Cravista lança portal sobre música erudita brasileira Rosana Lanzelotte

Rosana Lanzelotte ao lado dos músicos Caio Marcondes e Luís Leite (Foto: CPFL/Flickr)  Próxima de completar 50 anos, em 23 de junho, Rosana Lanzelotte é uma das principais instrumentistas do […]

Rosana Lanzelotte ao lado dos músicos Caio Marcondes e Luís Leite (Foto: CPFL/Flickr)

 Próxima de completar 50 anos, em 23 de junho, Rosana Lanzelotte é uma das principais instrumentistas do Brasil, com seis CDs de cravo gravados, e é uma grande pesquisadora de música popular brasileira. Em 2009, ela coordenou o “Circuito BNDES Musica Brasilis: de Bach às Bachianas”, que contou com 28 concertos apresentados em igrejas de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Tiradentes e Ouro Preto. Ela também é a idealizadora do portal Musica Brasilis, que disponibiliza partituras, áudio e vídeo de peças musicais de compositores brasileiros, desde o período colonial até a época contemporânea. Atualmente, ela se encontra à frente do espetáculo “1911 – 2011 – Os Bambas da Bela Época”, que faz parte da segunda edição do Circuito BNDES Musica Brasilis. Em entrevista abaixo, a musicista comenta todos esses trabalhos e iniciativas.

Como surgiu o portal Musica Brasilis e qual era o objetivo inicial dele?

Grande parte do patrimônio musical brasileiro está esquecida devido à dificuldade do acesso às partituras. Músicos de todo o mundo, ávidos por tocar e conhecer obras de compositores brasileiros, esbarram no acesso limitado às poucas edições existentes. Musica Brasilis tem como objetivo difundir repertórios musicais brasileiros de todos os tempos através do portal www.musicabrasilis.org.br.Além do acesso a partituras, áudios e vídeos, o portal conta com recursos interativos para ampliar a fruição e o interesse pelos repertórios.

Como está atualmente o portal Musica Brasilis e no que ele pode ser aprimorado?

Hoje o portal oferece mais de 400 obras de 60 compositores brasileiros desde o século XVIII. Trata-se de uma das poucas iniciativas que disponibiliza as obras com partes separadas, de forma a possibilitar a execução. Alinhando-se com a re-introdução do ensino obrigatório de música a partir de 2012, está previsto o desenvolvimento de recursos educacionais abertos voltados aos repertórios brasileiros, para serem utilizados por professores em suas aulas de música. Pretendemos também ampliar a oferta de música de câmara brasileira, pois esse repertório não está no foco de outras iniciativas, como o Banco de Partituras da Academia Brasileira de Música ou a série Criadores da OSESP.

Como surgiu o espetáculo “1911 – 2011 – Os Bambas da Bela Época” e qual a intenção de vocês com ele?

Neste momento estávamos editorando exatamente os repertórios do início do século XX, de Chiquinha Gonzaga, Luciano Gallet, Henrique Oswald. Percebi que havia a coincidência dos 100 anos da opereta “Forrobodó”. E imaginamos um encontro entre todos aqueles talentos contemporâneos de Villa-Lobos. A parte audiovisual trará uma contextualização aos repertórios. Textos dos próprios músicos sobre suas obras, narrados em “off”, complementam o espetáculo, facilitando a apreensão pelo público.

Como foi feita a pesquisa a respeito da música brasileira de 1911 e vocês acreditam que ela permanece atual? Por quê?

Contei com a colaboração preciosa de Manoel Aranha Corrêa do Lago, grande conhecedor desses repertórios. A maior parte das obras está na fronteira entre o clássico e o popular, em um momento em que se estabeleceram padrões que se tornaram a marca registrada de nossa música popular, como a batida 3-3-2. Esse padrão rítmico, de origem africana, está presente na bossa nova e outros gêneros tipicamente brasileiros. Foi empregado pela primeira vez por Villa-Lobos naquele momento, em suas obras “A Viola” e “Kankikis”.

Quais são os compositores mais contemplados no espetáculo? Por quê?

Faremos obras de Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Luciano Gallet, Glauco Velasquez, Henrique Oswald e Francisco Braga, todos atuantes naquele período fértil. Há um cruzamento de influências. A admiração mútua, além da síntese dos estilos clássico e popular, perpassa a produção musical dos sete “bambas”. Chiquinha Gonzaga dedicou o Tango Característico ao “distinto e jovem Francisco Braga”, que respondeu à homenagem com o Tango Capriccioso. O Batuque de Ernesto Nazareth é destinado ao “eminente pianista e compositor Henrique Oswald”, que retorna definitivamente da Europa em 1911, coberto de glórias e honrarias. O mesmo Nazareth saúda o “distinto amigo Villa-Lobos” com o Improviso – Estudo para Concerto. Villa-Lobos, por sua vez, dedica-lhe o Choro nº 1.

Como surgiu seu interesse pelo cravo e qual é a importância dele para a história da música popular brasileira?

Para se tocar cravo, há que ser pesquisador antes de mais nada. Tenho isso no sangue, além da música, cujos genes herdei das famílias de meus pais, onde há compositores e músicos amadores por diversas gerações.

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