Amartya Sen: inventor do IDH defende aliança entre Estado e mercado

O indiano Prêmio Nobel de Economia esteve presente no ciclo de conferência Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre.

Para Sen, o Estado precisa dar uma cobertura social básica para todos os cidadãos. (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

O economista Amartya Sen, um dos inventores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), está em Porto Alegre para uma palestra na edição 2012 do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. Aos 79 anos, ele é considerado uma autoridade mundial em estudos sobre desenvolvimento alinhado a justiça social e liberdade. Desde 1998 – ano em que recebeu o Prêmio Nobel de Economia – o indiano é reitor do Trinity College, na Universidade de Cambridge, além de dar aulas em Harvard. Em 2012, ele recebeu a Medalha Nacional de Humanidades das mãos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por ser “único em suas ideias sobre as causas da pobreza, da fome e da injustiça”.

Avesso a posições extremas tanto à esquerda como à direita, Amartya Sen defende a existência de uma relação complementar entre Estado e mercado. Para o indiano, esses dois atores possuem papéis fundamentais na economia e podem melhorar a vida dos cidadãos se agirem juntos. “Quando comecei a estudar economia, nos anos 1960, havia dois problemas: o ceticismo em relação ao mercado e a ausência de pensamento sobre como o Estado pode promover conquistas que o mercado não é capaz de implementar”, recordou o economista durante coletiva à imprensa na manhã desta terça na Capital gaúcha.

Para Amartya Sen, “as principais conquistas do mundo na segunda metade do século XX não foram por causa do capitalismo”. Ele acredita que o fortalecimento do Estado de bem-estar social na década de 1940 na Europa e em alguns países da Ásia possibilitou o desenvolvimento dessas nações nas décadas posteriores. “Havia um mercado ativo e um Estado ativo. Essa é a principal lição da segunda metade do século XX”, entende, acrescentando que o Estado precisa dar uma cobertura social básica para todos os cidadãos, ao mesmo tempo em que deve preservar a liberdade de escolha das pessoas.

O economista utiliza como exemplo desse pensamento o sistema de saúde. Amartya Sen é um convicto defensor da universalização do atendimento em saúde e também da educação pública. Mas acredita que os mais ricos devem ter preservados seus direitos de optarem por outros serviços – ou mesmo de proverem esses serviços.

Questionado sobre em que ponto as bandeiras da esquerda e da direita poderiam convergir para encontrar soluções que melhorem a vida da população, o indiano preferiu teorizar sobre o significado desses conceitos políticos. E aproveitou para lembrar que é amigo de Fernando Henrique Cardoso.

“Não sei o que significa ser de direita no Brasil. Ouço que meu amigo Cardoso é um pensador de direita. Nos Estados Unidos ele seria considerado um pensador de extrema-esquerda”, compara.

Ainda sobre o Brasil, o economista avalia que as políticas mais voltadas ao crescimento econômico não redundaram em desenvolvimento humano. Isso só começou a ocorrer, segundo o indiano, nos últimos 20 anos. “O Estado se tornou muito mais ativo, fornecendo educação, saúde e uma renda mínima para quem não tinha nada”, elogiou.

Apesar desse entendimento, Amartya Sen vê com ressalvas os programas de distribuição de renda implementados pelos governos Lula e Dilma, como o bolsa-família. “Apoio essas políticas, mas o Estado tem outros compromissos. É uma questão de dosar os investimentos. Fornecer um ganho mínimo à população é muito importante, mas não se pode resolver o problema da pobreza só com isso”, opinou.