Enchentes mostram erro de SP depender da Marginal Tietê

Para ex-secretário de Planejamento da capital paulista, em vez de alargamento da via expressa, decisão deveria ser construção de avenidas paralelas à marginal

Avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte, foi um dos pontos de alagamento da cidde (Foto: Lucas Duarte de Souza)

Prometida como uma das grandes obras da gestão do governador José Serra (PSDB), a ampliação da Marginal Tietê é novamente colocada em xeque com o alagamento da principal via expressa paulistana nesta terça-feira (8). A via foi o principal ponto de entrave para a cidade, já que a maior parte de sua extensão ficou intransitável.

Para Jorge Wilheim, arquiteto urbanista e secretário de Planejamento da Prefeitura de São Paulo em duas gestões, as obras de ampliação não devem ter agravado o alagamento, embora o fato chame atenção para o equívoco do enorme investimento feito na Marginal. Wilheim defende a construção de duas vias paralelas como forma de melhorar o trânsito na região, além dos pesados e reiterados investimentos no transporte público.

O pesado investimento de R$ 1,3 bilhão, que antes já era colocado em dúvida pelos impactos ambientais da obra, volta a ser questionado pela possibilidade da aplicação de recursos em outros setores. A ampliação da Marginal é vista como a prioridade que se dá ao transporte privado e individual no momento em que o mundo discute alternativas ambientalmente mais adequadas.

O governo de São Paulo prometia redução dos congestionamentos, o que acarretaria menos combustíveis queimado nos veículos engarrafado, compensando a diminuição da cobertura vegetal na beira do rio. A obra, sempre muito criticada por especialistas, não recebe de arquitetos ouvidos pela Rede Brasil Atual a responsabilidade pelo alagamento desta terça.

Ainda que tenha havido a remoção das árvores que de alguma maneira protegiam o rio, o volume de chuva, aproximadamente metade do previsto para o mês de dezembro, é considerado suficientemente alto para que ocorra o transbordamento do Tietê.

Wilheim entende que o ponto a ser averiguado é se a dragagem do rio está sendo devidamente realizada. O aprofundamento da calha foi fundamental, em sua visão, para evitar cheias e cabe averiguar se a manutenção vem sendo feita adequadamente, evitando o depósito de areia no leito do Tietê.

Em relação às avenidas paralelas à via expressa, o urbanista sugere que, em um sentido, fossem alargadas avenidas de continuação da Marquês de São Vicente até o bairro da Penha. No outro lado, há o projeto de uma via que segue por áreas públicas, não havendo necessidade de grandes desapropriações. Os esforços seriam complementados pela construção do Trecho Norte do Rodoanel, na visão do especialista.

Histórico

Outro transbordamento do Tietê, embora de menor magnitude, ocorreu em setembro deste ano. Na ocasião, três mortes foram registradas na região metropolitana de São Paulo. O governador José Serra afirmou então que a inundação da Marginal não se devia aos trabalhos de ampliação. “Foi uma chuva inusitada. Mesmo que estivesse tudo impecável seria inevitável haver problemas graves. (…) Temos que rezar para que isso não se repita”, disse o governador.

Na atual enchente, o governador até o momento não se pronunciou. O prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, culpou a intensidade das chuvas, ao mesmo tempo em que tentou capitalizar politicamente as ações da administração municipal para a área, mesmo diante dos transtornos provocados pelos pontos de alagamento.

Em 2005, quando as obras de aprofundamento da calha do Tietê estavam em andamento, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), atual secretário de Desenvolvimento de Serra, anunciava que jamais voltaria a haver enchente na Marginal. Mas, em maio do mesmo ano, São Paulo viveu situação parecida com a desta terça e o governo estadual teve de admitir que não havia milagre. 

Na conclusão das obras, março de 2006, a estatística apresentada era de apenas 1% de chance de novas enchentes.

 

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