Juiz move ação contra o estado para conseguir internar dependente químico

Governador Geraldo Alckmin garante que leitos são suficientes. Maioria das pessoas chega levada por familiares ou quer voluntariamente se tratar. Uma pessoa foi internada compulsoriamente

Em visita ao Cratod, governador garantiu que vagas são suficientes e prometeu mais ambulâncias para busca de dependentes (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – O governador Geraldo Alckmin (PSDB) garantiu hoje (23) que há vagas para atender a toda a demanda de dependentes químicos que procurarem o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), no Bom Retiro, no centro de São Paulo. No entanto, há problemas no atendimento e na disponibilidade das vagas. O Tribunal de Justiça informou à noite que uma pessoa havia sido internada compulsoriamente. Outras sete pessoas foram internadas voluntariamente.

O plantão judiciário precisou atuar em um pedido de busca ativa por uma dependente de crack que, segundo a mãe, estava grávida e ferida e vagando por ruas da zona sul (a busca, no entanto, não ocorreu porque a mãe desistiu), na avaliação do pedido de internação compulsória e em duas ações em que não havia vaga para internar duas pessoas com indicação clínica, além de atuar em um pedido de transferência. Em um dos casos foi preciso mover uma ação contra o estado exigindo uma vaga em até 24 horas, o prazo se esgota ainda nesta quarta-feira.

Segundo o juiz Iasin Issa Ahmed, foi necessário mover a ação porque a médica que indicou a internação foi informada de que não havia vaga. O paciente já estava internado, mas precisava de um leito para internação mais prolongada. O juiz e também defensores públicos avaliam que os leitos existem, mas a dificuldade para conseguir as vagas é administrativa.

Foi o caso de Elder Tavares, pai de um rapaz de 23 anos, esquizofrênico e dependente de diversas drogas, que precisou sair de Cotia, a 34 quilômetros da capital, para buscar atendimento para o filho. Depois de esperar entre 7h e 9h, conseguiu a indicação médica para a internação. Mas às 15h, sem nenhuma intervenção judicial, ainda aguardava a liberação da vaga. “Está tudo muito confuso. Eles dizem que tem vaga, mas o próprio médico que o atendeu disse que não tem”, afirmou.

“Ninguém vai ser deixado. Todos estão sendo cuidados, como houve uma corrida, uma demanda grande para cá, as pessoas estão sendo orientadas que os casos ambulatoriais são nos Caps (Centro de Apoio Psicossocial). Não há hipótese de alguém com autorização judicial, não ser internado”, garantiu o governador.

“Nós temos vagas para internação. Estamos abrindo vagas exclusivamente para poder atender à comunidade. Os pacientes estão vindo, estão sendo encaminhados. Agora, existem casos que precisam ficar em obervação para saber se tem indicação de internação. Existem casos que não precisam de internação. A família tem de assumir”, disse o secretário estadual de saúde Giovanni Guido Cerri.

Desde segunda-feira (21), quando o plantão judiciário foi instaurado na sede do Cratod, sem incluir os números de hoje, 80 pessoas procuraram atendimento. Antes, a demanda não passava de 30 por semana. A grande procura, principalmente de pessoas de outras cidades e regiões distantes da área chamada pejorativamente de cracolândia, no centro, gerou problemas no atendimento e foi preciso trazer equipes de outros hospitais estaduais para reforçar as análises clínicas. 

O Cratod, não conta por exemplo, com ambulâncias suficientes para buscar pessoas para serem avaliadas. Segundo o juiz Ahmed, o pedido informal foi feito ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), que sinalizou a possibilidade de uma viatura. “Mas a gente precisa de dez para fazer isso”, acredita. Caso as ambulâncias não cheguem, o juiz deve entrar com um pedido judicial. 

O crescimento da demanda fez com que o governador Geraldo Alckmin anunciasse hoje o aumento dos leitos destinados a esse tipo de tratamento, de 691 para 757.

“Houve uma corrida aqui para o Cratod. Aqui, na verdade, não é um pronto-socorro e acabou virando um. Nós estamos estruturando para poder atender a essa demanda”, admitiu o secretário de Saúde. Entre as medidas anunciadas está a destinação de 66 vagas exclusivas para atendimento de pessoas provenientes do centro de referência, a criação, até a próxima semana, de um número 0800 para que familiares possam receber as primeiras orientações por telefone e a abertura de centros de referência semelhantes ao Cratod em Botucatu, Cotoxó e Ribeirão Preto, cidades do interior do estado.

A recomendação é para que os parentes dos dependentes busquem primeiro os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) porque a maioria dos casos, segundo avalia a equipe de saúde, são de atendimento laboratorial e não exigem internação.

No entanto, os familiares criticam o atendimento nos Caps. “Lá eles conversam, fazem o atendimento. Mas não isolam a pessoa. Aí a pessoa sai da consulta e na calçada mesmo já encontra gente usando drogas”, afirma Tavares, cujo filho, segundo ele, já ficou internado várias vezes, mas em períodos sempre menores do que um mês, o que ele julga insuficiente. “Um mês não cura ninguém, precisava ficar mais tempo”, acredita.

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