Do lado de fora do Teatro Municipal, protestos dão o tom

Apesar de pouca adesão, manifestações contra a presença de Barack Obama fazem barulho na Cinelândia

Manifestantes durante protesto diante do Theatro Municipal do Rio de Janeiro no momento em que o presidente dos EUA, Barack Obama, discursava para convidados. (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)

Rio de Janeiro – Quando a Obamafolia estava sendo preparada, veio o balde d’água: o presidente dos Estados Unidos não faria mais um pronunciamento aberto à população no Centro do Rio. O movimento, que ganhou força no Facebook, ainda tentou manter a programação, mas a folia passou longe da Cinelândia neste domingo (20). Em seu lugar, centenas de manifestantes mostravam seu descontentamento com a presença de Obama no Brasil.

Entidades como Fórum Internacional dos Sem-Teto, Morena, Coletivo Lênin, União da Juventude Rebelião, entre muitos outros, entoaram durante todo o discurso de Obama gritos de ordem em protesto ao ataque à Líbia, à atuação do Brasil no Haiti e ao bloqueio econômico a Cuba. As principais causas dos protestos, no entanto, eram a defesa do petróleo da camada do pré-sal e a libertação dos militantes do PSOL presos na sexta-feira (18) em um protesto na frente do Consulado  dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.

Treze pessoas foram presas depois de um coquetel molotov ser jogado na direção do Consulado. Elas foram acusados de lesão corporal e formação de quadrilha e não têm direito à fiança. “Eles já foram transferidos para presídios, embora ninguém tenha prova alguma que ligue essas pessoas ao coquetel molotov que foi arremessado”, diz Humberto Rodrigues, da Liga Comunista. “Parece que uma das presas é uma senhora que estava passando no local e nem estava protestando. Isso é totalmente autoritário”, afirma.

O interesse dos Estados Unidos nas reservas de petróleo brasileiras também teve destaque. A maior parte das faixas carregadas pelos manifestantes questionava a atuação do governo brasileiro nos leilões do pré-sal. “Supõe-se que haja uma negociação entre Brasil e EUA para a exploração do pré-sal, mas o recurso é nosso e não pode ser vendido”, afirma Samuel José Franco, dirigente do Movimento Nativista. André de Paula, do Fórum Internacional dos Sem-Teto, foi mais duro. “Obama veio roubar nosso petróleo, por isso estamos aqui protestando”, disse.

Houve espaço também para a defesa de uma causa ligada aos policiais. Diversos manifestantes pediam a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300, que equipara a remuneração dos policiais militares em todo o país. “A situação dos policiais é muito grave. O salário inicial no Rio é de R$1.100 apenas. Estamos à beira de um apagão na segurança pública”, defende Nilo Guerreiro, representante dos PMs no Rio. “Um país que vai ter Copa e Olimpíada não pode tratar seus policiais assim.”

Apoio de longe

Nem só de protestos, no entanto, vive a Cinelândia. Rosa de Lima viajou mais de 50 horas entre Sobral (CE) e o Rio de Janeiro para realizar o sonho de ver Obama. “Sou fã dele, ninguém é mais fã que eu”, diz. “Torci muito para ele ganhar a eleição e agora quero ver o Obama de perto”, disse. A mineira Maria Carmem Silva, de 70 anos, que também viajou só para ver o discurso, celebrava a visita do primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. “O país deles tem tanto problema com racismo que a vitória do Obama significa muito”, acredita. Ela quer que o presidente americano ajude o Brasil a conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU. “A presidenta Dilma é um exemplo de pessoa que sofreu tortura e lutou pelos direitos humanos, por isso o Brasil tem que lutar por essa causa no mundo”, diz.

Para Maria Leda Costa, moradora do Rio, Obama representa os ideais de humanidade em que ela acredita. “Brancos e negros têm que estar em união”, afirmava ela, segurando um cartaz com a foto de Martin Luther King.