Ao finalizar campanha, Correa pede maioria no congresso para ‘sepultar’ oposição

Companheiro de chapa do presidente equatoriano promete que governo não descansará até transformar a matriz produtiva do país e alcançar o desenvolvimento

Rafael Correa (dir.) e Jorge Glas formam chapa que deve ser eleita no primeiro turno para governo o Equador por mais quatro anos (Foto: Tadeu Breda/RBA)

Quito – O presidente equatoriano Rafael Correa está convencido de que vencerá as eleições do próximo domingo (17) e conseguirá mais quatro anos de governo. Todas as pesquisas de opinião realizadas até agora lhe dão mais de 47% dos votos e uma vantagem maior do que dez pontos – o que, segundo as leis equatorianas, resolveria a peleja logo no primeiro turno. A última sondagem, divulgada dia 7 pelo instituto Perfiles de Opinión, dá 61% do presidente.

Talvez por isso, durante o encerramento de sua campanha ontem (14) em Quito, Correa tenha dedicado a maior parte do comício em promover os candidatos de seu partido, Alianza País, à Assembleia Nacional. Um a um, todos os que estavam presentes foram apresentados aos militantes que abarrotaram uma praça no sul da cidade com bandeiras e faixas verde-limão em apoio à revolução cidadã – nome com que Correa batizou as transformações que vem executando no país desde 2006, quando foi eleito pela primeira vez.

“Não me deixem sozinho”, exclamou, com a voz já rouca depois de seis semanas de campanha, para qual pediu uma licença do cargo de presidente. “Preciso desses companheiros na Assembleia, preciso de uma maioria contundente para fazer com que esta revolução seja irreversível.” A cada pequeno discurso, Correa repetia o bordão “Tudo, tudinho 35”, em referência ao número de seu partido na cédula eleitoral: foi a maneira encontrada pelo marketing da campanha para que os eleitores votassem na Alianza País para todos os cargos em disputa.

Sepultar a oposição

O presidente pretende conseguir o maior número de assembleístas para “sepultar” a oposição nas urnas. “Apoiem-me para seguir transformando o país”, rogou. “Não permitam que essa oposição golpista siga conspirando e tentando desestabilizar nosso governo, nos insultando covardemente protegidos por uma suposta imunidade parlamentar. Não deixem que continuem obstruindo as leis que trarão coisas boas para o povo.”

Rafael Correa lembrou a tentativa de golpe de Estado que sofreu em 30 de setembro de 2010, quando uma rebelião policial orquestrada em Quito e Guayaquil, com apoio de alguns setores das forças armadas, quase acaba em magnicídio depois que o mandatário foi pessoalmente ao quartel ordenar que os soldados voltassem ao trabalho. “É proibido esquecer”, recordou. “Toda a oposição, desde a direita mais radical até a suposta esquerda, unidas, apoiaram os poucos maus policiais que assassinavam o povo nas ruas. E depois pediram anistia aos assassinos. Basta! Não temos oposição democrática neste país.”

O presidente alertou que a revolução cidadão ainda não é irreversível e anunciou que os partidários da Alianza País estão se mobilizando em todas as províncias para monitorar a apuração. A Rede Brasil Atual apurou que nenhum dos principais candidatos à presidência parece tranquilo quanto à transparência do trabalho realizado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Cada um à sua maneira, e seguindo os próprios interesses, todos têm colocado algum tipo de dúvida sobre a legitimidade do processo. Enquanto a oposição denuncia que todos os funcionários do CNE são amigos do presidente, Rafael Correa afirmou que setores do que ele chama de “partidocracia” ainda estão infiltrados no órgão e podem lançar mão das “velhas artimanhas” para burlar os resultados. Portanto, ninguém deveria se surpreender com eventuais denúncias de fraude na noite do domingo.

