Analfabetismo funcional alto mostra fracassos na educação, diz pesquisadora

Erradicação do problema exige mudanças no método de alfabetização e valorização dos professores

Onaide Correa de Mendonça propõe novo método para alfabetização (Foto: Divulgação)

São Paulo – O alto índice de analfabetismo funcional no Brasil detectado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009), divulgada na quarta-feira (8), é resultado de problemas no início da escolarização. A análise é da professora Onaide Schwartz Correa de Mendonça, coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente (SP).

Segundo o estudo realizado  pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20% dos brasileiros não conseguem compreender textos, enunciados matemáticos e estabelecer relações entre assuntos, apesar de conhecerem letras e números.

A Pnad também detectou que a taxa de analfabetismo está em queda no país, especialmente na região Nordeste. Desde 2004, a taxa caiu 1,8% em todo Brasil e 3,7% nos estados nordestinos. Entretanto, 14,1 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais permanecem sem saber ler e escrever. Os números da pesquisa demonstram que a educação básica, de responsabilidade de estados e municípios, não anda bem.

“Se o aluno souber ler e escrever a aquisição dos demais conteúdos será uma consequência”, ensina Onaide. Em entrevista à Rede Brasil Atual, a autora de livros sobre alfabetização diz que as consequências do analfabetismo funcional são cada vez mais sentidas nas universidades, sejam públicas ou particulares. 

A pesquisadora revela que colegas, professores do curso de graduação em matemática, têm reclamado bastante da ausência, entre os estudantes universitários, de conhecimentos básicos. “(Os profissionais de educação) afirmam que os alunos não trazem os conhecimentos mínimos de conteúdos que deveriam ter sido trabalhados no ensino fundamental e médio”, dispara.

O problema também se estende ao domínio da língua portuguesa. “(Os professores) reclamam ainda que os alunos cometem erros graves de ortografia. Eles se dizem perplexos e comentam que a cada ano está pior, no sentido de receberem mais alunos com esses problemas”, descreve Onaide.

“Em uma sala de aula de 30 alunos, 10 aprenderão quase sozinhos, 15 precisarão ser orientados duas ou três vezes mais e cinco terão muitas dificuldades para aprender, de modo que o professor terá que segurar na mão deles e ajudá-los, do contrário sairão analfabetos da escola” – Onaide Schwartz Correa de Mendonça

A coordenadora também detectou a deficiência entre seus alunos do curso de Pedagogia. “Tenho observado que a cada ano mais estudantes têm vindo com problemas de ortografia”.

Apesar de o vestibular ter critérios razoavelmente rigorosos para a aprovação dos alunos, ainda há os que têm deficiências de nível básico, alerta.

“Creio que de 40 alunos que ingressam no 1º ano, uma média de três apresentam erros de português como: não saber distinguir ‘atrás’, de ‘traz’; ‘falavam’ de ‘falarão, pois escrevem ‘falavão’; ou seja, não discriminam a grafia de passado e futuro nas formas verbais, por conta da proximidade da pronúncia, o que caracteriza um erro de transcrição fonética (escrevem da forma como falam).”

“Apresentam ainda, erros de separação silábica, pois, por equívocos teóricos, esse conteúdo não vem sendo trabalhado mais na escola pública há anos, e também erros de concordância”, detalha.

Apesar de se tratar de um tema complexo, a especialista acredita que o analfabetismo funcional decorre da opção dos governos por métodos equivocados de alfabetização nos últimos 25 anos e do descaso com a carreira docente.

Para Onaide, a resolução do problema passa pela escolha de um novo método de alfabetização que leve em conta a questão social e a linguística, além de investimentos maciços na valorização, formação e remuneração dos professores. 

A professora também é crítica da progressão continuada, método adotado a partir de 1998 em São Paulo, em que o aluno avança sucessivamente sem interrupções, nas séries, ciclos ou fases. Onaide afirma que “nossa população não está preparada” para o método.

Ela também não vê condições estruturais para a carreira profissional do educador. “Hoje as condições de trabalho nas escolas estão precárias, não só do ponto de vista material, mas principalmente emocional. Os professores estão adoecendo em função do desgaste causado pela falta de respeito, de interesse e vontade dos alunos”, condena.

Confira a íntegra da entrevista com a pesquisadora:

A que problemas sociais e/ou educacionais a senhora atribui alunos de universidade apresentarem características de analfabetismo funcional?

