Mantega diz que Brasil vive ‘bons problemas do crescimento’

Pressão inflacionária, valorização do real e escassez de mão de obra continuarão a ser alvo de combate de ministro, que vê essas questões como consequência do bom momento do país

Ministro da Fazenda admite que inflação ainda preocupa, mas alta de preços é mundial (Foto: Ricardo Mansho/Divulgação Brasileiros)

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta sexta-feira (8) que a inflação no país preocupa a equipe econômica do governo Dilma Rousseff, mas ponderou que a alta de preços faz parte da nova posição do Brasil no cenário econômico. “Estamos enfrentando os bons problemas do crescimento. São ajustes para modelar o crescimento num patamar adequado de crescimento de longo prazo. O Brasil reúne as condições para isso.”

Durante um seminário em São Paulo, ele afirmou que a pressão inflacionária é um desses problemas, mas observou que vem sendo cumprida a meta estabelecida pelo Banco Central e que neste ano a taxa oficial ficará abaixo da registrada no ano passado (em 2010, o IPCA atingiu 5,91%). “O governo não dará guarida a uma inflação mais alta, não vamos titubear em adotar novas medidas para conter essa inflação”, advertiu, durante o debate “Rumos da Economia no Brasil”, organizado pela revista Brasileiros

O ministro disse ainda que a maior parte da pressão sobre preços advém do mercado internacional e indicou que vêm sendo tomadas várias medidas para conter qualquer problema, como o estímulo ao aumento da oferta de alimentos e freios a uma demanda considerada excessiva. Mantega voltou a defender que a equipe econômica trabalha numa perspectiva anticíclica, ou seja, de trabalhar na corrente contrária à da economia. No momento em que era necessário crescer, deu incentivos. Agora, frente a indícios de superaquecimento, trabalha para tentar trazer a economia a um caminho considerado sustentável.

Mantega ponderou que a situação atual é absolutamente diferente da que se via no passado em períodos de pressão inflacionária. Um dos exemplos citados pelo ministro é a valorização do real ante o dólar, considerada excessiva pelos setores exportadores. O patamar atual, entre R$ 1,55 e R$ 1,60, é visto pela indústria como uma ameaça, já que a importação de produtos, em especial da China, torna-se mais lucrativa, podendo prejudicar a competitividade das empresas nacionais.

Mantega ressaltou, no entanto, que a cotação atual não é muito diferente da registrada há cinco anos, quando chegou ao ministério, e indicou que se trata de um nível condizente com a importância que o Brasil ganhou no mundo. A leitura do governo é de que a apreciação do real é fruto da grande atratividade que o país exerce no cenário externo. Em meio a uma situação de incerteza nos Estados Unidos e na União Europeia, os investidores têm apostado em massa no mercado brasileiro, trazendo para cá uma grande quantidade de dólares. Essa oferta de moeda estrangeira em demasia provoca uma valorização do real.

“O que temos evitado é que haja sobressaltos, um excesso de valorização. Alguns analistas acham que isso é desnecessário, que seria melhor deixar o câmbio se valorizar livremente. Não acho isso porque você causaria uma forte conturbação na economia brasileira”, ressaltou Mantega, que lembrou que o governo vai continuar atuando porque não acredita que o mercado possa se regular sozinho. 

Em entrevista a jornalistas após sua intervenção, Mantega rechaçou a hipótese aventada de que a tentativa de contenção da valorização do real esteja sendo conduzida com “improviso”. Segundo o ministro, algumas das medidas adotadas demoram a surtir efeito.

Nesta semana, foi promovida a extensão da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos no exterior com prazo de até dois anos. A estratégia visa a reduzir a entrada de dólares na economia. Outras elevações do tributo haviam sido promovidas.

Ele considera que será preciso continuar pensando em medidas para frear os capitais especulativos, que são aqueles que ingressam no país apenas para um lucro de curto prazo, não investindo no desenvolvimento da economia e colaborando ainda mais para a valorização excessiva do real. Apenas no primeiro trimestre deste ano, o saldo da entrada de capitais externos no país foi de US$ 36 bilhões, mais do que o total registrado durante todo o ano passado. Mantega não tem dúvidas de que boa parte se trata de capital especulativo e considera que esse é um dos reflexos negativos do crescimento brasileiro.

 

“O que está ocorrendo é uma grande mudança da economia mundial. Os países avançados estão perdendo dinamismo e os países emergentes vêm tomando a dianteira do crescimento mundial”, indicou o ministro, que considera que o Brasil está em uma situação privilegiada mesmo entre as nações em crescimento, como China, Índia e Rússia.

Mantega citou a redução da dívida pública, o controle fiscal e o forte investimento público como garantias de que o crescimento brasileiro é sustentável a longo prazo. Ele lembrou que a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já tem projetos que totalizam mais de R$ 1,5 trilhão. 

O ministro concorda que um outro “bom problema” do crescimento econômico é a escassez de mão de obra. Ele antecipou que o governo vai anunciar em breve um plano de formação de trabalhadores para enfrentar aquele que é um dos problemas centrais indicados pelos empresários. “No passado, nosso problema era o alto desemprego. Não tínhamos emprego para o trabalhador brasileiro”, comparou. 

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