Em Harvard, Dilma compara “Brasis” pré e pós-Lula

Presidenta critica políticas econômicas adotadas por governos anteriores e ressalta que redução da pobreza cria necessidade de melhoria nos serviços públicos

A presidenta Dilma Rousseff posa em Harvard com estudantes brasileiros que integram o programa Ciência Sem Fronteiras (Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – A presidenta da República, Dilma Rousseff, aproveitou a passagem hoje (10) por uma das universidades mais conceituadas dos Estados Unidos, Harvard Kennedy School of Government, para ressaltar as diferenças entre o Brasil após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o Brasil anterior à eleição do líder petista. Em uma fala mais uma vez centrada na questão econômica, ela disse que o país está bem preparado para enfrentar a crise internacional.

“Durante 20 anos aplicamos só processos de consolidação fiscal. Melhor dizendo, ajuste fiscal radical. E tivemos extremas dificuldades de sair de um processo de estagnação, de crescimento baixo, de ausência de políticas sociais”, comparou, a exemplo da véspera, quando criticou especificamente as políticas neoliberais adotadas na década de 1990.

Dilma lembrou ainda que, antes de Lula, o Brasil dependia do Fundo Monetário Internacional (FMI). Hoje, é credor da instituição, que empresta dinheiro para a Europa, endividada e em recessão. Para ela, essa foi uma parte do processo para promover políticas sociais que ajudaram a fortalecer o mercado interno, base para o crescimento econômico atual.

A presidenta lembrou que 40 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza, garantindo dinamismo à economia local, menos dependente da situação internacional. “Se não fosse por isso, um espirro aqui fora levava a uma pneumonia no Brasil”, afirmou, lembrando uma frase frequentemente citada pelo antecessor. 

Para Dilma, esta classe média emergente leva à necessidade de mudar a noção de que os serviços públicos devem ser voltados exclusivamente à população de baixa renda. “Isso significa que o Estado brasileiro vai ser cobrado no sentido de assegurar uma qualidade do serviço público que jamais teve antes. O Brasil melhorou. Essas pessoas se tornam críticas, são capazes de reivindicar, e nós temos de dar a resposta.”

A presidenta lembrou a importância da educação neste novo processo, eleita como fator fundamental para que a nação possa ter um processo sustentado de desenvolvimento e de inovação. Antes do evento em Harvard, Dilma firmou parcerias com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para a recepção de jovens brasileiros beneficiados pelo programa Brasil Sem Fronteiras, que tem como meta enviar 100 mil pós-graduandos ao exterior até 2014. “O que caracteriza o século 21 é assegurar que seja possível essa trajetória em que o Brasil tem de correr muito para estar à altura dos desafios que se nos apresentam no caso da ciência, tecnologia e inovação.”

Voltando a citar problemas do passado, a presidenta lembrou que, ao assumir o Ministério de Minas e Energia, em 2003, 12 milhões de brasileiros não tinham acesso a energia elétrica. “Temos de ao mesmo tempo em que tratamos de uma questão do final do século 19, assegurar rede de banda larga nas principais regiões e caminhar para tornar o Brasil um país ligado a toda a estrutura do futuro, que é essa economia do conhecimento.”

Crise e direitos humanos

Ao citar a mudança de correlação de forças no mundo, Dilma afirmou sentir orgulho de comandar uma nação emergente que ajuda a sustentar o crescimento mundial em um momento de dificuldades. A exemplo da véspera, a presidenta advertiu que, embora algumas atitudes das nações desenvolvidas tenham sido acertadas, falta uma mudança de rumos para deixar de lado políticas recessivas. “Olhávamos o mundo com ótica eurocentrista ou só focada nos Estados Unidos. Hoje o Brasil olha para seus vizinhos, olha para a região. Acreditamos que a cooperação com os latino-americanos e caribenhos é estratégica.”

Ao ser questionada por dois estudantes venezuelanos sobre quais conselhos daria ao presidente daquele país, Hugo Chávez, ela afirmou que não dá “palpites” sobre outras nações. Pressionada a comentar a questão dos direitos humanos na Venezuela, Dilma resumiu: “Não vou fazer luta política com direitos humanos”.