Ao assumir FAO, Graziano critica monopólio sobre sementes no mundo

Novo diretor da agência da ONU contra a fome critica aumento de preços de alimentos

São Paulo – Ao assumir o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva fez críticas aos mercados financeiros e ao monopólio sobre as sementes no mundo. Apesar disso, ele evitou críticas aos transgênicos e à aplicação de biotecnologia para o suprimento de alimentos.

Em discurso nesta segunda-feira (27), ele lamentou que poucas empresas multinacionais tenham adquirido o controle sobre a venda de sementes. Apesar de considerar que se trata de “um bem da humanidade”, Graziano disse que “a biotecnologia é uma ciência importante e não pode ser descartada a priori”.

Embora o diretor não tenha mencionado nenhuma companhia especificamente, Monsanto, DuPont, Syngenta e Dow Chemical Company concentram metade do mercado de semente no mundo. Considerando-se as geneticamente modificadas, as líderes detêm 95% das patentes.

Graziano pediu ainda urgência no trato da inflação internacional que acomete os alimentos, que ele qualificou como o “pior aumento” provocado pela atividade de especuladores. Segundo Graziano, a instabilidade de preços nas commodities agrículas tem impactos graves no combate à fome.

“É preciso chegar a uma estabilização dos mercados financeiros internacionais, caso contrário haverá reflexos sobre as cotações das matérias-primas”, afirmou. Ele disse apostar no G20, grupo de 20 países mais industrializados do mundo, incluindo emergentes, para enfrentar a questão.  “Por parte da FAO, posso garantir menores instabilidades”, indicou.

Graziano citou o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de cujo governo ele foi ministro e coordenador do Programa Fome Zero, ao se referir sobre biocombustíveis. O novo diretor da FAO lembrou que, a exemplo do colesterol na saúde humana, “há os que são bons e os ruins”.

O Brasil é um dos líderes mundiais na produção de combustíveis como biodiesel e etanol a partir da cana-de-açúcar. A alternativa a derivados do petróleo sofre críticas por representar riscos de insegurança alimentar, na medida em que grandes áreas precisam ser destinadas ao plantio de determinadas culturas.

“A cana de açúcar produzida, por exemplo, no Brasil para o etanol não entra em competição com a produção de grãos e não tem impactos ambientais”, defendeu. A posição é adotada pelo governo brasileiro, interessado na expansão do setor agrícola. Em relação ao risco de a cana contribuir para o desmatamento da Amazônia, Graziano frisou que a maioria das áreas de plantio estão tão distantes da região de florestal como “o Vaticano do Kremlin”.

Eleito no domingo, na 37ª sessão da FAO, em Roma, sede da agência, o brasileiro teve a seu lado 92 dos 180 países-membro no segundo turno. Ele venceu Minguel Angel Moratinos, ex-chanceler espanhol, por quatro votos. Apesar da divisão entre países emergentes e pobres, apoiando Graziano, contra os europeus, que preferiam o espanhol, o novo diretor prometeu transparência e uma condução democrática do organismo. “Os países do norte não são contra mim”, esquivou-se Graziano.

Entre os desafios colocados para a gestão de Graziano estão a continuidade das mudanças na FAO. Lideranças ligadas a produtores agropecuários defendem que a agência da ONU seja mais ativa no fomento à produção. Ativistas e movimentos sociais defendem que a preocupação mantenha-se na busca por segurança alimentar. Há ainda divergências até sobre o caráter do órgão, se deve definir normas para a produção e comercialização de alimentos ou se concentrar em assistência técnica.

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