Apesar de aumento expressivo, negros ainda são minoria entre os graduados no Brasil

Ao todo, 0,11% dos pretos e pardos são mestres e 0,03% doutores, aponta Censo

São Paulo – O total de negros no ensino superior aumentou quase oito vezes em dez anos, passando de 790 mil em 2000 para 6,2 milhões em 2010. Ainda assim, a desigualdade racial no acesso continua evidente: enquanto 3,27% dos autoidentificados como pretos e pardos têm ensino superior completo, esse porcentual atinge 10,12% nos demais grupos étnicos da população.

Os dados são do Censo Demográfico do IBGE de 2010, que foram organizados pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e cedidas à Rede Brasil Atual em primeira mão pela organização social Educafro. Os negros têm menor representatividade conforme aumenta o grau de titulação: eles são apenas 0,11% dos mestres e 0,03% dos doutores. O quadro se deve a um racismo institucional na educação, de acordo com a ministra da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, Luiza Bairros.

“Vários educadores negros identificam que a inferiorização que o racismo provoca se reflete entre os professores, que acabam considerando que os alunos negros são menos inteligentes e que não têm a universidade como perspectiva de futuro”, afirma a ministra, em entrevista à Rede Brasil Atual. “É como se a possibilidade de desenvolvimento de um negro em uma carreira acadêmica fosse impedida por essa imagem racista, que nos coloca em uma posição de subalternidade quando se trata de ocupar lugares mais privilegiados da estrutura social”.

Ao longo do tempo

Nos últimos 10 anos, no entanto, a diferença entre os grupos diminuiu e a população negra deu um salto rumo à universidade: em 2000 apenas 0,46% dos negros brasileiros eram graduados, o equivalente a 14,5% das pessoas com ensino superior completo na época. Hoje eles representam 24,4% dos diplomados.

Os dados, no entanto, não solucionam em definitivo a questão da inclusão dos negros no ensino superior, de acordo com o diretor da Educafro Frei Davi, que atribui o aumento a programas de inclusão. “Se você cria um programa como o ProUni [Programa Universidade para Todos], que reserva 20% das vagas para negros, você continua colocando 80% de brancos nas universidades e distanciando os dois grupos. Ou seja, cresce o número de negros mas aumenta ainda mais o de brancos”, avalia.

Negros por áreas do conhecimento

A maioria dos negros graduados se concentra em áreas ligadas a educação, humanidades e artes (33%), seguidas por ciências, matemática e computação (25,4%), de acordo com o Censo. Eles são menos presentes em engenharia de produção, construção, agricultura e veterinária (17,4%); ciências sociais, negócios e Direito (21,3%) e saúde (23%).

“Se você entra em uma sala de Pedagogia ou Serviço Social, nas quais a classe média-alta não tem interesse, você encontra um percentual interessante de negros. No entanto, se você vai no Direito ou na Medicina, você praticamente só encontra brancos e isso é um atentado em uma nação que se diz pluriétnica”, avalia Frei Davi.

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