Um dos problemas que afetam a Educação em nosso país é a má distribuição da renda, pois poder aquisitivo e acesso à educação de qualidade caminham juntos. Entretanto, não se pode cair no discurso demagógico da década de 70 e afirmar que os alunos das camadas populares fracassam na escola por serem pobres, e ainda, que os alunos não aprendem porque as famílias são desestruturadas, carentes e esses problemas afetam o cognitivo.

Esse discurso é discriminador. O que acontece é que as elites têm estilos de vida diferentes das camadas populares: viajam com frequência, frequentam lugares onde sempre se aprende alguma coisa, leem diariamente e as experiências vivenciadas fora da escola contribuem e preparam seus filhos para a aprendizagem.

Além disso, podem pagar escolas que desenvolvem conteúdos de forma sistematizada, sem modismos, sem progressão continuada e que cobram essa aprendizagem dos alunos. Por outro lado, esses pais cobram bom desempenho de seus filhos por terem consciência de que estudar é uma necessidade. Falta consciência nas camadas populares.

Do ponto de vista educacional, o fracasso constatado nas pesquisas é apenas uma consequência da alfabetização que tem sido feita ao longo dos últimos 25 anos. Um trabalho fragmentado, que se preocupa apenas com ensinar a função social (usos sociais) da leitura e da escrita, e que ignora totalmente a especificidade da alfabetização.

No estado de São Paulo, as cartilhas (que eram fraquíssimas) foram substituídas pelo Letra e vida e, hoje, Ler e escrever. Materiais que desenvolvem apenas os usos sociais da leitura e escrita, ótimos para serem usados com alunos quem já dominam a leitura e a escrita do ponto de vista da codificação (escrita) e da decodificação (leitura), mas não para a alfabetização inicial.

O processo de alfabetização precisa mudar?

É preciso tratar o tema com seriedade. De nada adianta ter dois professores em sala de aula, se os dois trabalharem de forma equivocada! É preciso diminuir o número de alunos por sala (26 é um bom número), pagar um salário decente para o professor e orientá-lo a trabalhar com estratégias adequadas. Cursos de extensão, atualização e aperfeiçoamento são imprescindíveis!

Acredito que a razão maior para o notório fracasso da educação pública brasileira está na falta de metodologia adequada para a alfabetização. Se o aluno souber ler e escrever a aquisição dos demais conteúdos será uma consequência.

Portanto, a mudança do processo de alfabetização no Brasil é urgente, pois há mais de 25 anos ela tem sido orientada por equívocos.

“Se o aluno souber ler e escrever a aquisição dos demais conteúdos será uma consequência”, afirma  Onaide, coordenadora do curso de Pedagogia, da Unesp 

Qual o problema do método de alfabetização adotado nos últimos 25 anos?

Até meados da década de 80 a única metodologia utilizada para alfabetizar era o método das cartilhas, sem fundamentação científica. Vale lembrar que índices oficiais mostram que naquela época o fracasso em alfabetização era de cerca de 50%.

Por volta de 1986, foi divulgada no país a teoria de aprendizagem, psicogênese da língua escrita, fundamentada no construtivismo e implantada como a “salvação” da educação. Após a divulgação da psicogênese, qualquer método, aqui compreendido como sistematização, organização do trabalho a ser realizado durante a alfabetização, passou a ser condenado e proibido, e propostas fragmentadas e totalmente desorganizadas ganharam espaço nas salas de aula sob o rótulo de “científicas e modernas”.

Sabe-se que o método sozinho não faz milagres, pois o professor é o diferencial no processo de ensino/aprendizagem. Entretanto, método significa caminho e o alfabetizador precisa saber de onde vai partir, que caminho percorrerá e onde pretende chegar.

Há dois extremos: pode-se fazer um trabalho mecânico nos moldes das cartilhas tradicionais e pode-se realizar um trabalho que, além de alfabetizar, ensine o aluno a debater e ler o mundo criticamente e com isso ajudá-lo não só a interpretar textos, mas compreendê-los integralmente.

A ideia era melhorar a alfabetização, mas isso não aconteceu?

Dados do INAF 2009 (Indicador de Alfabetismo Funcional), com relação ao item escolaridade, mostram que dentre os alunos que cursam ou cursaram da 5ª a 8ª série, apenas 15% podem ser considerados plenamente alfabetizados.

