Fora do PV, grupo de Marina ensaia primeiros passos

'Sonháticos', em primeira reunião depois de sair do PV, querem 'outra política'

São Paulo – Cerca de 150 “sonháticos” participaram da primeira reunião dos dissidentes do PV e simpatizantes de Marina Silva após a debandada do partido. A candidata terceira colocada na eleição à Presidência da República, porém, não compareceu – está de férias no Acre. Denominado de “Terça-feira Sonhática”, o encontro foi definido pelos organizadores do Grupo de São Paulo como “aquecimento de tambores” para que o movimento tome formas e comece a definir a “nova política”, como os entusiastas definem o momento pelo qual Marina e seu grupo passam.

Simpatizantes e ex-filiados do partido verde de várias partes do Brasil, que participaram presencial ou virtualmente do debate, definiram o momento como de “dispersão criativa”. Os integrantes terão tempo para pensar o que querem para esse novo movimento que, segundo eles, será pautado, acima de tudo, pela ética. Eles esperam que a discussão volte com mais força assim que Marina Silva voltar de férias, no mês de agosto.

Sentados em círculos em cadeiras ou até no chão, os participantes expuseram o desalento com o atual modelo político. A discussão mostrou poucos consensos para além das críticas à conduta de partidos atuais, embora parte das intervenções, presenciais ou por teleconferência, tentassem buscar pontos em comum. Manifestações de ruas como fizeram jovens na Espanha e no Chile, mobilização em redes sociais e fazer “a nova política” no cotidiano estavam entre as opções levantadas.

Uma das estrelas do grupo, o empresário Ricardo Young, que concorreu a uma cadeira no Senado nas últimas eleições, defendeu uma outra forma de ir às ruas. Sem temores de arrefecer o ânimo de “corações desencontrados”, o ex-verde defendeu que não se almeje reunir milhares para protestar em praças públicas. “Precisamos ir para as ruas para procurar entender como isso pode se dar e como será determinado esse movimento”, finalizou.

O encontro, apesar do caráter informal, delineou os primeiros passos do movimento liderado por Marina Silva. Maurício Brusadin, ex-presidente do diretório estadual de PV em São Paulo e organizador do encontro, enfatizou que o movimento dos dissidentes verdes não terá a “verticalização da política, em que se espera que caciques ou pastores estejam no comando, dizendo o que pode ser feito ou não.” Segundo ele, os encontros promovidos em todo o país formalizarão, aos poucos, um documento que será a oficialização do movimento.

Young, que também deixou o partido no dia 7 de julho, avaliou o movimento que nasceu recentemente como um fluxo e que terá uma direção a ser dada pelo entendimento sobre o que move as pessoas e o que elas querem com “essa nova forma de fazer política”. Para ele, o que move o mundo é o desejo profundo de definir a participação de cada um na sociedade. “Estamos num estágio de escuta. Escutar aquilo que faz sentido às pessoas e o que elas estão buscando”, enfatizou, com ar filosófico.

Nem partidos, nem ONGs

Para Ricardo Young, há algum tempo as pessoas deixaram de acreditar na política tradicional e buscaram espaço na militância ligada a causas, como as ONGs. Porém, mesmo estas organizações deixaram de corresponder às expectativas da nova militância quando se tornaram fiéis demais às causas e deixaram de escutar. “As pessoas hoje não se reconhecem na política tradicional e também não se reconhecem completamente nessas entidades da sociedade civil. Por isso, buscam seus desejos e vontades através das redes”, definiu o ex-verde.