Coordenadora admite que governo Alckmin não tem projeto para ensino médio noturno

Responsável por políticas públicas no setor informa intenção de diminuir aulas à noite: 'Não é nosso foco'; Especialista lamenta: 'São exatamente os mais pobres que ficam com o pior ensino'

“O foco é expandir o ensino integral diurno e diminuir as turmas da noite”, afirmou coodenadora da Secretaria de Educação de São Paulo (Foto: Ciete Silvério / Governo do Estado de SP)

São Paulo – A Secretaria de Educação de São Paulo não tem políticas para melhorar a qualidade do ensino médio noturno. O foco dos programas implantados pelo órgão, ao contrário, é ampliar o tempo de permanência na escola e aumentar a nota nas avaliações oficiais apenas das turmas que estudam durante a manhã e a tarde.

“O foco da nossa política pública está em expandir o ensino integral diurno e diminuir as turmas da noite”, afirmou a coordenadora do programa “Educação: Compromisso SP”, Valéria Souza. “O noturno é um resumo do diurno e queremos reduzir a oferta nesse período”.  A declaração foi feita durante o seminário “Ensino Médio em São Paulo: políticas e experiências em debate”, promovido pela organização não governamental Ação Educativa. Valéria Souza é responsável pelo programa que reúne todas as políticas públicas do estado para a área. 

Quem tomou a palavra depois da colocação foi a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Maria Clara Dipiero, especialista em ensino noturno e em Educação de Jovens e Adultos, que assistia ao evento da plateia: “Então o estado não tem uma política para melhorar a qualidade da educação no período noturno?”. A resposta veio em seguida: “Não. Não é nosso foco”.

“Eles [integrantes da Secretaria de Educação] afirmam que ampliando a oferta e a qualidade durante o dia você diminui as turmas da noite, mas isso não é verdade, porque muitos alunos do noturno não estão lá não porque conseguiram vagas, mas porque precisam trabalhar”, afirmou Maria Clara, em entrevista após o debate.

Para a especialista, a decisão do governo privilegia as famílias com maior poder aquisitivo. “É uma postura típica da classe média, que pressupõe que o menino não vai trabalhar enquanto estuda, mas que não enxerga o trabalho também como algo formativo. É por meio dele, inclusive, que os jovens mais pobres conseguem acessar e usufruir da vida cultural da cidade”, afirma. “Isso não faz sentido: são exatamente os mais pobres, os que precisam trabalhar, que ficam com o pior ensino e não recebem atenção do Estado”, conclui a professora.

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