PSDB mira 2014, estimula área sindical e corteja parte da base de apoio de Dilma

Primeiro escalão tucano prestigia congresso e destaca importância dos trabalhadores. Aécio fala em 'volta às origens'

Aécio Neves disse que o partido está convocando os trabalhadores para construir a ‘nova e urgente agenda nacional’ (Foto: George Gianni/PSDB)

 

São Paulo – Ao realizar seu primeiro congresso sindical, hoje (27), o PSDB espera ter dado a largada para voltar ao Palácio do Planalto em 2015. A avaliação corrente foi de que o partido falhou, em eleições passadas, ao não dar voz aos trabalhadores. Agora, pretende lançar pelo menos 200 candidaturas saídas do núcleo sindical tucano nas eleições municipais deste ano. Para 2014, a ideia é eleger pelo menos uma dupla de deputados estadual e federal em cada estado. Ao mesmo tempo, o PSDB se aproxima de sindicalistas de outras centrais e partidos, que dois anos atrás apoiaram a candidatura vitoriosa de Dilma Rousseff e hoje integram a base aliada. O secretário-geral do PSDB em São Paulo, Cesar Gontijo, chegou a dizer que o tucano, símbolo do partido, ganhou a perna que faltava e agora poderia voar.

Os dois organizadores do núcleo sindical do PSDB – Antônio Ramalho e Melquíades Araújo – são vice-presidentes da Força Sindical, comandada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que é dirigente do PDT – Paulinho esteve no congresso, realizado na região central de São Paulo, e foi cortejado pelo governador Geraldo Alckmin, pelo senador Aécio Neves (MG) e pelo ex-governador José Serra, pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Também participaram o presidente da UGT, Ricardo Patah, filiado ao PSD de Gilberto Kassab (Patah, por sinal, deixou o congresso para almoçar com o prefeito paulistano), além de Francisco Pereira de Sousa Filho, o Chiquinho, dirigente da UGT e do PPS. Paulinho e Patah apoiaram a candidatura Dilma.

Ao chegar, o presidente da Força foi questionado sobre a possível aproximação com o PSDB, inclusive com a participação de Aécio Neves na comemoração do 1º de Maio. Ele afirmou que o ex-governador mineiro participou de outros eventos da central e destacou o “pluralismo” da Força. “Uma central não pode ser ligada a um único partido. Sempre incentivamos que os trabalhadores se organizem em partidos”, disse o sindicalista, que no início deverá se licenciar da Força para sair candidato a prefeito em São Paulo. “É importante também que os partidos aceitem os trabalhadores”, acrescentou Paulinho. Ele cobrou do PSDB que inclua um sindicalista em sua direção. “Sindicalista não é só para colar cartaz.”

Patah, da UGT, reforçou: “Temos de parar de carregar bandeiras e distribuir santinhos perto de eleições. Precisamos construir as leis a nosso favor”. Para Chiquinho, a presença dos trabalhadores na política é fundamental. “O mundo sindical só avançará efetivamente quando puser um pé dentro do Parlamento”, afirmou o dirigente, para quem a representação atual no Congresso é “pífia”. Isso também vale para a disputa pelo Executivo, acrescentou. “Queremos que todos os partidos levem em conta a luta dos trabalhadores. Se o movimento sindical estiver influenciando dentro dos partidos, é possível influenciar na escolha de um candidato à Presidência da República.” Mas, para ele, todos continuam devendo: “Desde Cabral, todas as políticas foram direcionadas da classe média para cima”.

À deriva

Alguns dos presentes ao congresso já escolheram o nome: Aécio Neves. Minas Gerais, por sinal, foi onde se formou o primeiro núcleo sindical do PSDB, um pouco antes de São Paulo. O ex-prefeito de Contagem (MG) Ademir Lucas foi explícito ao citar o nome do senador. “O PSDB vai voltar ao poder”, afirmou. Foi em Contagem que, em 1994, Fernando Henrique Cardoso teve oficializada a sua primeira candidatura a presidente.

Idealizador do núcleo sindical, o presidente do PSDB paulista, Pedro Tobias, disse que o movimento sindical “estava à deriva” no partido. “Sindicato precisa participar não só na hora de pedir voto, mas para fazer política. Não ganhamos eleição só em sala fechada.” E também fez referência a um “candidato novo” à Presidência da República.

O possível candidato novo, Aécio Neves, disse que o PSDB está retornando às origens. “Não existe partido social-democrata sem uma forte inserção no movimento sindical. Estamos convocando os trabalhadores para construir a nova e urgente agenda nacional”, afirmou o senador, que interrompeu seu discurso para anunciar a chegada do “companheiro José Serra, futuro prefeito de São Paulo”. Serra foi o último dirigente a chegar, por volta das 13h. Aécio também se referiu a Alckmin como “fraterno amigo, companheiro de todas as caminhadas e irmão”. Destacou o reencontro com setores “dos quais estávamos divorciados” e chamou o congresso sindical de “o mais importante evento organizado pelo PSDB em sua história”.

Para Serra, a primeira tarefa do movimento sindical tucano é mobilizar os dirigentes para a campanha eleitoral deste ano. Criticou as políticas de saúde e educacional dos últimos dez anos (governos Lula e Dilma) e o que considera pouco volume de investimentos da União. Sem referência a eleições presidenciais, o ex-governador, ex-ministro e ex-candidato à Presidência disse estar pronto para lançar uma “plataforma tucana para 2012”.

Os chefes do Executivo e do Legislativo paulista também reforçaram o discurso sobre a importância do movimento sindical. “Falta o núcleo sindical do PSDB. Mas sempre fomos ligados aos trabalhadores, ou não teríamos ganhado as eleições que ganhamos”, afirmou o presidente da Assembleia Legislativa, Barros Munhoz. “Não tem social-democracia sem a organização dos trabalhadores”, acrescentou Alckmin, que recentemente nomeou Carlos Ortiz, da Força Sindical, para a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho.

Vários discursos destacaram a necessidade que havia de o PSDB formar um núcleo sindical. O secretário estadual de Energia em São Paulo, José Aníbal, disse que tentou “de todos os modos” organizar esse núcleo quando presidiu o partido, entre 2000 e 2002. “Infelizmente, não caminhou. Agora, estamos fazendo o certo, com os próprios trabalhadores. Um partido com as nossas características precisa ter diálogo com toda a sociedade.”

Eleito presidente nacional do Núcleo Sindical do PSDB, Ramalho destacou o apoio de Alckmin, disse que o partido “está cada vez mais próximo de suas bases” e adiantou que militantes escolhidos nos canteiros de obras (ele é presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de São Paulo) estarão à disposição para ajudar na campanha de Serra à prefeitura.

Antonio Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho e da Previdência (1990-1992), foi um dos coordenadores do evento. Atualmente, ele assessora a Força Sindical.

 

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