Assim, se no início da década de 80, 50% das crianças não aprendiam a ler na 1ª série, hoje o fracasso em alfabetização é da ordem de 85% no 2° ciclo do Ensino Fundamental, isto é, alunos frequentam até nove anos a escola e não aprendem a ler e escrever.

Tal fracasso poderia ter sido evitado, pois a Linguística já comprovou, e confirmamos em nossa experiência de alfabetizadora, que se forem desenvolvidas atividades de leitura durante duas horas diárias, com uma criança de 6 anos, em 3 meses começará a ler e em um ano estará alfabetizada.

A que a senhora atribui 85% dos alunos não aprenderem a ler e escrever até o final do Ensino Fundamental?

Uma possível explicação para esse fracasso da alfabetização é que, como as cartilhas tradicionais eram consideradas ruins, então passou-se a fazer exatamente o contrário delas. Ensinar o que são letras, como juntá-las para compor sílabas, separar sílabas, como unir sílabas para formar palavras foram consideradas práticas “tradicionais”, e deste modo, esses conteúdos foram excluídos das salas de aulas e dos livros de alfabetização.

O que se esqueceu é que esses conhecimentos são específicos da alfabetização, e, portanto, precisam ser trabalhados para que o aluno compreenda e domine o código escrito. Esqueceram também que, na oralidade, o português é uma língua silábica, pois pronunciamos sílabas (bo-la) e não fonemas isolados [b+o+l+a].

Não se pode acreditar que os elaboradores de materiais que desprezam as especificidades da alfabetização o façam por maldade. Talvez seja por falta de conhecimento científico, pois, quando a escola não tem competência para alfabetizar está condenando crianças das camadas populares à marginalidade e à exclusão social.

Sabe-se que o método sozinho não faz milagres, pois o professor é o diferencial no processo de ensino/aprendizagem, alerta Onaide da Unesp.

Que método de alfabetização se encaixa melhor à realidade brasileira?

Para atender a demanda de alfabetização eficaz publicou-se, em 2007, o livro “Alfabetização – Método Sociolinguístico”, de autoria de Mendonça e Mendonça, que propõe uma nova forma de alfabetização infantil.

Este trabalho entende método como sistematização, organização do trabalho do professor. É “Sócio”, porque desenvolve efetivamente o diálogo no contexto social de sala de aula, e é “Linguístico” por trabalhar o que é específico da língua: a codificação e decodificação de letras, sílabas, palavras, texto, contexto, e desenvolver as habilidades para ler e escrever como: a direção da leitura, o uso dos instrumentos de escrita, organização espacial do texto etc.

Em duas pesquisas realizadas, uma em 2006 (sem método) e outra em 2008 (utilizando o método sociolinguístico), obtiveram-se os seguintes resultados: na pesquisa de 2006, quando cerca de 97% dos alunos iniciou a 1ª série (hoje 2º ano) no nível pré-silábico, houve pouca evolução, pois ao final do ano letivo cerca de 68% dos alunos ainda permaneciam no mesmo nível, o pré-silábico, ainda não alfabetizados.

Entretanto, analisando os dados das salas que aplicaram o Método Sociolinguístico em 2008, foram obtidos outros resultados. No mês de março, quando os professores iniciaram a aplicação, em que cerca de 95% dos alunos estava no nível pré-silábico, três meses depois 70% dos alunos já estavam lendo, e no mês de julho, 70% já estavam lendo e escrevendo, e. no mês de agosto todos (100%) estavam alfabetizados.

Esta proposta metodológica científica, já testada, é capaz de alfabetizar com competência e qualidade, associando os avanços do construtivismo às bases sociolinguísticas do Método Paulo Freire, comprovando que a sistematização do ensino é decisiva para que a criança aprenda. É preciso mudar os rumos da alfabetização infantil, pois só assim estancaremos, na fonte, a produção do analfabetismo/analfabetismo funcional jovem e adulto no Brasil.

Segundo o indicador de alfabetismo funcional (Inaf), somente 38% dos alunos que cursaram alguma série ou completaram o Ensino Médio atingem o nível pleno de alfabetismo, quando seria esperado 100% deste grupo. Por que isso ocorre?

