Para José de Abreu, substituto de Ana de Hollanda precisa ser nome que não produza mais atritos

Defensor da troca de comando no Ministério da Cultura, o ator critica falta de flexibilidade na gestão e política que parece 'de um governo de oposição'

Abreu lembra que política do ministério foi aprovada pelo voto, por isso deveria ser mantida pelo ministério (Foto: Encontro de Blogueiros Progressistas)

São Paulo – O ator e ativista da cultura José de Abreu defende a substituição da ministra da Cultura Ana de Hollanda. Ele critica a gestão mantida há quatro meses na pasta, desde o início do governo Dilma Rousseff, por considerar que a condução dos debates rompe com a “continuidade aprovada nas urnas” com a gestão anterior, de Juca Ferreira, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

“A política do ministério foi aprovada pelo voto; o eleitor aprovou o governo Lula e o Ministério da Cultura, que precisaria ser continuado”, sustenta Abreu. “Defendo que se busque um nome que não leve a mais atritos ao ministério”, avalia. Ele acredita que o governo como um todo está indo bem, com exceção do MinC. “Essa troca precisaria ser feita da maneira menos traumática possível”, completa. Há rumores de que a presidenta Dilma Rousseff já estaria estudando a possibilidade de substituir Ana de Hollanda.

Em março, Abreu havia defendido, em entrevista à Rede Brasil Atual, que se desse mais tempo e se tratasse o ministério com mais calma. Ele explica que a retirada de seu apoio à Ana de Hollanda foi uma decisão tomada após muita discussão e agravada pelas denúncias de proximidade entre ela e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), publicada por jornais na terça-feira (3).

“Fiquei muito chateado com o que li no jornal (sobre a ligação com o Ecad), porque a defesa do MinC era de que não havia nenhuma relação, que era loucura”, afirma Abreu. “Mas ninguém é idiota, faço política há 40 anos. O cargo de ministro é político, feito de conversas. Ainda mais em um começo de governo, que tem base aliada e é formado por uma coalizão. Mas ela botou uma linha na cabeça e parece não ter flexibilidade nenhuma”, critica.

Entre os motivos que o levaram a mudar de opinião estão reiteradas demonstrações de falta de flexibilidade da ministra. Ele enumera a retirada do selo Creative Commons do site do ministério – mesmo permanecendo o uso e a menção da plataforma de WordPress e de contas em redes sociais como Flickr –, a defesa intransigente do Ecad, a desautorização de posições defendidas em São Paulo pelo secretário-executivo do MinC, Vitor Ortiz, entre outras. “Fui me dando conta de que não tinha mais como apoiá-la”, reconhece Abreu.

 

Brincadeira

O nome de José de Abreu foi lançado pelo Futepocapara suceder Ana de Hollanda. Com a proposta de um “Ministério da Cultura dionisíaco”, eles defendem as posições bem-humoradas do ator e o compromisso dele com a cultura digital, além de toda a trajetória nas artes cênicas. A campanha foi logo encampada nas em redes sociais.

No Twitter, Abreu entrou no clima da brincadeira: “Assim, com esse programa de governo eu topo! Vou avisar a galera! #ZedeAbreunoMinc“, escreveu.

Durante a entrevista à Rede Brasil Atual, ele não quis sequer comentar a movimentação. “Ah, é só uma brincadeira”, divertiu-se.

“Eu estava achando estranho a gente ter lutado por um governo de continuidade e, justamente na área em que trabalho, isso não estava sendo cumprido. Em alguns pontos, a impressão era de que se tratava de um governo de oposição”, lembra o ator. Antes do rompimento, ele chegou a almoçar com a ministra, em abril, em Brasília, além de dialogar com ativistas da cultura digital e colegas artistas. “Pensei bastante e escrevi um e-mail para ela para apresentar minhas razões e dizer que, a partir daquele momento, eu deixava de apoiá-la”, detalha.

Desmonte

Abreu defende a substituição de Ana de Hollanda, mas alerta que há grupos favoráveis a trocas também nos cargos ocupados por Ortiz e por Antônio Grassi, presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte). É o caso dos articuladores do manifesto endereçado a Dilma Rousseff publicado no Mobiliza Cultura, que atribuem a Grassi parte da responsabilidade pelo que consideram ser o desmonte das políticas promovidas por Gilberto Gil e Juca Ferreira na pasta, nos oito anos anteriores, já que o atual presidente da Funarte foi demitido por Juca Ferreira em 2008, em um processo conturbado. A dispensa teria sido comunicada por e-mail. A falta de zelo foi um dos motivos por que Grassi fez, à época, duras críticas ao MinC. Além disso, o ator tornou-se, então, assessor do governo de Minas Gerais, ainda na gestão do hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG).

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