Humala: “Há clara intervenção de García a favor do projeto autoritário de Fujimori”

Candidato à presidência do Peru demonstra confiança para equilibrada votação deste domingo e admite ter de ceder em parte de sua agenda em troca de governabilidade

Uma das principais bandeiras de Keiko Fujimori é colocar em liberdade o pai, Alberto, responsável por uma série de violações (Foto: Enrique Castro-Mendivil. Reuters)

São Paulo – As eleições peruanas deste domingo (5) transcorrerão sob clima de grande incerteza. O total equilíbrio entre os candidatos Ollanta Humala e Keiko Fujimori demonstrado por diversas pesquisas de opinião não deixa espaço para arriscar um favorito. O político nacionalista, no entanto, parece ser um dos poucos que não alimentam dúvidas. “Vou ganhar”, afirma em entrevista ao jornal argentino Página12.

Tanta confiança não se vê abalada nem mesmo pelas suspeitas, cada vez mais próximas de confirmação, de que o presidente Alan García colocou a máquina do Estado a favor da oponente. Escutas telefônicas de Humala e de seus familiares vazaram esta semana, no último episódio de uma campanha marcada por baixo nível e boataria. “Há uma clara intervenção do presidente García a favor do projeto autoritário de Keiko Fujimori”, dispara Humala.

A campanha foi marcada também pelo abrandamento das posições do político. Ele se afastou de Hugo Chávez, rechaçando qualquer declaração do presidente da Venezuela, e passou a apostar no modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. No primeiro turno, publicou a “Carta de Lima”, nos mesmos moldes de “Carta ao povo brasileiro”, um compromisso assumido com a estabilidade econômica e a manutenção das parcerias com o setor privado.

“Do Brasil há que se resgatar o modelo prudente, adequado da política econômica, e um crescimento econômico que permitiu a inclusão social”, afirma o candidato. Inclusão social, por sinal, é o mote de seu eventual governo. 

Sem maioria no Congresso, ele aposta na aliança com o partido Peru Posible, do ex-presidente conservador Alejandro Toledo, para governar. Questionado sobre se isso significa ceder em parte de suas propostas ideológicas em prol da governabilidade, Humala evita falar quais pontos cairão por terra, preferindo indicar aquilo que não se verá afetado. “No que não vamos retroceder é em fazer com que o crescimento econômico seja acompanhado por inclusão social.”

A respeito da oponente, Keiko, ele lembra que a grande proposta de campanha dela é dar anistia ao pai, preso por inúmeras violações aos direitos humanos, e garante que, se eleito, vai acabar com os privilégios de que goza Fujimori no quartel militar em que está detido. “Ela leva consigo as mesmas pessoas que governaram com seu pai. Com ela está o doutor Aguinaga, que fazendo-nos recordar a época da Alemanha nazista, como ministro de Saúde de Fujimori esterilizava as mulheres a contragosto.”

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