Mudanças no Egito são boas por alterar relações de poder no mundo, diz analista

Manifestantes com uma bandeira do Egito protestam no Cairo (Foto: Yannis Behrakis/Reuters) São Paulo – Manifestações como a desta terça-feira (1º) no Cairo, capital do Egito, em que um milhão […]

Manifestantes com uma bandeira do Egito protestam no Cairo (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)

São Paulo – Manifestações como a desta terça-feira (1º) no Cairo, capital do Egito, em que um milhão de pessoas protestaram contra o presidente Hosni Mubarak, são o início da mudança política no país, diz Ali El Khatib. O coordenador do Núcleo de Assuntos Árabes da Faculdade de Campinas (Facamp) sustenta que as transformações serão positivas para a região e mesmo para as potências ocidentais, por redefinir relações de poder.

“O que acontece hoje no Egito, aconteceu na Tunísia, com reflexos no Iêmem e na Jordânia, é mais uma vontade popular do mundo árabe, principalmente da juventude, que sofre com a posição ditatorial de seus governos”, resume. Na Tunísia, o presidente Zine El Abidine Ben Ali deixou o país em meados de janeiro, diante de protestos. No Iêmem e na Jordânia, milhares de pessoas participaram de protestos pacíficos no fim do mês passado, com mudanças no governo deste último.

“No caso do Egito, são 30 anos de domínio de um único governante, o Mubarak. O povo cansou pela falta de emprego; 42% vivem abaixo da faixa de miséria. É uma situação insustentável para os países árabes, que na verdade são o berço da civilização, e das grandes religiões monoteístas”, relembra.

El Khatib avalia que a manutenção de Mubarak à frente do país por tanto tempo é explicada pelo apoio dos Estados Unidos e de Israel ao governo. Porém, o prolongamento da crise econômica favoreceu a formação de um cenário propício aos protestos. A proximidade com a Casa Branca é tal, segundo o pesquisador, que o presidente Barack Obama fez apenas manifestações contidas e pouco claras sobre a situação.

“Em seu próprio gabinete (de Obama), não existe um só especialista sobre mundo árabe. Ele está amarrado no que dizer e em que posição tomar”, critica. “Israel também está sem saída, porque dependia muito dos acordos com o Egito. Todas as agências de notícias dizem apenas que Israel gostaria que se mantivesse a tranquilidade do Oriente Médio pela continuidade do governo Mubarak. E o mundo inteiro sabe que não é por aí”, avalia.

Ele acredita que a mudança vai ocorrer por ser necessária e será radical, por envolver setores de toda a população. “A mudança vai ser muito boa para o Oriente Médio, mas também para o Ocidente, porque vai mudar relação de comportamento, de troca e de poderes”, diz El Khatib. “Esta manifestação não é só feita pela Irmandade Muçulmana (grupo apontado pelos EUA como extremista), mas todos os sindicatos estão envolvidos, todas as organizações estudantis”, descreve.

O fato de que o Exército decidiu não reprimir os protestos é um indicativo de que o poder constituído mostra-se amorfo, na visão do pesquisador. Isso porque, ainda segundo ele, é formado por cidadãos também descontentes em sua maioria, fazendo com que os órgãos estatais se comportem de modo solidário ao povo.

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