Ao participar recentemente de correção de redações de vestibular pude verificar erros como: ‘banh-o, fo-rmiga, derepente, consiente, aqontecer’ etc. Fatos como estes nos mostram o caos em que está mergulhado o ensino. Esses são normais durante o primeiro ano de alfabetização, mas não no vestibular.

Seria isso fruto de equívocos de teóricos que afirmam que não se pode corrigir o aluno para não fique traumatizado? Que é preciso deixar o aluno descobrir a escrita correta das palavras? Que não se deve ensinar sistematicamente, pois na alfabetização o professor deve ficar perguntando ao aluno o que ele “acha” que está escrito em um texto? Ora, a língua é um código que precisa necessariamente ser ensinado. 

Só garantir o acesso à escola não é suficiente à formação dos cidadãos?

O acesso à escola não garante a aprendizagem nem a formação dos cidadãos. Na realidade o que ocorre hoje é que a maioria absoluta dos alunos das escolas públicas está passando pela escola e não necessariamente aprendendo.

Além de desenvolver conteúdos é necessário também resgatar a competência, a dignidade e a autoridade do professor, selecionar metodologias e conteúdos a serem ensinados, despertar nos alunos o senso de responsabilidade, disciplina e civismo, ensinar valores como respeito e solidariedade.

Quando a escola não tem competência para alfabetizar está condenando crianças das camadas populares à marginalidade e à exclusão social, avalia a pesquisadora

Como recuperar os milhões de pessoas que são analfabetos funcionais?

Recuperar analfabetos funcionais que já saíram da escola é uma missão complexa, pois raramente se conseguirá trazê-los de volta. Os atuais cursos de alfabetização de jovens e adultos apresentam os mesmos problemas que a alfabetização infantil no Brasil, ou seja, materiais e estratégias inadequadas.

Os materiais que são enviados, indicados e usados em cursos de alfabetização de jovens e adultos são feitos para quem já sabe ler, isto é, para o desenvolvimento de habilidades dos usos sociais da escrita, e não para a alfabetização inicial. Pedem que os alunos leiam os textos, são feitos questionamentos sobre esses textos, pede-se para que os alunos produzam textos, porém não há sequer a apresentação do que são letras, não se trabalha o alfabeto, não se ensina como palavras são compostas e não mostram como as sílabas são formadas.

Portanto, informações específicas da alfabetização e básicas para quem vai aprender a ler e a escrever não são fornecidas ao aprendiz. O que precisa ser feito é mudar drasticamente o sistema de ensino para que aqueles que ainda estão no sistema não saiam dele analfabetos.

O que uma legião de pessoas com dificuldade de expressão significa para o nosso país?

Se medidas sérias e urgentes não forem tomadas seremos, se já não somos, um país de ignorantes. Diversidade cultural é algo natural e que faz parte da formação de cada família, comunidade, pois somos homens histórico/sociais, mas falta de conhecimentos básicos sobre a língua e demais componentes curriculares é algo muito diferente.

As pessoas citam muito o ensino de “antigamente”. O que mudou atualmente?

Não se pode ignorar que “antigamente” a escola era para poucos e hoje é “para todos”. Os professores vinham da elite e, portanto, possuíam um alto nível cultural, eram respeitados, valorizados e ganhavam como juízes, ser professor era uma honra.

Os alunos tinham que estudar para ser promovidos. Hoje, salvo raras exceções, o professor é mal formado, maltratado e desrespeitado pelos alunos que, equivocadamente, não estudam, pois serão aprovados “automaticamente”, e ainda acreditam que isso é vantagem.

Poucos cursos de formação de professores podem ser classificados como bons. Analisando os currículos desses cursos, são raros os que têm uma disciplina sobre alfabetização, e quando têm, dentre dezenas de conteúdos fundamentais, trabalha um único, o construtivismo, e ainda de forma equivocada.

Os professores vinham da elite e, portanto, possuíam um alto nível cultural, eram respeitados, valorizados e ganhavam como juízes, ser professor era uma honra, lembra a especialista da Unesp.

A universalização do ensino não significa ampliação da aprendizagem?

Universalizar o ensino fundamental é uma necessidade, mas a escola precisa adaptar-se e ser eficiente para ensinar também aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem.

Nossa experiência de alfabetização nas camadas populares comprovou que em uma sala de aula de 30 alunos, 10 aprenderão quase sozinhos, 15 precisarão ser orientados duas ou três vezes mais e cinco terão muitas dificuldades para aprender, de modo que o professor terá que segurar na mão deles e ajudá-los, do contrário sairão analfabetos da escola.

