Prisões revelam laços entre empresários e ditadura na Argentina

Sete ex-militares e policiais foram detidos na província de Jujuy, norte do país. Empresário é acusado de ceder veículos para operativo da repressão que sequestrou 400 pessoas em 1976: 30 continuam desaparecidas

São Paulo – A Justiça argentina decretou ontem (31) a prisão preventiva de sete ex-militares e policiais acusados de sequestrar, torturar e desaparecer com os corpos de seis militantes do Partido Comunista durante a ditadura (1976-1983). A ação repressiva ocorreu na localidade de Tumbaya, província de Jujuy, norte do país, durante os primeiros meses do regime – e oferece evidências da parceria entre empresários e militares para a eliminação de opositores políticos.

De acordo o diário Página 12, a reativação dos processos que apuram crimes de lesa-humanidade tem levado esperança aos defensores dos direitos humanos na província de Jujuy. Principalmente após a Justiça ter intimado o empresário Pedro Blaquier para prestar esclarecimentos sobre sua suposta colaboração com o regime, que, em sete anos, assassinou cerca de 30 mil pessoas, incluindo crianças e idosos. Os militares assumem responsabilidade sobre 8 mil mortes.

Blaquier é acusado de apoiar uma operação que sequestrou 400 pessoas em julho de 1976: 30 permanecem desaparecidas. Os sobreviventes alegam ter sido transportados em veículos da empresa de Blaquier, Engenhos Ledesma. A companhia nega envolvimento de seu presidente no episódio, que ficou conhecido como Noite do Apagão, e diz que Blaquier está com a saúde debilitada: tem 84 anos e sofre de problemas cardíacos e pulmonares.

Por isso, a Justiça ainda não decidiu se o empresário poderá depor. O simples fato de ter sido intimado, porém, já é uma vitória para quem perdeu filhos e amigos durante o regime. “Esse interrogatório será histórico, não apenas porque permitirá elucidar uma das causas mais emblemáticas de direitos humanos em Jujuy, mas também porque permitirá revelar os laços entre o poder econômico e os repressores”, analisa Inés Peña, presidenta da Mães e Familiares de Presos Desaparecidos de Jujuy. “O poder econômico também foi a ditadura.”

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