Desenvolvimentismo

Quem deu mais indícios dos rumos que o Equador deverá seguir caso Alianza País vença as eleições foi o candidato a vice-presidente, Jorge Glas. “Devemos recordar o passado vergonhoso quando não nos chegavam nem 80 de cada 100 barris de petróleo, quando não tínhamos energia elétrica própria e comprávamos dos países vizinhos”, bradou, citando as principais conquistas do governo em infraestrutura e direitos sociais. “Tivemos que começar uma revolução cidadã para que nosso petróleo se convertesse em estradas, pontes, portos e aeroportos para o povo.”

Caso vençam as eleições, Glas ficará encarregado de cuidar dos assuntos estratégicos do país nos próximos quatro anos. E, durante o encerramento da campanha, o companheiro de chapa de Correa anunciou que o governo não descansará até que o Equador se transforme numa nação desenvolvida. “Fizemos muito, espalhamos 11.000 quilômetros de fibras óticas pelo país, conectamos 5 mil escolas à internet de alta velocidade, melhoramos radicalmente a saúde, estamos construindo uma universidade na Amazônia, mas o melhor ainda está por vir”, ponderou. “Falta o mais importante: transformar nossa matriz produtiva e construir um Equador industrializado, com refinarias, petroquímicas, metalúrgicas e siderúrgicas.”

Jorge Glas insistiu, porém, que nada disso será conquistado sem talento humano. E Rafael Correa tomou o microfone para complementá-lo. “As estradas e as pontes podem ser destruídas, mas com gente capaz podemos reconstruí-las”, disse. “Os países com talento humano, ciência e tecnologia fizeram florescer os desertos. Muitas nações latino-americanas, por carecer de conhecimento, desertificaram os jardins mais floridos.”

Um divisor de águas no Equador e no continente
O Equador é um dos únicos dois países da América do Sul, junto com o Chile, que não faz fronteira com o Brasil. Mas também é tocado pela floresta amazônica, além de ser cruzado pela cordilheira dos Andes, banhado pelo Pacífico e ter o privilégio de administrar as Ilhas Galápagos. Essa paisagem diversificada, concentrada num território pouco maior que o estado de São Paulo (283 mil km2), faz com que o Equador seja um dos países de maior biodiversidade do mundo. 
Aqui habitam 15 milhões de pessoas. A maior cidade é Guayaquil, com 2,4 milhões, seguida pela capital Quito, com 2,2 milhões. Seis milhões de equatorianos vivem na zona rural, dos quais 40% em condições de pobreza. Os indígenas são 10% da população e suas entidades formam o movimento social mais importante do país. A economia é fortemente baseada no petróleo. Diferente do Brasil, porém, o petróleo equatoriano se encontra na região amazônica, o que tem trazido problemas ambientais à floresta e seus habitantes. De acordo com estudos geológicos, as reservas do país começarão a minguar em cerca de 25 anos. Isso fez com que o presidente Rafael Correa começasse a abrir as portas do país à mineração industrial, também prioritariamente na Amazônia.
Após seis anos de governo, Correa é favorito para ganhar nas eleições no próximo domingo (17) mais quatro anos de mandato. Seu favoritismo se deve à aprovação de uma nova Constituição, em 2008, além de amplas reformas realizadas por sua administração nos sistemas de saúde, seguridade social, educação e infraestrutura do país. A taxa de desemprego atual beira os 6%. 
Em resumo, Correa foi o primeiro presidente em décadas a investir o dinheiro obtido com a exportação de petróleo em programas sociais e na redução das desigualdades. As eleições do domingo serão o nono processo de consulta pública, entre referendos e eleições, a que se submete o presidente e seu partido. Até agora, venceu todos.
Sua reeleição representará uma continuidade aos processos de integração na América Latina, e ganhará relevância agora que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, maior entusiasta da chamada “Pátria Grande”, ainda luta contra um câncer e não se sabe se resistirá ao tratamento que realiza em Cuba há pouco mais de dois meses. Sua vitória significa a permanência do Equador em iniciativas como a Aliança Bolivariana para as Américas, Alba, na União de Nações Sul-Americanas, Unasul, e a disposição do país em ingressar para o Mercosul.

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