Para Eliana Calmon, mudança no modelo de judiciário deixaria elites ‘desprotegidas’

Eliana Calmon encerra dois anos de mandato no Conselho Nacional de Justiça no início de setembro (Foto: Conselho Nacional de Justiça) São Paulo – A corregedora nacional de Justiça, Eliana […]

Eliana Calmon encerra dois anos de mandato no Conselho Nacional de Justiça no início de setembro (Foto: Conselho Nacional de Justiça)

São Paulo – A corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, afirmou ontem (23), que o sistema judiciário brasileiro foi criado para favorecer as elites políticas e econômicas. “Não tenha dúvida. Todo o sistema é para essa proteção. Nós não mudamos o sistema de uma hora para outra, porque se mudarmos, as elites ficarão desprotegidas”, afirmou em entrevista para a Revista do Brasil.

A ministra esteve na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo a convite da Escola Judiciária Eleitoral Paulista. Depois de ser homenageada por sua atuação à frente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e proferir palestra, Calmon concedeu entrevista exclusiva para a edição de agosto da revista.

Ao saudá-la antes da palestra, a desembargadora federal Diva Malerbi, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, disse que a “competência, o talento e a coragem” de Eliana Calmon representam uma nova face do Poder Judiciário: “Dizem que o século 19 foi a vez do Executivo; que o século 20, do Legislativo; e o século 21 é o século do Judiciário. E o Judiciário que nós queremos ver já uma cara neste início de século”, afirmou.

Após o evento, a reportagem mencionou a violenta reintegração de posse no assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). E questionou se o episódio ainda não está mais para século 19 do que para 21. A ministra concordou, e alertou que cabe ao Judiciário, mais que interpretar “a letra fria da lei”, ter ativismo o suficiente para julgar com bom senso e levando em conta os interesses da sociedade.

Ouça o áudio:

Link | Download

Bandidos de toga

Em novembro do ano passado, a corregedora do CNJ havia causado polêmica no ambiente da magistratura ao afirmar que o corporativismo ideológico no Judiciário favorece a infiltração de “bandidos de toga”. “O corporativismo é uma visão ideológica. Ideologicamente você parte para defender o Poder Judiciário, e você começa a não ver nada que está ao seu redor. Você não vê sequer a corrupção entrando nas portas da Justiça, porque você acha que, para defender o Judiciário, você tem que manter o magistrado imune às críticas da sociedade e da imprensa”.

A declaração foi feita às vésperas do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiria, entre outros pontos, se o CNJ teria poder de “concorrer” com as corregedorias estaduais, isto é, investigar procedimentos suspeito nos tribunais regionais mesmo que não tenha sido objeto de apuração pela corregedoria local. Por 6 votos a 5, prevaleceu a autoridade do CNJ.