Assim, a adaptação a ser feita não significa nivelar o ensino “por baixo” subestimando a capacidade do aluno tratando-o como se fosse inferior, mas ensinar os mesmos conteúdos que são ensinados às elites usando metodologia adequada.

Escrever com fluência é uma dificuldade apontada por universitários e profissionais já formados. Dominar a língua é realmente um desafio?

O domínio da nossa própria língua constitui a primeira barreira a ser transposta pelo aluno, pois quando chega à escola traz apenas a variedade linguística popular, muito diferente da variedade escolar, dos livros. Assim é necessário trabalhar primeiro a oralidade em sala, ensinar o aluno a perceber as diferenças entre o dialeto popular e o padrão da língua. Fala-se de um jeito e escreve-se de outro, pois a língua escrita possui características específicas que precisam ser dominadas.

É preciso que o aluno tome consciência ainda das discriminações sociais existentes contra os dialetos populares e como resolver isso de forma prática. Primeiro é preciso conscientizar e transformar a fala do aluno, para que esses conhecimentos sejam transpostos para a escrita, e ele passe a produzir textos coerentes, coesos, que apresentem concordância e poucos erros ortográficos.

Existem livros que desenvolvem técnicas de redação mostrando fatores de textualidade, diferentes modos de se estabelecer a coesão dentro de um texto, porém o escrever bem exige empenho, prática e orientação, pois é um processo que leva tempo para ser construído.

O que as universidades podem fazer para auxiliar os alunos com deficiências?

Um grande problema é que hoje não consigo citar, em nosso país, cinco nomes de acadêmicos que conheçam alfabetização plenamente, isto é, tanto do ponto de vista teórico como prático. O olhar do pesquisador é muito diferente do alfabetizador. Quem pesquisa não tem sob sua responsabilidade a incumbência de  alfabetizar 25, 30 alunos. Portanto, seu nível de compromisso,  sua intervenção e conhecimento do processo são muito limitados.

O que a universidade poderia fazer é realizar cursos de formação de professores, porém o que será ensinado é que é a grande questão, pois a alfabetização no Brasil tem sido dirigida por mitos. Alguns deles  versam sobre o construtivismo equivocado com suas muitas consequências nocivas para os alunos.

Os professores de universidades públicas estão sobrecarregados. Atender diretamente os alunos com dificuldades é impossível, pois como a escola não tem conseguido ensinar, são milhares. Não há espaço  físico nas universidades para isso e nem pessoas preparadas. A melhor solução ainda seriam cursos de formação para professores.

O ideal seria a implantação de políticas públicas, tanto em nível federal, como dos estados, para modificar o queestá  sendo feito, mas para isso, além de vontade política, seria preciso existir abertura por parte dos envolvidos hoje com  a alfabetização, pois os mitos impedem que estas pessoas entendam que os conhecimentos específicos da alfabetização precisam necessariamente ser ensinados de forma sistematizada e com metodologia adequada.

Essas pessoas, em sua maioria, são contra métodos ou qualquer forma de sistematização do ensino. Parece que passaram por uma lavagem cerebral… Não compreendem que a criança aprende muito mais rápido, e com qualidade, quando a forma de ensinar é organizada.

Qual sua avaliação do sistema de progressão continuada em vigor no estado de São Paulo?

O Brasil não está preparado para a progressão continuada! Esse sistema pode funcionar em países avançados, onde a população alcançou um nível de conscientização e compreendeu que o estudo faz parte da vida, que é indispensável, e que o conhecimento, além de ser um instrumento poderoso, é o único bem que não pode ser roubado.

Porém, nossa população não está preparada. Sabe-se que muitos alunos frequentam a escola por força legal, que vão para lá apenas para conversar e, no final do ano, recebem o “prêmio” da Progressão Continuada.

Hoje as condições de trabalho nas escolas estão precárias, não só do ponto de vista material, mas principalmente emocional. Os professores estão adoecendo em função do desgaste causado pela falta de respeito, interesse e vontade dos alunos.

Ainda há os que só criticam o professor, porém se as aulas não são ótimas, na maioria dos casos, a culpa não é do professor, mas dos cursos de formação que precisam ser revistos com urgência.

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