Prefeitura atribui nova inundação em São Paulo à chuva na cabeceira do Tietê

Moradores da Vila Romano afirmam que enchente faz parte de estratégia para que região fique livre para construção de parque

Pessoas ajudam a empurrar veículo que parou em ponto de alagamento na área da Estrada Velha , no Jd. Romano (Foto: Leonardo Wen/Folha Imagem)

A Prefeitura de São Paulo atribuiu a nova inundação na Zona Leste da capital paulista ao volume de chuva registrado na cabeceira do Rio Tietê. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) esteve na manhã desta sexta-feira (8) no Jardim Romano, que há um mês vive praticamente debaixo d’água.

Moradores explicaram à Rede Brasil Atual que a água havia recuado bastante desde a primeira enchente, há exatamente 30 dias, mas que a chuva de quinta-feira (7), de 16 milímetros naquela região da cidade, fez com que tudo voltasse a ser alagado.

 O prefeito, que novamente enfrentou protestos durante a visita, prometeu conversar com os governos estadual e federal na tentativa de garantir isenção de impostos e de taxa de água aos habitantes afetados pelo problema.

Parte da população local, no entanto, entende que não é o prefeito quem deve prestar conta dos problemas, mas o governador do estado, José Serra. Um morador que pediu para não ser identificado apontou que as enchentes começaram quando o governo estadual decidiu fazer na região o Parque Linear Várzeas do Tietê. “Foi a maneira que encontraram de expulsar a população daqui”, acusa.

O morador aponta que as únicas vezes em que o bairro alagou foi devido à abertura de represas locais, em especial a da Penha. Agora, a abertura teria sido entre a madrugada de oito e a tarde de nove de dezembro.

Renê Andrade dos Santos, líder comunitária da vizinha Vila Itaim, reclama que, por lá, não há atenção por parte do poder público. “Eles deveriam vir aqui nos orientar. As pessoas estão correndo para o Jardim Romano porque aqui não vem ninguém. Nós não temos uma alternativa e trabalhamos com a perspectiva de que amanhã tudo melhore”, afirma. Ela organizou uma lista com 60 famílias que precisam de doações, como roupas, fraldas, cobertores, alimentos e água potável.

Os moradores, no entanto, não querem apenas doações. Uma reunião na terça-feira na sede do Ministério Público Estadual deve delinear a possibilidade de ingressar com uma ação contra o governo de São Paulo. “Que indenize as pessoas pelo que se proporcionou. Morreram quatro pessoas e há várias doentes. Gente que ficou no mínimo 40 horas debaixo de água. E tem o esgoto represado, o esgoto que não tem tratamento”, afirma o morador que quis manter a identidade em sigilo.

O Movimento de Urbanização e Legalização do Jardim Pantanal acusa que, dentro da estratégia de manter o local alagado há o oferecimento de linhas de financiamento pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Os moradores mais antigos, que estão no local há duas ou três décadas, resistiam inicialmente à proposta de deixar o que construíram ao longo de tanto tempo em troca de um longo e caro financiamento. Mas, agora, diante das longas semanas de inundação, há quem esteja mudando de ideia.

“As pessoas estão desiludidas e cansadas com tantos problemas. Chegamos no nosso limite”, disse o presidente da Associação dos Moradores da Vila Aimoré, Raimundo dos Anjos Brito.

De acordo com a Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo, 280 famílias do Jardim Romano já aderiram aos programas da CDHU. 450 aceitaram auxílio-aluguel e terão novas moradias apenas dentro de dois anos.

Até mesmo o prefeito Gilberto Kassab admite que boa parte da população não confia nas promessas do poder público: “O grande desafio das assistentes sociais é mostrar à população da região que estas moradias serão construídas. É importante que elas aceitem nossas opções de transferência, porque elas terão um local com dignidade para morar com seus filhos”.

Com informações da Agência Brasil.

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