Brasil tem internet no celular mais cara entre países pobres, diz estudo

País fica ao lado de Zimbábue com um valor médio três vezes maior do que a média mundial

São Paulo – O custo de pacotes de dados para celular no Brasil é o mais caro entre os países em desenvolvimento, segundo mostra um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), com informações compiladas pela Nokia Siemens. O relatório também sugere que os governos adotem políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da tecnologia da informação e da comunicação como uma estratégia para reduzir a pobreza mundial.

De acordo com o levantamento, que cita dados de 2009, apenas no Brasil e no Zimbábue o preço médio do pacote de dados mensal passa dos US$ 120, o que deixa o país atrás de nações como Congo, Haiti e Bangladesh, país que tem o menor custo entre 78 listados no relatório. A média do preço mundial é de US$ 46,54 por mês.

O relatório sobre a Economia da Informação, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) chegou ao preço médio considerando o custo total de propriedade de um pacote de tráfego de 2,1 megabytes de dados por mês. “Existe uma grande variação, com alguns países oferecendo por menos de US$ 20 por mês e outros por mais de US$ 100”, afirma o documento.

Contra a pobreza

Os números fazem parte de um estudo global sobre como o uso de tecnologia da informação pode contribuir no combate a pobreza no mundo. Segundo a UNCTAD, as autoridades nos países em desenvolvimento deveriam dar mais importância ao setor de tecnologia da informação e comunicação na estratégia de redução da pobreza.

A entidade aponta que mais benefícios podem ser colhidos se for estimulada a criação de empresas de pequena escala com ajuda do governo. “Micro empresas estão crescendo rapidamente em países de baixa renda e podem oferecer emprego de valor real à população com menos recursos e educação. Essas atividades incluem uso de aparelhos e reparos, manutenção de computadores pessoais e gerenciamento de lan-houses”, explica o estudo.

“Ante nossos olhos, está se abrindo um novo horizonte em que as novas tecnologias terão uma importância radical, inclusive nos lugares mais remotos”, escreveu o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no prefácio do relatório. “A difusão de algumas tecnologias de informação e comunicação, em especial os telefones móveis, tem aumentado espetacularmente, inclusive nas regiões em que vive e trabalha grande parte da população pobre mundial”.

Segundo o relatório, a população carente sofre com a falta de acesso a informações que são vitais para seu trabalho. Saber sobre as condições meteorológicas, por exemplo, poderia ajudar um agricultor a determinar o melhor momento para a plantação e a colheita. E um aparelho de telefone celular poderia permitir a esse agricultor receber essas informações.

“Um pequeno empreendedor com telefone celular, mesmo que o custo no Brasil (com telefonia móvel) seja um dos mais altos do mundo, pode fazer muita coisa que não podia antes. Isso é que tem que ser potencializado”, disse o conselheiro do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), Carlos Alberto Afonso, que apresentou o relatório da Unctad no Brasil.

Segundo Afonso, é importante destacar que, isoladamente, o uso dessas tecnologias não resolve o problema da pobreza. Para ele, o uso das TICs deve estar associado a políticas públicas que poderiam criar condições para universalizar o acesso à informação. “A banda larga, como já é na Finlândia e na Suíça, é parte do direito humano à comunicação formalizado em lei. Então, o cidadão tem que ter acesso a essa tecnologia, independentemente do seu nível de renda e classe social. Isso é o que temos que ver no Brasil”, afirmou.

Uma das alternativas para o Brasil, segundo ele, seria a criação de uma rede nacional de banda larga, liderada por uma entidade estatal, que ajudaria, inclusive, a diminuir os custos da telefonia móvel no país. “O importante é que se pense que essas tecnologias têm que ser universalizadas”, afirmou.

Além disso, a UNCTAD lembra que poucos países em desenvolvimento estão envolvidos na fabricação e criação de serviços para a área. “As exportações de bens de tecnologia estão geograficamente muito concentradas. Na China, de longe o maior exportador do ramo, houve contribuição significativa da produção para a renda dos mais pobres.”

Com informações da Agência Brasil e da Reuters