Após onda de suicídios, governo espanhol repensa política de despejos

Mariano Rajoy garantiu que novas medidas vão facilitar a renegociação da dívida hipotecária

As autoridades espanholas asseguraram que vão modificar o processo de despejos no país com diversas medidas para facilitar a renegociação das dívidas do imóvel e para evitar o desalojamento da população afetada. A decisão veio depois do suicídio de três espanhóis, nas últimas semanas, que ficaram desesperados com a notícia do despejo e de uma intensa mobilização social.

O drama dos despejos – por descumprimento de obrigações contratuais por parte dos titulares de imóveis com bancos – é um dos aspectos da grave crise social pela qual passa a Espanha. Apesar de a cifra oficial ser desconhecida, se calcula que cerca de 350 mil execuções hipotecárias foram concluídas desde o início da crise imobiliária no país. Atualmente, estarão em curso outras 200 mil ações que poderão levar ao despejo de famílias inteiras.

Na manhã desta sexta-feira (09/11), uma mulher cometeu suicídio na cidade de Barakaldo, no norte do país. Amaia Egaña, de 53 anos, se jogou da janela do quarto andar do prédio onde morava após receber a notícia de que seria desalojada por não estar em dia com as contas do financiamento. No dia 25 de outubro, horas antes de ser despejado de sua casa (hipotecada no valor de 240 mil euros), um homem de 54 anos também decidiu se suicidar. No dia seguinte, outro homem também tirou sua própria vida quando seria desalojado de sua residência em Valencia.

A trágica história destes espanhóis e de muitos outros que perderam as suas casas por conta de dívidas bancárias comoveu a sociedade do país que se organizou para evitar novos despejos. “Hoje, isso foi aqui, mas amanhã será em outro lugar”, disse o vizinho de Amaia. “O governo tem de tomar medidas. Isso não pode continuar”.

Membros da Plataforma de Afetados pela Hipoteca, grupo vinculado ao movimento 15-M, ocuparam bancos para paralisar a cobrança das dívidas hipotecárias e paralisar o despejo. A plataforma Stop Desajuicios (Parem os Desalojamentos) convocou uma manifestação em Barakaldo nesta sexta (10) em frente à moradia de Amaia. O protesto reuniu mais de 8 mil pessoas que gritaram: “Amaia, lembramos de você”, “Não é um suicídio, é um homicídio”, “Isso é terrorismo de Estado e dos banqueiros” e “Nenhum desalojamento ficará sem resposta”.

Reação do governo

Por conta da crescente pressão social e do agravamento do problema da cobrança da dívida, o governo espanhol convocou uma reunião de emergência na tarde de sexta-feira (09). Integrantes do Ministério da Economia e a vice-presidente do governo, Soraya Sáenz de Santamaría do PP (Partido Popular), decidiram realizar modificações sobre os períodos de carência para evitar o despejo de famílias.

O chefe do governo, Mariano Rajoy do PP, garantiu que as novas medidas para conter o desalojamento terão início na próxima segunda-feira (12/11). Em encontro com 700 pessoas na cidade catalã de Lérida, o presidente afirmou que o pacote de medidas vai facilitar “a renegociação da dívida e mesmo quando isto não for possível, vai permitir a permanência nas residências”. 

O partido da oposição, PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), organizou neste sábado (10) uma reunião entre especialistas que devem trabalhar em conjunto com o governo na elaboração da nova lei. O secretário-geral do partido, Alfredo Pérez Rubalcaba, solicitou “a paralização de todos os procedimentos de despejos em curso até haver uma regulação sobre o tema”. 

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