Prestes a se tornar PPL, ex-MR8 quer ‘emprestar’ candidatos em 2010

Fundador do Pátria Livre afirma que saída do PMDB depois de 30 anos foi tranquila e que nova sigla quer debater ideias

MR8 ganhou esse nome em 1969, ano em que, juntamente com a ALN, participou do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, solto após a libertação de 13 militantes (acima) (Foto: Reprodução)

São Paulo – O Partido Pátria Livre (PPL) completa no dia 21 deste mês seu primeiro ano. A  sigla, fundada pelos quadros do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), ainda não tem existência formalizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não pode disputar eleições. A tarefa é demorada no país, inclui uma vasta documentação, atualmente em avaliação pelos tribunais regionais eleitorais (TREs) em cada estado. O processo é parte de uma transição que já se arrasta por três décadas.

Os membros do MR8 permaneceram, desde o período da Ditadura Militar, dentro do PMDB, ligados ao grupo do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Hoje, têm um discurso favorável ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com ressalvas ao que consideram excessos de influência estrangeira. Os ativistas consideram que o momento atual do Brasil corresponde às últimas braçadas rumo à independência plena da nação.

Miguel Manso, presidente do diretório estadual e integrante da executiva federal, afirma que o PPL não significa a continuidade do MR8. Ele conta que o debate sobre a fundação de um novo partido durou muito tempo e mesmo a mudança para outra sigla foi cogitada depois da redemocratização.

“Alguns dizem que a gente demorou muito para tomar essa decisão. Mas nós, que viemos dessa experiência política, sabemos da importância da construção coletiva, de se formar ideias, políticas, estratégias, táticas, esgotando a discussão interna”, explica Manso. “A gente se preocupa muito com essa forma de organização”, justifica-se.

A estimativa dos dirigentes do grupo é de que apenas nas eleições municipais de 2012 é que será possível participar. Antes, será necessário recolher de 400 mil a 500 mil assinaturas para, enfim, dar início à nova legenda. Para isso, além dos antigos militantes, foram incorporados ativistas de outras grupos, independentemente da atuação no MR8.

Para este ano, a solução encontrada pelo partido foi “emprestar” alguns de seus integrantes para outros partidos. PT, PPS e PDT foram algumas das legendas que abrigam atualmente candidatos às assembleias legislativas e à Câmara dos Deputados que poderiam migrar, depois de formalizado o PPL.

Sem pretensão de desempenho eleitoral formidável, a expectativa é construir uma pequena base que, depois da fundação formal do PPL, mudaria de partido para defender as posições do partido no Legislativo. O único entrave para que a tática dê certo é que as legendas prejudicadas pela debandada não recorram à Justiça Eleitoral por infidelidade partidária.

Manso ingressou no MR8 em 1975. Ele entende que o Pátria Livre não é apenas para antigos integrantes do grupo revolucionário e demonstra otimismo com o crescimento do número de integrantes, mesmo sem a existência formal.

Na quarta-feira (7), o engenheiro recebeu a Rede Brasil Atual em um escritório da zona sul de São Paulo, quando defendeu o apoio do PPL ao governo Lula e os avanços conseguidos pelo país no último ano.

Ele reiterou, a cada oportunidade, as diretrizes básicas da agremiação: uma linha econômica que reafirme a soberania brasileira no rumo do desenvolvimentismo. “Temos uma perspectiva socialista, uma visão de que no futuro precisamos avançar no sentido de buscar cada vez mais o espírito coletivo no controle da economia, da distribuição da riqueza”, pondera.

Confira a seguir alguns dos principais trechos da entrevista:

Modelo de desenvolvimento

“Primeiro temos de resolver a questão de nosso modelo de desenvolvimento dependente. Ainda é muito garroteado pela presença do capital financeiro internacional, de grandes grupos empresariais e econômicos estrangeiros. Estamos perdendo controle das empresas para grandes grupos estrangeiros. Isso implica legislação, política industrial, política financeira. Preocupa a atuação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que tinha de estar mais atento para a defesa das empresas brasileiras”

Saída do PMDB

“Era uma discussão bem amadurecida. Não é algo que começou há um ou dois anos. Rolou durante algum tempo, com objetivo de encontrar o melhor momento para a formação de um novo partido que expressasse essa política de terminar a fase de emancipação do Brasil. Na nossa visão, a independência começou com Tiradentes e ainda não chegou a seu final. Estamos nas últimas braçadas, mas são aquelas mais difíceis.”

A saída

“A coisa estava tão madura que foi nossa decisão mais unânime – pela primeira vez. Em nossa história tivemos dissidência, rupturas. Achamos que as ideologias e as reflexões nos demais partidos não têm um amadurecimento suficiente, então estamos colaborando para a formação política nacional, para que as ideias possam ser debatidas dentro da sociedade.”

MR8 continua

“Não é o MR8 legalizado, como algumas pessoas pensaram que seria. Não foi assim que o MR8 pensou, não foi assim que propôs. Propusemos a formação de um novo partido. Claro que, como estrutura, tinha um acúmulo, experiência, lideranças, base teórica, uma série de coisas para contribuir para esse novo partido. Hoje me considero tão fundador do PPL quanto os companheiros que têm outra trajetória e que são muito importantes para a formação do partido.”

Apoio ao governo Lula

“Fundamos o partido com um programa baseado no princípio do desenvolvimento nacional com soberania, com independência. O partido não nasceu para apoiar ou para participar dessa ou daquela coalizão. Foi um processo longo de vida política. E houve um processo de mais de um ano de elaboração da comissão organizadora, do estatuto do partido.”

“Claro que, do ponto de vista da situação das alianças atuais, nossa opção – participamos como militantes da eleição para presidente apoiando Lula – foi essa. Foi natural a escolha por manter nossa aliança com o PT, o PDT, os partidos da base aliada.”

Eventual vitória de José Serra

“(Seria) um retrocesso violento. Apesar de todo o esforço que os setores conservadores estão fazendo para passar a imagem do Serra como um nacional-desenvolvimentista, como se não fosse um neoliberal, não foi isso que a gente assistiu durante o governo dele (em São Paulo).”

“A visão de Estado que o Serra tem é muito ruim. A Nossa Caixa, felizmente o Banco do Brasil adquiriu, mas poderia ter sido um outro grupo qualquer. Aquilo que fez no setor de segurança, que está fazendo com os professores… Ele acusa os professores de estarem partidarizando os movimentos, quando na verdade percebo que ele está procurando passar uma ideia de que vai ser uma pessoa firme com os servidores, não vai permitir que o espírito corporativo prejudique o Estado.”

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