OEA convoca chanceleres para discutir ameaças do Reino Unido ao Equador

Organização dos Estados Americanos é o terceiro fórum diplomático regional a discutir asilo concedido pelo Equador ao criador do WikiLeaks. Unasul e Alba se reúnem neste fim de semana

Apenas EUA, Canadá e Trinidad Tobago se opuseram à reunião de ministros para discutir o impasse diplomático (Foto: Juan Manuel Herrera/OAS)

São Paulo – O conselho permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou para a próxima sexta-feira (24) uma reunião extraordinária em Washington com a presença dos chanceleres dos 35 países-membros do grupo para discutir as ameaças feitas pelo Reino Unido de que, se fosse preciso, invadiria a embaixada do Equador em Londres para deter o criador do WikiLeaks, Julian Assange, e extraditá-lo à Suécia.

Também hoje (17), o presidente do Equador, Rafael Correa, foi a público para comentar pela primeira vez o asilo concedido por seu governo ao fundador do WikiLeaks e os problemas diplomáticos que a decisão vem ocasionando. “O fator fundamental pelo qual se deu o asilo diplomático a Julian Assange é que não foi garantida sua não extradição a um terceiro país”, expressou. “Jamais quisemos tentar interromper as investigações da justiça sueca sobre um suposto delito, jamais.”

“Vocês devem estar conscientes de que existe uma base legal no Reino Unido – a Lei sobre Instalações Diplomáticas e Consulares de 1987 – que nos permitiria tomar ações para prender o sr. Assange nas instalações da embaixada”, diz o documento enviado pelo governo britânico à diplomacia equatoriana na última terça-feira. “Sinceramente, esperamos não ter de chegar a esse ponto, mas se vocês não podem resolver o assunto, esta é uma opção válida para nós.”

O tom do comunicado irritou o governo do Equador, que, por meio de sua delegação na OEA, propôs aos demais países do continente americano uma reunião de chanceleres para discutir uma possível violação da embaixada equatoriana pelas autoridades britânicas. Após dois dias de discussões, a proposta foi aceita pela maioria dos embaixadores da região por configurar-se um atentado à Convenção de Viena, assinada pela comunidade em 1961 para garantir, entre outros direitos, a imunidade das instalações diplomáticas em todo o mundo.

“As acusações de que o Reino Unidos estava prestes a invadir a embaixada do Equador não têm qualquer fundamento”, defendeu Philip Barton, observador britânico no conselho permanente da OEA, para quem a decisão do governo equatoriano em circular o que era uma notificação privada acabou provocando confusão e tirando as frases de contexto. “A concessão de asilo ao Julian Assange não anula as obrigações legais do Reino Unido, que é extraditá-lo.”

Os embaixadores dos Estados Unidos, Canadá e Trinidad Tobago foram os únicos que se opuseram à realização de uma reunião dos ministros de relações exteriores da OEA para discutir o assunto, pois acreditam que se trata de uma questão bilateral envolvendo equatorianos e britânicos. A representação canadense lembra ainda que o Reino Unido não faz parte da OEA e que, por isso, não há razões para o grupo imiscuir-se na peleja diplomática.

“Se ainda agora prevalece essa mentalidade de ameaçar uma embaixada, a embaixada do Equador em Londres, se equivocam”, rebateu hoje o presidente da Bolívia, Evo Morales, durante ato no departamento de Pando, segundo informou a Agência EFE. “Essa ameaça, essa agressão não é apenas ao Equador, mas à Bolívia, à América do Sul e a toda América Latina.”

A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) irá reunir seus ministros de relações exteriores no próximo domingo (19) na cidade equatoriana de Guayaquil para discutir o caso. O Brasil será representado pelo subsecretário-geral para América do Sul, Central e Caribe, Antonio Simões. A Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), coalização formada por Venezuela, Equador, Bolívia, Cuba e Nicarágua, República Dominicana, San Vicente e Granadinas e Antigua e Barbuda, também se encontrará em Guayaquil, mas no sábado (18).

Famoso por ter facilitado o vazamento de documentos diplomáticos dos Estados Unidos no final de 2010 através de seu saite, WikiLeaks, Julian Assange teme que sua extradição à Suécia, onde será investigado sobre crimes sexuais, seja apenas uma escala rumo aos tribunais norte-americanos. O ativista não acredita que será submetido a um julgamento justo e prevê que, uma vez enviado aos Estados Unidos, sua vida estaria em sério risco.

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