Deputado acusado diz que Major Olímpio é franco-atirador

Citado por conseguir recursos extras para seu município, Rogério Nogueira afirma que verbas não são de emendas parlamentares

O deputado afirmou que nunca foi sondado para se envolver nas citadas irregularidades, mas confessou já ter ouvido falar do caso (Foto: Divulgação/ Assessoria Rogério Nogueira)

São Paulo – O deputado estadual Rogério Nogueira (PDT) criticou, nesta sexta-feira (21), o papel de “franco-atirador” desempenhado pelo seu colega de Assembleia Legislativa e de partido Major Olímpio. Ele ainda explicou à Rede Brasil Atual as denúncias de que teria conseguido R$ 40 milhões em recursos extras para seu município por integrar a base aliada do governo.

A polêmica em torno das emendas surgiu durante uma entrevista na internet do também deputado Roque Barbiere (PTB), na qual o parlamentar afirmava que 25% a 30% dos deputados “vendem” a cota de emendas a que têm direito todos os anos em troca de parte dos recursos. O deputado licenciado Bruno Covas (PSDB), secretário estadual do Meio Ambiente, em entrevista a um jornal, citou até um exemplo em que um prefeito de uma cidade havia oferecido a ele 10% de uma emenda no valor de R$ 50 mil indicado pelo parlamentar. Semanas depois, Major Olímpio afirmou que Nogueira conseguia verbas extras para sua cidade por ser da base aliada.

Nogueira afirmou que por, ser da base aliada, possui um melhor trânsito no governo e na Casa Civil estadual, porém negou que suas emendas sejam turbinadas por isso. “Indicação é diferente de emenda, então você sendo da base do governo tem mais acesso junto ao governador”, afirmou.

O deputado, que disse ter conseguido R$ 850 milhões por meio de emendas em 2010, comentou como está sendo feita a seleção dos recursos para 2011.  “Para este ano não foi nada, porque está tudo travado por conta das denúncias do Roquinho (Barbiere). Então, o governador segurou uma por uma para ver onde o deputado tem voto”, contou.

Nogueira citou ainda as denúncias feitas por Barbiere e a polêmica entrevista de Covas. Ele afirmou que nunca foi sondado para se envolver nas citadas irregularidades, mas confessou já ter ouvido falar do caso.

Leia a íntegra da entrevista:

Sobre o depoimento do Major Olímpio na quinta-feira (20) citando seu nome como um deputado que conseguia verbas extras de R$ 40 milhões por ser base, o que achou disso? Essa afirmação é verdadeira?
Fiquei sabendo sim, e acho que o Major Olímpio é um franco-atirador. Ele aproveita situação da Casa e dos próprios colegas para querer aparecer na mídia. Por exemplo, isso que aconteceu com o Roquinho Barbiere, ele falou coisas que nem sabe, e o que ele comentou foi o que eu falei em reunião da executiva do partido no início deste ano.

Como foi isso?
Ele ( Major Olímpio) sempre esteve na oposição e o partido sempre esteve na base do governo. Quando estava tendo a reunião da executiva ele falou: “Olha, você e os outros deputados do PDT são da base e têm a mesma emenda que eu, só R$ 2 milhões. Não sei por que vocês são base”. Para mim, R$ 2 milhões é pouco, se eu levar esse recurso para a minha cidade (Indaiatuba) que o orçamento é de R$ 600 milhões, não vai representar quase nada. Agora, se eu levar R$ 300 mil para uma cidade pequenininha alí na minha região, já é bastante.

E em relação aos R$ 40 milhões?
Indicação é diferente de emenda, então você sendo da base do governo tem mais acesso junto ao governador. Eu tenho a oportunidade de chegar para o secretário da Educação e mostrar, por exemplo, a Fiec (Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura). Então, eu cheguei na reunião e disse para o Major que ele estava preocupado em conseguir R$ 2 milhões, e levei R$ 30 milhões para um projeto que o governador – à época José Serra – aceitou.

Então, esse dinheiro não é de emendas?
Não é de emendas. Eu mostrei para o Major que quem é da base consegue apresentar mais coisas para ser liberadas do que quem não é da base.

Qual a diferença entre a emenda e a indicação?
O governador não sabe do problema de 645 municípios, quem leva o problema é o deputado de cada região. Eu faço esse pedido levando o prefeito ou os prefeitos, as concessionárias, eu levo todo mundo para uma reunião com o governador ou para a Casa Civil. Eles vão ouvir e decidir se dentro do orçamento do anos eles colocam a reivindicação. Quando você está na oposição, nem isso você consegue.

Quanto você liberou de emendas no ano passado e neste ano?
Os restos a pagar do ano passado foram R$ 850 mil, e para este ano não foi nada, porque está tudo travado por conta das denúncias do Roquinho (Barbiere). Então, o governador segurou uma por uma para ver onde o deputado tem voto, o que eu acho correto.

É o governo que faz essa análise de votos?
Sim, principalmente no governo Alckmin. Ele sempre quando tem uma emenda que é acima do valor, ele fala: “Pô, uma cidade pequenininha, e o cara está mandado uma emenda de R$ 1 milhão, tem alguma coisa errada”. Ele sempre chama o deputado e diz o máximo que o deputado tem para liberar.

O que achou das denúncias de Roque Barbiere?
Eu acho que foi uma coisa muito pontual. Na cidade dele, ele tem um problema com o prefeito, mas eu acredito que ele não quis abrir para os 94 deputados, quis atingir aqueles deputados  da região dele e levaram muito dinheiro para lá.

Ele foi bastante claro quando disse que existe esquema de vendas de emendas na Assembleia.
Eu acho que ele tem que provar. Acho que ele tem que denunciar.

Você já ouviu falar alguma coisa a respeito do esquema?
Ouvir falar a gente ouve muita coisa, e o que a gente ouve falar no meio político não é somente venda de emendas.

O quê, por exemplo?
Por exemplo, o que aconteceu no Ministério do Esporte com as ONGs. Nós sempre ouvimos falar que as ONGs sempre têm dono político, sempre tem algum político por trás, que quem manda o dinheiro para essas ONGs é o mesmo que recebe, porque tem algum parente, algum amigo. Mas nem tudo que a gente ouve na política pode sair denunciando.

Nunca te procuraram para nada?
Já estou no meu terceiro mandato e nunca me procuraram na Assembleia me propondo algum esquema, porque eu sou do interior, e no interior tudo que a gente levar ainda é pouco, falta tudo.

Não sabe de nenhum caso?
Não, eu só ouço falar. Ninguém nunca chegou para mim e falou que deputado tal faz isso ou faz aquilo.

E sobre a entrevista do secretário Bruno Covas?
Eu acho que ele foi no calor da emoção. Quando ele falou isso, não sei se foi em um momento de “Eu também sei, também ouvi falar”, e no fim acabou falando que aconteceu com ele, depois disse que não foi mais. Eu acho que foi na emoção do acontecimento.

 

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