Lupi vê denúncias como assunto superado, mas promete se explicar a deputados

Ida à Câmara segue cartilha de três dos cinco ministros que caíram após a divulgação de suspeitas de irregularidades ou tráfico de influências. Ele nega ser 'bola da vez'

Ministro usou tom mais ameno do que na véspera, mas reafirmou que declarações são vazias (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

São Paulo – Um dia depois de convocar entrevista coletiva e de conversar com deputados federais do PDT, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse que considera encerrado o assunto das acusações de cobrança de propina. Ele afirma que os esclarecimentos já foram prestados, com documentos e informações. A Procuradoria-Geral da República considera que, até agora, não há indícios de irregularidades.

Porém, ele deve ir à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados para se explicar sobre o caso. Pedidos de convite e convocação foram retirados da pauta nesta quarta-feira (9) diante do compromisso assumido por Lupi de que ele iria “espontaneamente” à audiência nesta quinta-feira (10).

“A gente já deu as respostas que tinha que dar, apresentou os documentos, o procurador-geral da República já se pronunciou. Agora, estou aqui para trabalhar”, declarou Lupi. Ele falou brevemente com jornalistas antes da abertura do encontro sobre estratégia de inclusão produtiva urbana do Programa Brasil sem Miséria.

Em tom mais ameno do que na véspera, Lupi voltou a declarar que as acusações são vazias e irresponsáveis e que não irá sair do cargo. Repetiu ainda que a equipe do ministério não cobra propina em nome do partido, embora haja 10 mil funcionários a serviço da pasta. “Não posso impedir que alguém do vigésimo escalão, na ponta, tenha feito alguma coisa errada. Se tiver feito, cadeia para o corrupto e para o corruptor”, disse.

Questionado se poderia ser a “bola da vez”, após a queda de cinco ministros do governo Dilma Rousseff após acusações de corrupção e iregularidades, Lupi respondeu: “Só se for a bola sete, que é a bola que dá a vitória”. “O Brasil está dando certo. Muita gente não se conforma com isso e quer inventar muita coisa. Mas estamos com a consciência tranquila”, afirmou.

Em relação ao relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que apontou a existência de contratos sem fiscalização no ministério, Lupi argumentou que 186 deles, na realidade, não foram disponibilizados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

A maioria dos deputados do PDT apoiam a manutenção de Lupi, o que o deixa em posição de maior vantagem em relação a colegas que caíram depois de assistirem a uma escalada de denúncias e acusações. O apoio foi assegurado depois de se ensaiar uma crise interna no partido, do qual ele é presidente licenciado. O ministro ainda teria admitido problemas nos repasses a três ONGs de onde partiram as denúncias, publicadas no fim de semana pela revista Veja e pelo portal IG.

A suspeita divulgada é de que haveria um esquema de cobrança de propina envolvendo convênios com ONGs e a pasta. No sábado (5), Lupi divulgou nota na qual informou o afastamento do assessor especial e coordenador-geral de Qualificação, Anderson Alexandre dos Santos, e o pedido de providências para investigar o caso. Na segunda-feira (7), o ministro desqualificou as organizações ouvidas.

Desde junho, seis ministros do governo Dilma deixaram seus postos – cinco deles após acusações de corrupção envolvendo as pastas por eles comandadas. Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Dias (Esporte) caíram nesse contexto. Nelson Jobim (Defesa) foi o único a deixar o posto por desgaste político. Uma reforma ministerial é esperada para o início de 2012, em função das eleições municipais e de eventuais insatisfações de Dilma com a condução do governo.

A decisão de ir à Câmara apresentar esclarecimentos sobre as acusações que cercam o ministério segue o roteiro de outros dos acusados, que terminaram por cair. Rossi, Novais e Orlando Silva compareceram diante de deputados, mas acabaram por deixar o governo. Nascimento chegou a agendar sua ida, mas renunciou antes e faltou à audiência.

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