Análise: Venezuela tem estabilidade política e desafios econômicos

Coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp afirma que Nicolás Maduro não centralizará o poder como fazia Chávez

Ayerbe avalia que a oposição a Chávez deve recrudescer a posição, mas Maduro, com o respaldo recebido de Chávez, deve vencer as novas eleições (Foto: Arquivo Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, Luis Fernando Ayerbe avalia que a morte do presidente Hugo Chávez não provocará fortes abalos na estabilidade política e econômica da Venezuela. O país, segundo o professor, deverá navegar em águas relativamente tranquilas nos próximos anos. No plano político, certamente enfrentará um natural recrudescimento da oposição antichavista, mas deverá vencer as novas eleições. Na economia, o próximo presidente terá alguns desafios a superar, mas estará à frente de uma Venezuela que, no geral, vive bom momento econômico e poderá se abrir ainda mais ao continente se consolidar o processo de adesão ao Mercosul.

“Do ponto de vista político, tudo indica que haverá continuidade. Nas eleições que serão marcadas trinta dias a partir do anúncio oficial da Corte Suprema, o Nicolás Maduro, nome indicado pelo próprio Chávez, tem todas as condições de ser eleito. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) aparentemente continuará no poder pelo menos pelos próximos seis anos”, diz Ayerbe.

Mudanças internas, no entanto, deverão ocorrer, até porque Maduro, mesmo na presidência, terá de dividir prestígio e poder com outras figuras de proa do regime chavista, como o presidente do Congresso, Diosdado Cabello, e o ex-chanceler Elias Jaua. “Certamente, sem a figura de Chávez, algo mudará. Chávez tinha uma característica muito concentradora do poder. Ou seja, o processo decisório dependia muito de sua iniciativa, era um líder que tinha bastante unanimidade interna. Maduro não é alguém que tenha esse perfil e também não é uma unanimidade total dentro do partido”, diz o professor.

Na economia, segundo Ayerbe, “existem desafios importantes” que deverão ser enfrentados pelo próximo governo venezuelano: “A inflação é um desses desafios, o desabastecimento é outro. Também é preciso fortalecer a indústria do petróleo”, diz.

“O próximo governo terá esses desafios econômicos, mas, por outro lado, não terá a mesma capacidade de liderança que tinha Hugo Chávez. Fica em aberto como Maduro vai responder e como o partido vai responder a esse novo cenário. Aparentemente, há plenas condições políticas de levar adiante o projeto bolivariano”, continua o professor da Unesp.

O processo de integração econômica da Venezuela com o continente sul-americano, segundo Ayerbe, também não deverá sofrer mudanças significativas: “O cenário externo da Venezuela é favorável, principalmente na América do Sul. Tinha problemas com a Colômbia que já tiveram solução encaminhada”, diz.

O Mercosul será um importante ponto de apoio para o novo governo: “A entrada no Mercosul certamente foi boa para a Venezuela sob o ponto de vista político. Sob o ponto de vista econômico, a entrada da Venezuela foi boa para o Mercosul, pois o país tem um grande mercado e é um grande importador. Sempre se colocou a questão de como a Venezuela se adaptaria a uma série de regras e mecanismos do Mercosul – ela tem um prazo para se adaptar – mas Maduro terá o respaldo político dos países do bloco”, diz Ayerbe.

No que diz respeito à relação com os Estados Unidos, a aposta de Ayerbe é em uma gradual volta à normalidade, processo que já havia sido iniciado pelo próprio Chávez, apesar de Maduro ter determinado hoje a expulsão de diplomatas norte-americanos e ter acusado o governo dos EUA de provocar a doença que matou o ex-presidente: “Independentemente dos episódios de hoje, onde ainda precisa ser esclarecido o que houve de fato, as relações entre os dois países continuará um processo de distensão”.

“Desde dezembro, com autorização de Chávez, começaram as negociações com o governo dos Estados Unidos em termos de normalizar as relações entre os dois países. Acredito que, nesse aspecto, deverá haver uma melhora paulatina. Não creio que se repita o que foi o governo de Chávez alguns anos atrás. Acho que a relação do segundo mandato de Barack Obama com esse novo governo que se constituiu na Venezuela será de paulatina normalização. Inclusive, porque os dois países têm fortes relações econômicas”, conclui o professor da Unesp.

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