Juiz critica USP por investir em ações repressivas no campus

Ações consideradas truculentas por parte da Polícia Militar e falta de diálogo com a comunidade são as principais críticas de magistrado, trabalhadores e alunos da USP

Estudantes da USP durante assembléia realizada no predio de História para decidir por uma posição sobre a entrada de policiais no campus (Foto: ©Caio Guatelli/ Folhapress)

São Paulo – O presidente do Conselho Executivo da Associação de Juízes para a Democracia, José Henrique Rodrigues Torres, afirmou nesta terça-feira (1) à Rádio Brasil Atual que a Universidade de São Paulo (USP) erra ao não dialogar com estudantes que ocupam um prédio no campus e por investir em um sistema repressivo para combater a criminalidade. Ele analisa que a reitoria da USP deveria buscar soluções democráticas e pedagógicas para aumentar a segurança no interior da unidade na capital paulista. “A USP perde a oportunidade de dar uma resposta um pouco diferente a essa questão de enfrentamento da violência e da criminalidade”, alerta o magistrado. “Lamento profundamente que seja assim.”

Na noite da última quinta-feira (27), estudantes contrários à permanência da Polícia Militar (PM) no campus ocuparam o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), depois que três alunos foram presos por suposto porte de maconha. Em nota, a reitoria lembrou que firmou convênio com a PM em maio deste ano, após o assassinato de um estudante no interior da universidade.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP Anibal Ribeiro, abordagens repressivas da PM têm sido cada vez mais frequentes. Policiais estariam andando nos corredores das faculdades e abordando estudantes  por olhar “feio” para eles. Ribeiro também citou episódios de abordagens de ônibus circulares com policiais com “arma em punho”, questionando quem é ou não estudante da USP e quem é a favor ou contra a presença deles no campus. Os estudantes abordados na quinta-feira, estopim da tensão já existente entre alunos, reitoria e PM, foram pegos pela Rocam, “a tropa de choque de moto”, interpreta.

Torres, da Associação de Juízes para a Democracia, espera que a universidade encontre soluções para a segurança no campus fora do sistema produtor de violência. “A USP tem profissionais competentíssimos, cientistas sociais e políticos. Não é possível que não encontre uma solução”, aponta. 

O magistrado analisou que a ocupação é um alerta de que a universidade deve investir no diálogo. “Está no momento de ouvir a voz dos estudantes que agem com mais coerência no sistema do que toda a estrutura da USP, que parece não encontrar solução fora do sistema convencional”, explica.

O estudante de Geografia João Vitor Pavezi de Oliveira, do Diretório Central de Estudantes (DCE), afirma que a “militarização” do campus poderia ser evitada com melhor iluminação, treinamento da guarda e presença de guarda feminina. 

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