Moradores de favela incendiada queixam-se a Haddad sobre proibição de reconstruir casas

O candidato do PT foi convidado por líderes comunitários a conversar com os atingidos pelo incêndio de segunda-feira (Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad) São Paulo — Convidado por lideranças comunitárias da […]

O candidato do PT foi convidado por líderes comunitários a conversar com os atingidos pelo incêndio de segunda-feira (Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad)

São Paulo — Convidado por lideranças comunitárias da favela do Moinho, o candidato a prefeito Fernando Haddad (PT) fez, na tarde de hoje (19), uma visita aos atingidos pelo incêndio que destruiu na segunda-feira (17) parte da comunidade, na região de Campos Elísios, centro de São Paulo. Haddad escutou as reivindicações dos moradores, principalmente sobre a proibição de reconstruir as moradias destruídas, determinação da gestão Gilberto Kassab (PSD) que é cumprida pela Guarda Civil Metropolitana. Para a auxiliar de limpeza Tatiana Gomes, de 33 anos, a visita “é importante, mas somente isso não vai mudar a nossa realidade, não vai ajudar quem perdeu tudo”.

Cercado pelos moradores, bem próximo ao local onde ocorreu o incêndio, Haddad ouviu muitos questionamentos sobre a função desempenhada pela Guarda Civil Metropolitana no local, que, de acordo com a população, está lá simplesmente para evitar a reconstrução das moradias. Havia 23 viaturas, entre carros e bases móveis, na entrada da comunidade. Acompanhado do repositor Marcos de Moura, de 31 anos, o candidato questionou o Inspetor Ferreira sobre a proibição. O guarda civil respondeu que tinha ordens para impedir qualquer reconstrução na área.

Como os moradores insistiram na necessidade de refazer suas casas, já que perderam tudo e passaram as últimas três noites na rua, Ferreira ironizou dizendo que eles deveriam “ter fé”. Somente na tarde de hoje, três dias após o incêndio, as pessoas receberam autorização para ocupar um barracão na entrada da comunidade, onde estavam acumuladas algumas doações de roupas e restos de carros alegóricos.

Indignado, Moura conta que os moradores começaram a reconstruir alguns barracos e somente depois de boa parte do trabalho feito foram impedidos de concluí-los pela GCM. “Tiramos o entulho, restos dos barracos e começamos a trabalhar. Ficamos desde a manhã até o fim da tarde construindo. Então, chegaram os guardas e mandaram a gente parar”, explica. Ele afirma que os moradores não aceitaram a imposição e os guardas chamaram reforço. Após um princípio de tumulto as pessoas foram afastadas do local a força e, os barracos, derrubados.

“A gente não quer muita coisa, só um teto. A gente não vive aqui porque quer, é por necessidade. Hoje minha cama e a de muita gente aqui é o chão e o teto é esse azulzão do céu, não temos roupa, não tem onde tomar banho”, diz Moura. Ele relata ainda que tem um filho de dois anos, que foi morar com a irmã. “Mas eu não posso ir para a casa dela. Minha irmã é casada, tem a vida dela e eu não quero atrapalhar a vida de ninguém”, conclui.

A auxiliar de limpeza Denise Agnes, de 34 anos, diz que não está havendo qualquer auxílio por parte da prefeitura, além do cadastro social. É a segunda vez que ela é vítima de incêndio na Moinho. Em dezembro do ano passado, quando ocorreu o primeiro episódio, ela já havia perdido tudo. “A gente se virou para resolver na primeira vez. Não houve nenhum tipo de auxílio, nem cadastro social foi feito naquela vez. Trabalhamos, reconstruímos e agora perdemos tudo de novo. Não sei mais o que fazer”, diz.

Andando pela comunidade a reportagem encontrou a cabeleireira Selma de Melo, de 49 anos, que afirma ser a irmã de Damião Melo, única morte registrada no incêndio. Ela veio conhecer o local após fazer exame no Instituto Médico Legal, para que seja feito reconhecimento e sepultamento do corpo do irmão. “Eu não sei o que fazer, ninguém sabe me orientar, o poder público não se responsabiliza. Ficamos sabendo da morte dele pela TV e hoje fui fazer exame de DNA para confirmar a identidade”, conta Selma. Ela informou que mora em Itaquera e que o irmão vivia na comunidade há quatro anos.

Cerca de 80 barracos foram destruídos, deixando cerca de 300 pessoas desabrigadas. É a segunda vez que a comunidade, localizada entre as estações Barra Funda e Júlio Prestes da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), é incendiada. A primeira foi em dezembro do ano passado, quando foram destruídos 180 barracos. Nos últimos anos, a área onde está a favela do Moinho vem sendo alvo de disputas judiciais entre os moradores e a prefeitura da capital, que pretende construir um parque no local.

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