Após derrota, partidários de Capriles incendeiam até escolas e postos de saúde

Apoiadores de candidato derrotado na Venezuela também atacaram jornalistas, centros sociais e sedes do partido do presidente eleito, Nicolás Maduro

Caracas – A cidade de Caracas amanheceu em clima de tranquilidade nesta terça-feira (16), após uma noite de protestos de opositores em diferentes cidades venezuelanas. Os manifestantes rejeitavam a proclamação de Nicolás Maduro, eleito com 50,75% dos votos, como presidente do país. Durante a noite, atos de violência, como incêndios provocados em edifícios e assédio a funcionários do governo e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), foram registrados.

O primeiro panelaço teve início no momento em que Maduro era proclamado presidente, durante a tarde, por manifestantes que se reuniram no bairro nobre de Altamira, em Caracas. Acusando o CNE e o governo de “fraude”, apoiadores do opositor Henrique Capriles pediam a recontagem manual de 100% dos boletos de comprovação dos votos registrados em urnas eletrônicas, em respaldo ao pedido do candidato derrotado nas eleições, com 48,98% dos sufrágios. Para a divulgação dos resultados, 54% dos boletos foram contados, segundo estabelece a norma eleitoral.

Às oito da noite no horário local (21h30 de Brasília), opositores se concentraram em diferentes partes do país, atendendo a um pedido de Capriles, que afirmou que “se o CNE pretende fazer como a [cantora] Shakira”, disse, em referência à canção que fala em “cego, surdo, mudo”, “então nos obriga a defender a vontade de nosso povo”. “Peço ao povo venezuelano que faça soar suas panelas, que as façam soar fortemente”, convocou.

Conforme viu a reportagem de Opera Mundi, manifestantes incendiaram grandes quantidades de lixo, formando barricadas nas ruas ao redor da Praça Altamira, um dos principais pontos de concentração do protesto. Na região nobre da capital, opositores também batiam panelas de suas janelas ou buzinavam freneticamente ao passar de carro perto da manifestação.

Pouco tardou para que as manifestações terminassem em atos violentos. A casa da reitora do CNE, Tibisay Lucena, foi cercada por manifestantes, assim como os canais da emissora pública VTV e da multiestatal Telesur. Nos Estados de Aragua, Carabobo, Zulia e Anzoátegui, ataques a postos de saúde localizados em conjuntos residenciais construídos pelo governo para setores de menor poder aquisitivo também foram atacados. Casas do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) foram incendiadas, fato difundido pelo próprio Maduro em uma coletiva de imprensa, no Palácio de Miraflores. Sedes do CNE, mercados de alimentos subsidiados pelo governo e centros de um projeto social de educação pré-escolar também foram assediados pelos manifestantes.

O ex-ministro de Comunicação chavista Andrés Izarra denunciou agressões contra sua família: “Hordas fascistas opositoras tentaram queimar a casa de meu pai”, escreveu em sua conta de Twitter. “Agrediram meu pai e sua família em seu lar. Ele e sua família estão escondidos protegendo suas vistas”, denunciou, responsabilizando Capriles e seu partido, Primeiro Justiça, sobre futuros atos de violência contra seus parentes.

Segundo a agência oficial de noticias do país, pelo menos três jornalistas que cobriam os protestos foram agredidos por manifestantes. De acordo com o Sibci (Sistema Bolivariano de Comunicação e Informação), a onda de violência deixou quatro mortos e destroços no país. Mesmo frente ao crescimento da violência, o canal privado opositor Globovisión se esquivou da cobertura dos incidentes. O candidato opositor, que havia pedido que o protesto fosse pacífico, não se pronunciou durante os atos de violência para tentar conter seus seguidores.

O dirigente Leopoldo López, integrante da aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), que lançou Capriles como candidato à Presidência, atualizou sua conta na rede social durante os incidentes. Em vez de pedir calma aos manifestantes, o político qualificou Maduro como “ilegítimo usurpador”, “covarde”, e denunciou “perseguição do governo” contra si. “Não tenho nada que temer! Estamos defendendo a vontade popular e os direitos de todos os venezuelanos”, escreveu. 

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