De volta aos trabalhos, Congresso coloca desafio para novo governo

Base maior favorece, mas humor da bancada oscila conforme os projetos apresentados pelo Executivo (Foto: Waldemir Rodrigues/Agência Senado) São Paulo – Durante o turbulento processo eleitoral de 2010, o então […]

Base maior favorece, mas humor da bancada oscila conforme os projetos apresentados pelo Executivo (Foto: Waldemir Rodrigues/Agência Senado)

São Paulo – Durante o turbulento processo eleitoral de 2010, o então presidente Lula expôs publicamente muitas vezes o desejo de que sua sucessora, Dilma Rousseff, contasse com um Congresso mais tranquilo em relação àquele que encarou. Em parte por conta do prestígio presidencial, o anseio virou realidade, pelo menos no papel, nas eleições de outubro passado. A partir desta semana, Dilma conta com uma base aliada um pouco maior, tanto na Câmara quanto no Senado.

Entre os deputados que iniciam seu novo mandato nesta terça-feira (1º), o governo terá o controle inicial de 366 das 512 cadeiras e, entre os senadores, de 52 das 81 vagas. As eleições para as respectivas mesas diretoras desenrolam-se sem criar fissuras. Mas o humor de parlamentares é volátil e há um grupo de tamanho razoável que oscila ao sabor das marés e dos projetos apresentados pelo Executivo.

“Até que ponto o governo vai ser capaz de formar uma base estável no Congresso, que reflita o tamanho da bancada e o sucesso na eleição, é algo que ainda está em aberto”, explica Valeriano Mendes Ferreira Costa, professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Os atritos iniciais na montagem de governo são uma coisa com a qual se deve ter cautela. Esse é um desafio para qualquer presidente, e mesmo Lula, com toda sua habilidade política, teve enorme dificuldade, sobretudo no primeiro mandato”, enfatiza.

Para saber quanto jogo de cintura que Dilma vai necessitar, é preciso ter ideia também de como será a atuação da oposição nos próximos quatro anos. Enfraquecidos pela disputa eleitoral em número de congressistas eleitos, as duas principais siglas, PSDB e DEM, estudam qual estratégia adotar e, aparentemente, podem oscilar da oposição light ao combate ferrenho.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) chega fortalecido às atividades legislativas e, já cogitado como pré-candidato à Presidência da República em 2014, deve ter tribuna livre durante quatro anos para estudar seu discurso. Até aqui, tem mantido uma posição de críticas discretas, mas pode mudar o tom à medida que se apresentem as oportunidades. “O país não foi criado em 2003”, cutucou no fim do ano passado, em referência às conquistas do governo Lula, que sucedeu o tucano Fernando Henrique Cardoso.

João Almeida (PSDB-BA), de saída da liderança de seu partido e da Câmara, adianta que Dilma não goza da mesma popularidade de Lula e que, por isso, ficará mais exposta a ataques. “No geral, na sociedade toda e nos partidos de oposição, havia certa inibição, dada a popularidade enorme dele (Lula). Dá certo receio de atacar. Então, talvez, descuidou-se de certas coisas porque se viu que não tinha efeito, que poderia virar contra o próprio autor (da crítica). A Dilma não vai ter esse favorecimento.”

Se Almeida está de saída, a deputada federal Benedita da Silva (PT-SP) prepara sua chegada pontuando que quem desejar enfrentar a presidente terá uma missão difícil pela frente. A ex-ministra não acredita que haverá cobranças mais duras pelo fato de Dilma ser mulher, mas afirma que, se alguém decidir extrapolar, terá resposta à altura. “Se for pra endurecer discurso e pra cobrar com virulência, vai encontrar uma parada dura. Ela é uma pessoa muito preparada e politicamente qualificada.”

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