Videla: até 8 mil mortos pela ditadura argentina para ‘combater a subversão’

Em relato para livro, ex-ditador admite que era 'preciso' eliminar grande número de pessoas que não poderiam ser levadas a julgamento nem fuziladas

São Paulo – O ex-presidente (1976-1981) Jorge Rafael Videla admitiu que a ditadura argentina matou de 7 mil a 8 mil pessoas e que os restos mortais desapareceram para não provocar protestos dentro e fora do país. As declarações foram feitas durante 20 horas de entrevistas ao jornalista Ceferino Reato para o livro “Disposición Final, a confissão de Videla sobre os desparecidos”, prestes a ser lançado. Segundo o ex-ditador, “disposição final” era uma expressão usada entre os militares, com o sentido de se desfazer de algo que não serve mais.

“Não havia outra solução; (na cúpula militar) estávamos de acordo que era o preço a pagar para ganhar a guerra contra a subversão, e necessitávamos que isso não fosse evidente, para que a sociedade não se desse conta. Era preciso eliminar um grande número de pessoas que não podiam ser levadas a julgamento nem tampouco fuziladas”, disse Videla. O ex-ditador foi entrevistado de outubro de 2011 a março deste ano em uma cela da prisão federal de Campo de Mayo.

Ele também reconheceu que fez desaparecer corpos de pessoas mortas durante tiroteio. Caso de Mario Santucho, chefe do Exército Revolucionário do Povo (ERP). “Era uma pessoa que provocava expectativas. A aparição desse corpo daria lugar a homenagens, celebrações.”

O livro inclui testemunhos de outros líderes militares, além de guerrilheiros, políticos e sindicalistas. Ainda antes do golpe de 24 março de 1976, quando os militares tomaram o poder, o país já teria sido “dividido” em cinco áreas, com chefes em cada territórios, responsáveis por elaborar listas de pessoas que deveriam ser detidas imediatamente após a deposição de Isabelita Perón. As listas incluíam “líderes sociais”, “subversivos”. Foram feitas por serviços de inteligência, mas também por empresários, executivos, políticos e sindicalistas, entre outros.

“Digamos que eram 7 mil ou 8 mil as pessoas que deviam morrer para ganhar a guerra contra a subversão”, declarou Videla. Segundo ele, não existem listas com o destino final dos desaparecidos. “Nosso objetivo era discipinar uma sociedade anarquizada”, disse o general, que no final afirmou aceitar a vontade divina. “Deus sabe o que faz, por que o faz e para que o faz. Acredito que Deus nunca me largou a mão.”

Organizações de direitos humanos estimam em 30 mil o número de desaparecidos durante a ditadura argentina. 

Com informações do jornal La Nación