País completa ‘década da formalização’ em 2010, mostra Dieese/Seade

Emprego formal cresceu principalmente a partir de 2004, aponta pesquisa. Economia e demografia farão desemprego continuar caindo, preveem técnicos

São Paulo – Com queda nas taxas de desemprego em todas as regiões pesquisadas, 2010 concluiu, de forma positiva, a “década da formalização”, segundo o economista Sérgio Mendonça, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Muita gente que dizia que não ia ter mais emprego formal deveria vir a público e dizer o que aconteceu”, afirmou, observando que esse movimento ocorreu com mais força a partir de 2004.

Na média das sete regiões abrangidas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), da Fundação Seade de São Paulo e do Dieese, foram criadas 729 mil vagas com carteira em 2010, crescimento de 8,7% sobre o ano anterior. “A cada 10 empregos criados, de oito a nove são com carteira (assinada)”, lembrou Mendonça. A taxa média anual de desemprego foi de 11,9%, ante 14% em 2009. No caso da região metropolitana de São Paulo, responsável por quase metade do total, a taxa atingiu 11,9%, a menor da série histórica desde 1991 (11,7%).

Pela média anual, as sete áreas pesquisadas (Distrito Federal e regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) criaram 765 mil empregos em 2010 (alta de 4,1%), enquanto 347 mil pessoas ingressaram na População Economicamente Ativa (PEA, alta de 1,6%). Com isso, o número de desempregados caiu 13,8%, o correspondente a 418 mil a menos.

Apenas em dezembro, a taxa de desemprego caiu para 10,1%. Em comparação com igual mês de 2009, foram 232 mil pessoas a mais na PEA, 698 mil vagas criadas e 466 mil desempregados a menos. Em São Paulo, a taxa de dezembro também recuou para 10,1%, a menor para o mês desde 1990 (9,4%). No caso das sete regiões, a série histórica tem apenas dois anos, mas nas demais regiões as taxas também foram as menores dos últimos anos.

Segundo o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian, a tendência é a de que as taxas de desemprego continuem caindo tanto pelo crescimento da economia como por fatores demográficos. O crescimento da PEA tem sido bem menor do que nas décadas anteriores, entre outros motivos pela redução da entrada de jovens no mercado. “A nossa transição demográfica está começando a se expressar nos indicadores do mercado de trabalho”, observou Loloian. “Aparentemente, não há muito espaço para que a PEA cresça mais. A tendência é de que o desemprego continue em queda”, pondera.

Sérgio Mendonça, do Dieese, lembrou ainda que a relação entre o crescimento da economia do emprego está muito elevada – para cada ponto de crescimento do PIB, há meio ponto de expansão do emprego. O que significa dizer que uma alta de 8% do PIB corresponderia a aproximadamente 4% de alta da ocupação. “Combinando crescimento da economia, essa elasticidade (PIB/emprego) e o aspecto demográfico, é quase certo que o desemprego continue caindo nos próximos anos”, afirmou o economista. E a expansão não se restringe à maior região metropolitana do país, acrescenta. “O que está acontecendo em São Paulo também está acontecendo em outras regiões, e até mais rapidamente. A expansão do emprego não é paulista.”

Na região metropolitana de Recife, por exemplo, a taxa média de desemprego caiu quase cinco pontos percentuais entre dezembro de 2009 (17,5%) e de 2010 (12,8%). Em Salvador, a queda superou três pontos (de 17% para 13,8%). Ainda nesse período, Recife abriu 122 mil vagas e ficou com 78 mil desempregados a menos. Em Salvador, são 100 mil ocupados a mais e 53 mil desempregados a menos. Em Fortaleza, foram 72 mil empregos criados e 19 mil desempregados a menos. Na região metropolitana de Porto Alegre, o número de ocupados aumentou em 90 mil e o de desempregados se reduziu em 41 mil.

Dos 698 mil empregos criados em 12 meses, até dezembro, o destaque foi o setor de serviços, com 439 mil. A indústria abriu 190 mil vagas e o comércio, 84 mil. A maior alta percentual (7,3%) foi da construção civil, que criou 90 mil empregos. A indústria está em recuperação, mas ainda em nível pré-crise, disseram os técnicos.

Salários

O rendimento também mostrou resultados positivos. Em 12 meses, até novembro, a renda média dos ocupados (R$ 1.386) subiu 9,4%. A massa de rendimentos cresceu 13,6%, o que ajuda a explicar o crescimento sustentado pelo mercado interno. “É um dado favorável para segurar o crescimento à frente, por mais que a economia desacelere”, disse Mendonça. Considerados o total de ocupados nas sete regiões (19,95 milhões) e o rendimento médio (R$ 1.386), a massa de rendimentos atinge R$ 27,6 bilhões.

Loloian destacou a necessidade de investir mais em infraestrutura e apontou as incertezas causadas pelo câmbio e pelos juros como questões em aberto. “Tudo indica que continuaremos crescendo. A dúvida é quantos empregos vamos exportar e quantos vamos criar aqui”, comentou o coordenador do Seade.

Loloian lembrou ainda que, apesar de o rendimento mostrar recuperação, ainda é inferior (no caso de São Paulo) ao registrado em 2000. A possibilidade de que o salário mínimo não tenha aumento real – caso seja mantido em R$ 540 como propõe o governo federal – pode ser “a grande novidade de 2011”, segundo Mendonça. “Isso deve afetar algumas regiões, como Recife, Salvador e Fortaleza. Em São Paulo, o efeito é menor.”

Ainda na região metropolitana de São Paulo, o tempo médio de procura por emprego em 2010 caiu para 34 semanas, três a menos do que no ano anterior.

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