Com Lula, Haddad fala em ‘trazer para SP a prosperidade que o Brasil está vivendo’

Ex-presidente rouba a cena durante encontro com bolsistas do ProUni em São Paulo, dá bronca em seu afilhado político e fala da importância de governar em diálogo com a sociedade

Lula falou tanto quanto Haddad: disse que o PT tem o melhor candidato pra São Paulo e que a cidade deve ser mais participativa (Foto: Paulo Pinto/Divulgação)

São Paulo – “O que a gente quer é uma coisa muito simples: trazer para o povo trabalhador de São Paulo a prosperidade que o Brasil está vivendo”, resumiu na noite de ontem (27) o candidato do PT à prefeitura da capital, Fernando Haddad. “Todo mundo melhorou de vida, ganhou um pouquinho mais, reformou a casa, trocou o carro, comprou tevê de plasma. Mas é sair às ruas pra ver mato na praça, entulho, escola de baixa qualidade e posto de saúde caindo aos pedaços. Parece outro planeta.”

O petista discursou no campus da Universidade Nove de Julho (Uninove) no bairro da Água Branca, zona oeste de São Paulo, durante encontro com estudantes beneficiados pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni) – criado pelo governo federal em 2004 e que já atendeu cerca de 1 milhão de jovens com bolsas de estudo integrais ou parciais em instituições privadas de ensino superior. O evento contou com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de lideranças do PT paulistano e dirigentes do movimento estudantil.

Após contar como criou o ProUni com a ajuda de sua esposa, Ana Estela, Fernando Haddad voltou a atacar seus principais adversários – José Serra (PSDB) e Celso Russomanno (PRB) – por ainda não terem apresentado um plano de governo para a capital. O candidato do PT também lembrou que ambos estão fugindo do debate. “Quem vai governar São Paulo se Russomanno ganhar?”, questionou, em referência aberta ao líder isolado em todas as pesquisas de opinião. “Eles nunca tiveram plano de governo. E não sou eu quem está pedindo: é o povo. Você tem que dizer com quem e para quem vai governar. Sozinho, ninguém faz nada.”

O petista reiterou sua proposta de construir uma universidade federal na zona leste da cidade, exigência antiga dos movimentos sociais da região – e disse que o campus só não foi inaugurado devido ao descaso do atual prefeito, Gilberto Kassab, do PSD. “Eles bloqueiam os projetos”, criticou. “Fizemos juntos o anel universitário de São Paulo, abrindo universidades federais em Osasco, Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema, Santos, estamos construindo em Embu das Artes. O presidente Lula fez um acordo com o Kassab há três anos para fazer a universidade federal da zona leste, mas até agora a prefeitura não desapropriou o terreno.”

Bronca

Antes de Haddad tomar a palavra, porém, foi Lula quem discursou – e começou dando uma bronca na passividade de seu afilhado político: “Vem pra cá, Fernando! Candidato não fica sentado! Fica em pé, rapaz!” O ex-presidente pegou o microfone prometendo falar pouco, mas, com a ajuda de um copo d’água, desfiou seu verbo por cerca de 23 minutos – tanto quanto falaria o candidato petista, só que sem causar o mesmo furor na plateia. “São Paulo tem que ser pensada com a dimensão de alguém que não venha só construir mais viaduto porque a cidade tá cheia de carro”, alfinetou. “Um prefeito tem que integrar as pessoas para ajudá-lo a definir as políticas públicas.”

Lula pontuou que uma das heranças mais importantes deixadas pelos seus oito anos de mandato foram as conferências nacionais. “Tudo o que conseguimos fazer de bom neste país não saiu apenas da cabeça do presidente e do ministro: fizemos 73 conferências nacionais, que foram precedidas por conferências municipais e estaduais”, lembrou, anotando que essa maneira de governar deve se tornar realidade em São Paulo. “As pessoas nunca foram chamadas a resolver junto com o poder municipal os problemas da cidade em segurança, transporte, educação. Temos que transformar a sociedade paulistana numa sociedade participativa.”

De acordo com o ex-presidente, Fernando Haddad teria condições de “mudar a relação entre Estado e sociedade” no contexto de São Paulo porque administrou o Ministério da Educação, entre 2005 e 2012, em constante diálogo com os reitores das universidades federais e das escolas técnicas profissionais. “E ninguém arrancou pedaço de ninguém: esse dedo meu eu perdi em 1963”, ironizou. “Além de ser competente, um governante tem que saber ouvir. E Haddad tem essa habilidade.”

Mea culpa

Ao elogiar a capacidade de seu candidato, Lula reconheceu que “algo está errado” na campanha do PT à Prefeitura de São Paulo. O ex-presidente disse não entender porquê as pesquisas de intenção de voto apontam a vitória de “pessoas que não têm a qualificação necessária” para governar a capital. “Certamente somos nós que não estamos conseguindo vender nosso candidato com a grandeza que ele tem”, admitiu. Foi quando lembrou a importância da militância petista para garantir uma votação expressiva no próximo dia 7 e levar Haddad para o segundo turno das eleições. “É o único candidato que tem uma camisa 12, que somos nós.”

“Não quero que vocês percam um minuto de estudo, mas, a partir de amanhã, cada hora vaga, cada oportunidade que a gente tiver, temos que convencer as pessoas e tentar mostrar que não é todo dia que podemos ter um candidato dessa qualidade”, insistiu. pedindo aos apoiadores de Fernando Haddad que utilizem os nove dias que faltam até as eleições para fazer o que chamou de “milagre da multiplicação dos votos”, sem esperar os efeitos incertos dos programa de tevê. Por fim, rogou ao candidato do PT: “Pelo amor de deus, não entre no jogo rasteiro de um determinado candidato.”

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