A cidade de Juazeiro do Norte (CE) espera mais de 400 mil pessoas para a Romaria da Esperança, no feriado de Finados, 2 de novembro. De acordo com Francisco Demontier, assessor de imprensa da prefeitura, a romaria move corações e mentes dos devotos de Padre Cícero. “É um momento muito importante para os devotos. Basta perceber que eles deixam suas famílias e casas e vêm à cidade para celebrar o Padre Cícero”, explica.

A Romaria da Esperança é uma das diversas romarias que lotam a cidade de fé e romeiros. Segundo Demontier, os devotos passam meses economizando e pagando a passagem para participar das romarias em louvor ao padre expulso pela igreja e acolhido pelo povo nordestino.”Padre Cícero é popular e mais do que isso é reverenciado pelo povo”, afirma.

Em média, os romeiros ficam de dois a três dias na cidade num ritual de peregrinação que passa por visitas ao túmulo do padre, ao monumento, à igreja e pela participação em celebrações. Mas também há shows e manifestações culturais para receber os visitantes.

A Romaria da Esperança deste ano promete ser de muita participação popular porque concentra dois marcos históricos: 40 anos de inauguração da estátua da Padre Cícero e 120 anos de seu primeiro milagre. Demondier lembra que tanto o padre como a beata que recebeu a hóstia que se transformou em sangue foram punidos e hostilizados. O milagre de Cícero teria se repetido mais de 100 vezes em dois anos.

De acordo com a pesquisadora Maria Érica de Oliveira Lima, as romarias do Padre Cícero também possuem um caráter festivo e divertido. “Por trás da manifestação religiosa, o povo nordestino também comemora, de maneira lúdica, sua devoção ao santo querido”, afirma.

Reabilitação

Atualmente, a história de Padre Cícero passa por um processo de reabilitação dentro da própria igreja. O bispo da Diocese de Crato, dom Fernando Panico, encaminhou uma petição ao Vaticano argumentando que foi um erro a não aceitação de Padre Cícero, aponta Demontier. “É a primeira vez que um bispo se dedica e reconhece a atuação e o valor de Padre Cícero”, afirma.

Padim-Ciço

Cícero Romão Batista, chamado carinhosamente por muitos de “Padim-Ciço”, nasceu em Crato e chegou a Juazeiro do Norte em 1872, quando a cidade era um pequeno arraial. A partir daí, inicia-se o trabalho pastoral e político de um dos maiores mitos do Nordeste brasileiro, que faleceu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos.

Padre Cícero foi o primeiro prefeito de Juazeiro, depois da emancipação de Crato, em 1911. Era filiado ao Partido Republicano Conservador – PRC. Aos 82 anos de idade foi eleito Deputado Federal, mas nunca assumiu a vaga.

De acordo com Maria Érica, a vida política de Padre Cícero faz parte da religiosidade e da história cultural do Nordeste. Apesar de não ter sido canonizado pela Igreja, é tido como santo por sua imensa legião de fiéis por todo o Nordeste e outras cidades do Brasil. Em 2001, o sacerdote foi eleito cearense do século com quase 1 milhão de votos.