Brasil defende corresponsabilidade entre países em relação às drogas

Consumo de crack no Brasil está relacionado ao combate ao uso da cocaína, diz diretor da PF

Rio de Janeiro – O combate ao tráfico de drogas e entorpecentes deve ser trabalhado a partir do conceito da corresponsabilidade entre os países envolvidos tanto na produção quanto no consumo. Esta foi a proposta apresentada pelo Brasil nesta terça-feira (27) na abertura da 27ª Conferência Mundial Anti-Drogas, a International Drug Enforcement Conference (Idec), que ocorre até a quinta-feira (29), no Rio de Janeiro.

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Luiz Fernando Corrêa, disse que os esforços de cooperação entre países e o combate à lavagem de dinheiro têm se mostrado eficazes contra o tráfico de drogas moderno. “Num mundo que vive cada vez mais interligado, em blocos, todos temos responsabilidades no processo que envolve o tráfico de drogas”, afirmou. Corrêa citou o exemplo da Bolívia, onde o cultivo da folha de coca é considerado legal e faz parte da cultura do país.

“Tudo que se produz na Bolívia vem para o nosso mercado. Então, o problema do crack, dentro desta visão compartilhada, é nosso e da Bolívia. Estamos lá dentro da Bolívia ajudando a reconstruir a capacidade de investigação da polícia deles, transferindo tecnologia nesta área, troca de oficiais de ligação, tudo que nos permita produzir uma inteligência para neutralizar este problema”, disse.

Segundo Corrêa, a nova abordagem é uma atualização de táticas e estratégias frente às mudanças mundiais. “Não estamos negando as atuações anteriores, mas apenas atualizando conceitos, acompanhando as tendências da economia e da política. As transferências e movimentações financeiras, hoje, se fazem virtualmente e não com malotes de dinheiro como eram feitas no passado por organizações criminosas. Isso exige uma atuação rápida e canais rápidos de troca de informações.”

A administradora da Agência de Combate às Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês), Michele Leonhart, disse que a ideia de cooperação sempre fez parte da política norte-americana e que seu país busca treinar policiais de países menos desenvolvidos e também oferecer tecnologias a policiais e a autoridades desses países. “Apenas cerca 4% da heroína do Afeganistão chega aos Estados Unidos. No entanto, temos 80 agentes no Afeganistão combatendo as drogas por lá, já que este é um problema A colaboração é ponto mais importante neste trabalho e é por isso que estamos aqui”, relatou.

Mais de 90 países participam do encontro, que é o maior do mundo sobre o tema. Esta edição está sendo organizada pela Polícia Federal e pela DEA. Michele Leonhart afirmou que a estratégia de combate ao tráfico em seu país é apolítica, mas apontou algumas mudanças de foco nesta nova administração do governo Barack Obama. “No último ano e meio mais ou menos, passamos também a priorizar outros fatores importantes como a prevenção e o enfoque no tratamento médico, como questão de saúde pública”.

No âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Luiz Fernando Corrêa anunciou que já existem convênios para combater o narcotráfico com esta visão de corresponsabilidade. “Estamos enviando a Guiné-Bissau oficiais de ligação para lá e construindo uma academia de polícia que possa, no futuro, servir também de centro de treinamento para os países de língua portuguesa na África. O objetivo é não tratar este país como um “narco-estado” e, sim, tentar recuperar suas estruturas e capacitar as autoridades para que possam dialogar com as agências internacionais”.

Crack e cocaína

As políticas de combate à produção e venda de cocaína geraram o aumento da produção do crack, subproduto da coca que está se tornando uma epidemia no Brasil. “Desde a década de 80, o Brasil implementou a política de controle de insumos, que unidos à matéria prima cria o produto final, como a cocaína”, defendeu Corrêa. “E temos conseguido evitar o encontro da matéria-prima da coca com os insumos. Infelizmente, o crack é sinal de sucesso de política mundial de repressão. E as quadrilhas vão se adequando e o Brasil é onde esse subproduto deságua.”

Corrêa acredita que o enfrentamento ao tráfico de crack só terá êxito se for feito em cooperação com a Bolívia, principal produtora da folha de coca que chega ao Brasil, onde seu cultivo é legal. “Temos que encontrar uma saída democrática junto com a Bolívia para resolver este problema e já estamos realizando acordos de cooperação. Esta conferência também serve para isso”, sugeriu.

A administradora da agência antidrogas dos Estados Unidos, Michele Leonhart, lembrou que o crack chegou a ser uma epidemia nos Estados Unidos no fim da década de 1980 e início dos anos 1990, mas que hoje o problema foi superado. “Esta é uma boa notícia para o Brasil, que pode também superar este problema”. Leonhart disse que os Estados Unidos podem ajudar o Brasil neste sentido por meio de troca de informações e estratégias de combate ao crack desenvolvidas pelo governo norte-americano.

Fonte: Agência Brasil

 

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