Obama ‘ofereceu’ presos de Guantánamo a Brasil e Argentina, diz jornal

Notícia é divulgada no mesmo momento em que OEA lamenta novas denúncias de violações de direitos humanos e lembra que já pediu várias vezes que os Estados Unidos fechem a prisão

Intenção do governo Obama era assegurar o fechamento da prisão estadunidense na ilha de Cuba (Foto: David P. Coleman/Divulgação Depto. Defesa EUA)

São Paulo – O governo dos Estados Unidos pediu a Brasil, Argentina e Chile que recebessem os presos de Guantánamo. Segundo telegramas vazadas pelo Wikileaks, a chefe do Departamento de Estado, Hillary Clinton, tentou negociar diretamente a transferência, que não avançou em nenhum dos casos.

A intenção era assegurar o fechamento da prisão estadunidense na ilha de Cuba, uma das promessas centrais da campanha de Barack Obama devido às inúmeras denúncias de violações de direitos humanos e de detenções ilegais.

Segundo o jornal Página12, de Buenos Aires, um funcionário da Casa Branca procurou em 2009 o embaixador argentino em Washington, o hoje chanceler Hector Timerman, dizendo atuar em nome de Obama. O presidente queria aproveitar os anseios de mudança despertados por sua chegada ao comando para obter de parte da comunidade internacional gestos de amizade.

“Para nós é muito complicado porque vocês sequestraram essa gente”, respondeu Timerman durante o encontro no Departamento de Estado. “A Justiça é a Justiça e em nosso país se está julgando a militares que fizeram coisas parecidas ao que ocorre em Guantánamo”, advertiu o diplomata, em clara referência às denúncias de prisões realizadas sem qualquer acusação formal.

As negociações, sempre segundo o Página12, envolveram ligações de Hillary Clinton ao então chanceler, Jorge Taiana, para que tudo fosse mantido em sigilo. Houve inclusive o oferecimento de 22 mil dólares anuais para cada preso transferido e a possibilidade de que representantes argentinos viajassem a Guantánamo para entrevistar e selecionar aqueles que mais lhe agradassem, naquilo que o jornal portenho classifica como “cárcere-shopping”.

O governo do país vizinho queria de fato realizar um gesto de boa vontade para com o novo governo, mas não encontrou maneira correta de proceder quanto ao pedido sobre Guantánamo. “Haviam estado detidos de maneira ilegal durante vários anos. Nos pareceu que receber os presos colocava por terra nossa crença de que algo não ia bem”, afirmou Taiana.

Histórico

Nesta sexta-feira (29), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu um comunicado expressando profunda preocupação em torno das novas denúncias sobre violações em Guantánamo. Esta semana surgiram informações que dão conta da prisão de uma pessoa com deficiência mental, uma que sofria de demência senil e um menor de idade.

A CIDH, integrante da Organização dos Estados Americanos (OEA), fez questão de lembrar que fez reiterados pedidos desde 2002 pelo fechamento do centro de detenção. Naquele ano, o órgão pediu que todos os presos fossem avaliados pelo Judiciário, libertando os que estivessem encarcerados ilegalmente. Em 2005 foi feito um pedido por investigações profundas sobre as denúncias de torturas e outros tratamentos cruéis – solicitação reforçada no ano seguinte.

Em 2007, a OEA queria enviar representantes à base, mas retirou o convite após a Casa Branca impor a condição de que o grupo não poderia se comunicar com os detidos. “A Comissão Interamericana reitera sua exortação ao Estado para fechar de imediato este centro de detenção e a investigar, julgar e castigar qualquer instância de tortura”, destaca o comunicado.  

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