Parecer da Comissão de Ética contra Lupi dificulta relação entre PDT e governo

O presidente nacional do PDT, André Figueiredo revelou que o partido não pretende indicar substituto para o lugar de Lupi(Foto: Leonardo Prado/ Agência Câmara) São Paulo – O ministro do […]

O presidente nacional do PDT, André Figueiredo revelou que o partido não pretende indicar substituto para o lugar de Lupi(Foto: Leonardo Prado/ Agência Câmara)

São Paulo – O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, manteve o cargo nesta semana mesmo após publicação de parecer da Comissão de Ética da Presidência da República recomendando a exoneração. O episódio, porém, serviu para afastar o PDT, do qual Lupi é presidente licenciado, em relação ao governo. Líderes da legenda fizeram críticas ao PT, que estaria interessado em retomar o controle da pasta, e já sugerem que não pretendem indicar substituto caso o ministro deixe a Esplanada na próxima semana.

Foi o presidente nacional do PDT, deputado André Figueiredo (PDT-CE), quem disse não haver intenção de indicar substituto. “Não estamos discutindo nomes, isso não está em pauta. Se a substituição de Lupi acontecer na semana que vem, o PDT não irá indicar ninguém para ficar em seu lugar. E, caso haja reforma ministerial no início do ano que vem, acho salutar que a presidente Dilma faça um rodízio de ministérios”, afirmou ao Terra Magazine.

O também deputado Brizola Neto (PDT-RJ) declarou que a condição do ministro de “continuar sendo manchete de jornal toda semana” é “desgastante” também para o partido. O parlamentar fluminense é apontado como possível substituto de Lupi.

Mesmo diante da divulgação do parecer da Comissão de Ética na quarta-feira (30), a presidenta Dilma Rousseff decidiu evitar a sétima mexida no governo ainda no primeiro ano de gestão. Com isso, o mês de novembro foi o primeiro desde junho sem que um nome de primeiro escalão do Executivo deixasse o governo. A presidenta decidiu pedir informações detalhadas à comissão e pode decidir pela permanência ou não de Lupi no cargo na próxima semana.

Ainda que o ainda ministro sobreviva a dezembro, ele é carta marcada para a reforma ministerial planejada por Dilma para o início de 2012. Figuras interessadas em disputar eleições municipais do ano que vem devem liberar os cargos e tocar suas campanhas. Junto deles, ministros desgastados também seriam incluídos nas trocas. Além do titular do Trabalho, Mário Negromonte (PP-BA), das Cidades, tem grande chance de sair, se resistir até lá.

A opção de não indicar substituto para Lupi é defendida por pedetistas desde o início das acusações contra Lupi. Figuras como os senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT) defenderam a necessidade de afastamento político para redefinir a identidade do partido.

A possibilidade pode ter ganhado forças depois de declarações do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), presidente nacional da Força Sindical. Em entrevista na quinta-feira (1º) ele fez duros ataques ao PT e à Central Única dos Trabalhadores (CUT), a quem atribui as denúncias contra Lupi. “O PT quer tirar o Lupi a fórceps”, afirmou.

A CUT foi a única das seis centrais reconhecidas pelo ministério a não subscrever uma carta de apoio ao ministro no início de novembro. A decisão de manter distância do caso visava a evitar ter de defender convênios com irregularidades. Tanto sindicalistas da central como membros do PT que chegaram a ser cotados para assumir o posto, rechaçaram qualquer interesse em obter o cargo.

A reação de Paulinho baseou-se, porém, em entrevista do presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP). Ele afirmou que há “aparelhamento” do ministério – o único caso no Executivo federal, na visão do petista – pelo PDT, que adota um mecanismo de “porteira fechada”. Das 27 Supertendências Regionais do Trabalho (antigas delegacias regionais), 20 são ocupadas por pedetistas, segundo Falcão.

Além de sugerir um afastamento em relação ao governo, Paulinho indicou que o episódio pode prejudicar eventuais alianças eleitorais em 2012, em capitais e outras cidades importantes. Recorreu ainda à terminologia ressuscitada em 2010 pelo candidato da oposição José Serra (PSDB) que acusava o PT de ter montado uma “república de sindicalistas” nas gestões dos três petistas que ocuparam o posto desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva – Jaques Wagner (BA), Ricardo Berzoini (SP) e Luiz Marinho (SP).

Se o esfriamento de relações se confirmar, seria o segundo partido a ter elo abalado com o Planalto após crise com ministros acusados de corrupção. Depois da saída de Alfredo Nascimento, senador do PR-AM, dos Transportes, a legenda deixou o bloco governista no Senado, embora não tenha debandado para a oposição. Na Casa, o PR segue acompanhando a indicação de votos da liderança do governo. O PDT tem cinco de 81 senadores e 27 dos 513 deputados.

Na berlinda

No início de novembro, foram publicadas acusações de pagamento de propinas em convênios firmados entre o ministério e ONGs. Pelo menos um funcionário chegou a ser afastado, enquanto Lupi agia para desqualificar as denúncias. Convocado pela Câmara, ele afirmou não conhecer Adair Meira, diretor de organizações com contratos supeitos. Na semana seguinte, foram divulgadas imagens de Lupi num avião particular em um voo de 2009 com destino ao Maranhão. A aeronave teria sido alugada pelo diretor de uma ONG que mantém convênio com o ministério. O episódio tornou-se central em outra audiência, dessa vez no Senado.

Lupi teve seguidas reuniões com Dilma Rousseff, pelo menos uma por semana, desde a eclosão das denúncias. Embora a presidenta tenha inicialmente negado a existência de uma crise, as informações são de que ela pediu repetidas vezes o esclarecimento rápido das acusações, mas segurou o ministro para evitar nova demissão. E foi mantido apesar de ter dito, a princípio, que só deixaria o cargo “a bala”, o que desagradou o Palácio do Planalto.

Desde o início Lupi rechaça a hipótese de ser “a bola da vez” na investida da velha mídia contra ministros do governo Dilma. Desde junho, seis membros do primeiro escalão da gestão deixaram seus postos – cinco deles após acusações de corrupção ou irregularidades envolvendo as pastas por eles comandadas. Ainda em novembro, Negromonte, das Cidades, chegou a ser cotado como o “oitavo” na lista dos ministros a ir à berlinda.

Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Dias (Esporte) caíram nesse contexto. Nelson Jobim (Defesa) foi o único a deixar o posto por desgaste político.

Leia também

Últimas notícias