Mercado de trabalho estaciona em agosto e entra em ‘estado de atenção’

Segundo o Dieese e a Fundação Seade, resultados ainda são positivos na comparação anual, mas mostram desaceleração da economia

São Paulo – As taxas de desemprego seguem estáveis, vagas continuam sendo abertas, ainda que em menos intensidade, mas os sinais de desaquecimento da economia já preocupam os técnicos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em agosto, mês em que normalmente há crescimento, o comportamento foi de estabilidade em relação a julho. Os resultados são positivos na comparação anual, mas os dados sugerem um mercado mais fraco. “O resultado de agosto não é típico para o período. Geralmente, a gente começa a observar redução da taxa de desemprego. É um momento de atenção”, afirmou a economista Patrícia Lino Costa, do Dieese.

A taxa média de desemprego nas sete regiões pesquisadas passou de 11%, em julho para 10,9%, um ponto percentual abaixo de agosto do ano passado (11,9%). Mas o desemprego não aumentou no mês porque houve redução da população economicamente ativa (PEA). Ou seja, pessoas saíram do mercado de trabalho, reduzindo a pressão. O número de desempregados foi estimado em 2,414 milhões, 27 mil a menos do que em julho (-1,1%). A comparação com agosto de 2010 é mais favorável: são 211 mil a menos, queda de 8%.

Mas o nível de ocupação – criação de postos de trabalho – mostra enfraquecimento. O mercado de trabalho não abriu vagas em agosto (-4 mil, estável) e cresceu apenas 1,8% em 12 meses, o equivalente a 354 mil vagas a mais. O ritmo é bem menos intenso do que em agosto de 2010, quando a ocupação em 12 meses registrava expansão de 4,1%. “A ocupação já deveria dar sinais de crescimento”, observa Patrícia. O emprego com carteira assinada ficou estável no mês. “Esse é um sinal da incerteza que os agentes econômicos têm pela frente”, diz a economista. Em 12 meses, o emprego formal cresceu 5,6%, com 525 mil vagas a mais.

Segundo a pesquisa, a ocupação mostra resultados diferenciados conforme o local. Na região metropolitana de Recife, por exemplo, a ocupação cresce 4,4% em 12 meses, com destaque para a construção civil (19,8%). Em São Paulo, a alta é de 1,7%, metade do crescimento de um ano atrás (3,4% em agosto de 2010).

Na maior região metropolitana do país, a taxa média de desemprego passou de 11,1% para 11,2%, ante 12,3% em agosto do ano passado – foi a menor taxa para o mês desde 1990 (11,1%). Na região do ABC, a taxa (11%) foi a menor da série (mais recente, iniciada em 1998) também para agosto.

“Apesar das ameaças de uma segunda etapa da crise, as taxas (de desemprego) se mantêm abaixo do que foram no passado recente”, observa o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. No entanto, ele chama a atenção para o fato de a ocupação não ter crescido em agosto. “Não é comum”, diz. “A economia, não só a brasileira, mas principalmente a internacional, está passando por uma série de incertezas, que provavelmente está turvando as expectativas dos empresários.” 

Setor mais sensível às oscilações da economia, a indústria teve queda de 0,6% na ocupação no mês (-18 mil vagas) e de 0,5% em 12 meses (menos 16 mil). Em São Paulo, as quedas foram de 1,2% (menos 21 mil) e -2,7% (menos 47 mil), respectivamente. Loloian cita a base de comparação alta, devido à recuperação do setor em 2010, e a “relação cambial desfavorável” no período mais recente.

Em 12 meses, o setor de serviços cresce 2,4% nas sete regiões, com 247 mil vagas a mais. A maior alta percentual é da construção civil: 3,8%, o correspondente a 48 mil empregos criados. O comércio sobe 2,4% (77 mil).

Consumo

O rendimento médio dos ocupados (R$ 1.360) continua patinando – ficou estável no mês e caiu 1,3% na comparação anual. Os comportamentos também são diferenciados: em 12 meses, a renda sobe em Recife (8,2%), em Fortaleza (2,2%) e Porto Alegre (1,9%), fica estável em São Paulo (0,3%) e cai em Salvador (11,3%), Belo Horizonte (9%) e Distrito Federal (1,6%).

A massa de rendimentos, um indicador importante de consumo, não cresce no ano e acumula alta de 1,4% em 12 meses, bem abaixo de igual período do ano passado(expansão de 8,1%).

Para os técnicos, a diminuição de pessoas no mercado de trabalho pode estar relacionada às notícias sobre o desaquecimento da economia, que desestimulam a procura. Além disso, Patrícia observa uma mudança de padrão no comportamento da mão de obra, relacionada à melhoria dos últimos anos. “Na década de 1990, com a ocupação estável e a renda em queda, havia mais pessoas entrando no mercado para compor a renda da família”, lembra. Agora, uma hipótese é de que, com a recuperação econômica dos últimos anos, menos pessoas precisam entrar no mercado ou, pelo menos, essa entrada demora mais a acontecer, caso dos jovens.

A preocupação se concentra nos próximos meses, quando normalmente o emprego cresce. Loloian avalia que o governo aposta em algumas medidas para tentar estimular a economia, ainda que à custa de uma inflação um pouco maior. Por outro lado, há “sinais contraditórios” vindo da política monetária. “A tendência é de algum tipo de crescimento da ocupação”, acredita.