Ministro da Fazenda diz que Brasil deixa ‘vício’ e projeta investimento maior

Mantega promete mais R$ 88 bilhões em desonerações em 2014 e ironiza pedido de ex-presidente do Banco Central de FHC por alta do desemprego

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (12) que a economia brasileira já está superando o “vício” criado ao longo de décadas em que a especulação financeira foi mais interessante do que a produção, previu uma alta nos investimentos e ironizou o pedido por aumento de desemprego vindo de integrante do governo Fernando Henrique Cardoso.

Durante palestra promovida pela revista Brasileiros, em um hotel da zona sul de São Paulo, Mantega classificou 2012 como um ano de transição para um novo modelo econômico. Para ele, a redução da taxa de juros, a desvalorização do real e os incentivos concedidos pela equipe econômica à indústria começam agora a surtir efeito. 

O ministro considera que foi rompido o cenário que favorecia a especulação. “Não é só o setor financeiro que se beneficia disso, mas o setor produtivo aproveita para deixar de fazer investimentos, combina produção com renda financeira. Quando se reduz os juros, reduz-se a renda financeira. Então, em um primeiro momento a tendência não é expansionista. Exige-se uma adaptação para que a economia passe a buscar rentabilidade no setor produtivo, mais que no setor financeiro.” 

Nos gráficos apresentados ao longo da palestra, Mantega reforçou a visão de que a economia brasileira começou a se acelerar no último trimestre do ano passado e agora entrou definitivamente em uma trajetória de retomada do crescimento, após expansão de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. Hoje, o Banco Central divulgou o IBC-Br, índice que serve como prévia da medição oficial do IBGE e que mostrou recuo de 0,52% em fevereiro. 

Mantega reiterou a projeção de que a economia fechará o ano com expansão de 3,5%, subindo a 4,1% em 2014. Ele disse que os setores de agropecuária e indústria, afetados no ano passado, estão dando sinais de recuperação após uma série de incentivos concedidos pelo governo. 

O ministro explicou que o setor industrial foi o primeiro a receber desoneração da folha de pagamento porque foi o mais duramente abatido pela crise internacional. Até agora, os cortes de tributos abrangem 42 setores. A projeção do governo é de que a renúncia fiscal chegue a R$ 70 bilhões este ano e suba a R$ 88 bilhões em 2014. 

Nesse sentido, ele aproveitou para cutucar o economista Armínio Fraga, presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que vem defendendo o corte de empregos no país como forma de aumentar a competitividade do setor industrial. No ano passado, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Fraga chegou a classificar de “esdrúxula” a atual taxa de desemprego, que vem oscilando entre 5,5% e 6%. “Temos feito a desoneração da folha de pagamento, que é muito importante. A economia brasileira, ao contrário de outras economias em crise, não está reduzindo os salários dos trabalhadores. E quero ressaltar que isso não é um defeito, como dizem alguns, mas uma virtude”, rebateu Mantega. “Termos um emprego elevado significa que a massa salarial está crescendo, e isto ajuda a manter um mercado interno dinâmico.” 

Ainda que o cenário externo melhore, diz o ministro, a aposta deve ser mantida sobre o mercado interno brasileiro. “O tipo de crescimento econômico que gera muito emprego, combinado com os programas sociais, acaba criando um mercado consumidor elevado, de classe média, com uma inclusão social bastante expressiva, e por isso dependemos mais do mercado interno do que do mercado externo. Felizmente, porque o mercado externo tem pouco a oferecer nos dias de hoje.” 

Ao mesmo tempo, o governo mantém a projeção de investimentos de atrair R$ 470 bilhões em infraestrutura, conforme dados apresentados em fevereiro, especialmente mediante concessões à iniciativa privada. Mantega reforçou a visão de que o Estado tem dinheiro para investir, mas não conta com a agilidade necessária para fazer frente às necessidades represadas. Para o ministro, injetar recursos nesta área será importante para fortalecer outros setores. “Esse programa responde a uma necessidade da economia brasileira. Há uma demanda forte por infraestrutura que não vem sendo atendida. O Brasil deixou de investir em infraestrutura desde 1980, enquanto China, Índia e outros países fizeram fortes investimentos. Na última década recuperamos investimentos em infraestrutura, mas temos de ganhar velocidade.” 

Sobre o cenário internacional, o ministro demonstrou otimismo com as medidas adotadas recentemente pelo Japão na tentativa de reverter uma estagnação que dura ao menos 20 anos. Para ele, o impulso da nação asiática pode ser decisivo para a retomada da corrente de comércio global, fortemente afetada no ano passado, com crescimento de 0,7% em relação a a 2011.

Mantega considera também que o cenário nos Estados Unidos está melhor, esperando “um pouquinho” mais de estímulo vindo daquele país, ao passo que não se pode esperar nada parecido da Europa, ainda mergulhada em um quadro de baixo crescimento e elevação do desemprego.