo e nunca ouvi isso. Deve ser maldade do PT”, avalia. Mas ele aponta também para outro lado, dizendo que os boatos poderiam partir de fontes mais próximas do Palácio do Bandeirantes. “Existe ciumeira do pessoal ligado ao Alckmin (Geraldo, governador)”, diz Trípoli.

Os aliados de Haddad também são mais generosos no espaço dedicado ao petista

Do lado dos não aliados, o vereador Adilson Amadeo (PTB), que não economiza críticas à gestão de Gilberto Kassab quando fala na tribuna da Câmara, entende que a vinculação dos nomes do atual prefeito e do candidato tucano à prefeitura é desastrosa para os postulantes ao Legislativo pela coligação. “Fica muito difícil aos que estão coligados ao PSDB fazer a campanha. Os vereadores que estão nessa coligação estão passando apuro nas ruas.”