Cidadão paulistano, Lula diz que São Paulo ‘precisa ser pensada corretamente’

Ex-presidente critica 'preconceito de parte da elite', mas também chama a cidade de terra de oportunidades, comparando os paraguaios e bolivianos de hoje aos nordestinos de outrora. E elogia o pré-candidato Fernando Haddad e a senadora Marta Suplicy, que pretendia disputar a prefeitura

Lula discursa na Câmara Municipal: ressalvas ao “preconceito secular” paulistano e alerta para enchentes (Foto: Ricardo Stuckert/IL)

São Paulo – Ao receber o título de Cidadão Paulistano, ontem (21) à noite, na Câmara Municipal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que São Paulo “precisa ser pensada corretamente” e reservou elogios tanto para o pré-candidato do PT à prefeitura, Fernando Haddad, como para a senadora Marta Suplicy, que também pleiteava a candidatura.

Chamou Haddad de “melhor ministro da Educação que este país já teve” e afirmou que Marta, “a melhor prefeita que São Paulo já teve”, é “a maior vítima do preconceito de uma parte da elite de São Paulo, porque ousou governar para os pobres da cidade”. E acrescentou que ele mesmo buscou combater um “preconceito secular” paulistano. “Eu tinha de provar que nordestino não vem para São Paulo apenas para ser pedreiro. Por que não ser engenheiro, médico, presidente da República?”, afirmou Lula. “Tivemos de pisar em muito caco de vidro e muito espinho.”

Além de título, o ex-presidente também ganhou a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo. A iniciativa foi dos vereadores do PT Alfredo Alves Cavalcante, o Alfredinho – um ex-metalúrgico da Ford de São Bernardo, piauiense – e de José Américo Dias, jornalista que conheceu Lula na greve da categoria em 1979.

Lula relembrou sua trajetória desde a saída de Garanhuns (PE), aos 7 anos, em 1952, a viagem de 13 dias até Santos e a chegada a São Paulo, em 1956 – seu primeiro endereço foi na rua Albino de Morais, na Vila Carioca, região do Ipiranga, na zona sul paulistana. A primeira casa que comprou foi no Parque Bristol e seu primeiro casamento foi realizado na igreja Nossa Senhora das Mercês, em regiões próximas.

Também no Ipiranga fica o Instituto Lula. “Ao Nordeste devo o profundo entendimento do que é a pobreza. A São Paulo devo o que sou”, disse o ex-presidente, que chegou acompanhado da esposa, Marisa Letícia, com quem completará amanhã 38 anos de casamento.

Mesmo com a crítica à chamada elite, Lula também chamou São Paulo de uma terra onde quem vem de fora tem a chance de conviver com as diferenças. Para ele, os paraguaios e bolivianos, que têm chegado em grande número à cidade, são como os nordestinos de outrora, “que vêm atrás de oportunidades”.

Lembrou que fez parte “de uma leva de imigrantes que ajudou a transformar São Paulo na maior cidade brasileira e em um dos maiores polos econômicos do mundo”.E citou o problema crônico das enchentes: “Um prefeito de São Paulo toma posse no dia 1º de janeiro, já corre o risco de no dia 2 ter uma enchete em metade da cidade e ser culpado no dia 3”.

Prestigiaram o pernambucano Lula (agora com “metade do corpo de Garanhuns e outra metade de São Paulo”), entre outros, dois governadores, ambos do Nordeste – Marcelo Déda (Sergipe) e Wilson Martins (Piauí) – além do ex-governador Wellington Dias, também do Piauí, atual senador. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi representado pelo secretário da Casa Civil, Sidney Beraldo.

Também estavam no plenário da Câmara os ex-ministros Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e Orlando Silva (Esporte) e o prefeito de São Bernardo – cidade do ABC paulista onde Lula fez carreira sindical e política –, o também ex-metalúrgico Luiz Marinho. Do lado de fora, centenas de pessoas viam a cerimônia por um telão.

Ao discursar, a senadora Marta Suplicy criticou as últimas gestões paulistanas. “Foram oito anos em que tivemos os grandes programas sociais revertidos, nenhuma capacidade de inovar, renovar. É preciso ter estratégia de desenvolvimento para a cidade”, afirmou. “Não basta o novo nesta cidade. É preciso ter programa novo.”

Mais tarde, após a cerimônia, Haddad disse estar de acordo quanto à necessidade de novos projetos. “Essa gestão é muito pouco inovadora”, declarou. Sobre a campanha, comentou que “a disputa é muito forte, voto a voto”.

O cabo eleitoral Lula aos poucos está de volta. Anunciou que leria um discurso por cinco ou seis minutos, para poupar o público e a garganta, já que se recupera de um tratamento contra um câncer na laringe. Falou durante 29 minutos, com apenas alguns pigarros e uma interrupção para tomar água.

 

 

 

 

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