Dilma diz a centrais que maior controle nos gastos deve estimular BC a baixar juros

Para Artur, da CUT, não adianta superávit se juro sangrar o orçamento de 'forma criminosa'

São Paulo – O governo federal vai aumentar a meta de superávit primário – o saldo positivo na relação receitas menos despesas, sem incluir gastos com juros da dívida pública. A decisão foi comunicada pela presidenta Dilma Rousseff a representantes das seis centrais sindicais em reunião na manhã desta segunda-feira (29), no Palácio do Planalto.

A economia nas contas públicas seria feita sem cortes em programas sociais, mas, em vez de injetar recursos no Fundo Soberano ou em investimentos para movimentar a economia, o esforço do governo é para criar condições para reduzir a taxa de juros. O tamanho do superávit desejado não foi especificado aos representantes das centrais. 

A reunião foi convocada na semana passada sem que a pauta fosse divulgada. As centrais sindicais cobravam uma postura clara do governo a respeito da estratégia de enfrentamento caso o país venha a sofrer alguma consequência da crise que hoje perturba Estados Unidos e Europa. Pediram também apoio a medidas que poderiam contribuir com a criação de empregos, como a redução da jornada máxima de trabalho de 44 para 40 horas semanais.

Para Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o problema do país para o cenário continua a ser a taxa de juros elevada. “O que sangra o orçamento é a criminosa taxa de juros que temos no país. Não adianta aumentar a meta do superávit se os juros da dívida consomem grande parte dos investimentos”, criticou.

A posição do governo de economizar mais segue a cartilha de “austeridade fiscal” defendida por economistas ligados ao mercado. A preocupação é com a saúde das finanças públicas em médio e longo prazos. Na prática, serão economizados R$ 10 bilhões a mais do que o previsto anteriormente, alcançando R$ 91 bilhões.

Na visão da CUT, a taxa de juros do país corroi também a renda do trabalhador e precisaria ser reduzida o mais rapidamente possível, independentemente de o Executivo aumentar superávit. “Não adianta fazer 2 milhões de casas nos programas do governo se não for garantido reajuste para os funcionários da Caixa. É uma preocupação da CUT para que haja contrapartida para o trabalhador”, observou Artur.

Em pleno cenário de crise internacional, com desaceleração da economia dos países ricos, a decisão anunciada por Dilma se distingue, em parte, da estratégia empregada na crise de 2008. O governo avalia que para o país, hoje, a redução na taxa básica de juros terá impactos mais significativos do que naquela ocasião – quando a taxa Selic retomou seu movimento de alta depois de um período em que vinha caindo gradualmente.

O governo pretende sinalizar ao Banco Central que as contas públicas apresentarão condições favoráveis à queda dos juros. O Comitê de Políticas Monetária de reúne esta semana. Em patamar muito alto, os juros acabam pressionando o câmbio – pois estimula o ingresso de dólares e derruba a cotação da moeda americana, o que prejudica exportações.

Segundo os sindicalistas, embora tenha rebaixado a previsão de aumento do PIB para 3,7% em 2011, o governo continua trabalhando com a perspectiva de crescimento possa ficar acima dos 4%.

Com informações da Reuters
Colaborou Anselmo Massad