Desemprego não cai, e Dieese vê sinais de preocupação no mercado de trabalho

Seade e Dieese esperavam resultados melhores. Comparação anual ainda é positiva, mas mostra desaceleração

São Paulo – Os resultados de pesquisa divulgada nesta quarta-feira (27) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade, de São Paulo) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) preocuparam os técnicos. A taxa média de desemprego de junho não diminuiu como o esperado para este período. Pelo contrário, registrou leve alta na região metropolitana de São Paulo, a maior das sete áreas pesquisadas.

Pode ser um ajuste, depois de dados relativamente positivos de maio, mas a explicação mais apropriada parece ser a dos reflexos da desaceleração da economia no mercado de trabalho. “Ainda é positivo, mas bem menos do que a gente observou em 2010”, afirmou o economista Sérgio Mendonça, técnico do Dieese.

Na média das sete regiões, a taxa de desemprego ficou praticamente estável, passando de 10,9% em maio para 11% no mês passado, bem menor do que em junho de 2010 (12,7%). Em São Paulo, passou de 10,7% para 11%. “Normalmente se espera queda em junho. São Paulo foi a região que apresentou o movimento mais inesperado”, observou Mendonça. De positivo, os 11% de junho representaram a menor taxa para o mês desde 1989 (9,7%).

Mas os indicadores revelam um mercado de trabalho fraco. De maio para junho, a população economicamente ativa (PEA) praticamente não cresceu (0,1%), com 26 mil pessoas a mais em um universo de 22,1 milhões. A ocupação ficou estável, com apenas 8 mil pessoas a mais. Com isso, o número de desempregados teve pequeno acréscimo de 0,7%, com 17 mil a mais.

As comparações com junho do ano passado são mais favoráveis, embora mostrem enfraquecimento do mercado. A PEA cresceu 0,6%, o equivalente a 136 mil pessoas a mais, enquanto a ocupação subiu 2,6% (504 mil a mais) – mas em setembro de 2010 o crescimento da ocupação em 12 meses chegou a 4,7%. O mesmo ocorreu em São Paulo, com alta de 2,5% na ocupação em 12 meses, bem abaixo do registrado em setembro, praticamente o dobro (4,9%).

“Há um arrefecimento do mercado de trabalho, que está passando por um processo de incerteza”, diz o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. “Sempre que há a notícia que a economia não está muito bem e a indústria não está contratando, há um refluxo.”

O número de desempregados nas sete regiões foi estimado em 2,427 milhões, 17 mil a menos do que em maio e 368 mil a menos (-13,2%) na comparação com junho de 2010. Em São Paulo, com 1,183 milhão de desempregados, o total cresceu 2,7% ante maio (31 mil a mais) e caiu 14,5% na comparação anual, com 237 mil a menos. O emprego com carteira assinada segue em alta, também em 12 meses: 6,8% nas sete regiões (612 mil) e 5,2% em São Paulo (242 mil).

“A maior parte dos empregos (novos) é formal. De cada dez, nove são com carteira, derrubando o mito do desassalariamento”, observou Sérgio Mendonça. A referência do economista diz respeito a um discurso corrente na década de 1990 – quando os percentuais de desocupação eram elevados – de que o emprego com carteira assinada não apresentaria altas novamente, por causa do crescimento de outras modalidades de contratação da mão de obra.

O foco da preocupação, neste momento, está no setor industrial, que fechou 58 mil vagas no mês (-1,9%) e 28 mil na comparação anual (-0,9%). “É preocupante. O dado da indústria em 2010 era de recuperação. Este ano, a expectativa era de crescimento”, lembrou o técnico do Dieese. Na região metropolitana de São Paulo, o emprego industrial caiu 3,2% no mês (55 mil vagas eliminadas) e 3,1% em 12 meses (53 mil a menos). O setor tem sofrido com a valorização do real em relação ao dólar, o que prejudica as exportações.

Sinais de preocupação também se veem quanto aos rendimentos. Na comparação mensal, o rendimento médio dos ocupados (R$ 1.365) caiu pela sétima vez seguida. Na comparação anual, sobe 1,6%, mas bem abaixo do crescimento de 9,6% em novembro. Em São Paulo, a renda também cai há sete meses. Em 12 meses, o rendimento dos ocupados (R$ 1.473) crescem 4,1%, mas em nítida desaceleração se comparado com novembro, quando a alta chegou a 14,1%. Com isso, a alta anual da massa de rendimentos – um indicador que revela a capacidade de consumo – nas sete regiões caiu de 13,9%, em novembro, para 5%.