Desabrigados de incêndio em São Paulo não receberam abrigo da prefeitura

As 46 famílias que perderam suas moradias em incêndio ocorrido no último sábado (18) dependem da ajuda parentes; Defesa Civil afirma que afetados não solicitaram ajuda

Incêndio de grandes proporções atingiu favela na rua Alba, região do Jabaquara. Não houve vítimas.(Rivaldo Gomes/Folhapress)

São Paulo – A prefeitura de São Paulo não providenciou abrigo público para as 46 famílias que perderam suas casas no incêndio ocorrido no último sábado (18), na favela Alba, zona sul da cidade. Sem ter para onde ir há três dias, eles contam com a solidariedade e procuram hospedagem na casa de parentes e amigos. Pelo menos 130 pessoas estão desabrigadas, de acordo com a Defesa Civil Municipal.

O órgão informou que o abrigo não foi providenciado porque os moradores não o solicitaram, por preferirem se hospedar com conhecidos no bairro. Os moradores, no entanto, afirmam que ele não foi oferecido. “E se oferecessem iam esquecer a gente lá [no abrigo], como foi em outros casos”, teme o morador Marcos Alberto, que perdeu tudo no incêndio e está na casa da sobrinha.

Um funcionário de uma escola municipal do bairro, que preferiu não se identificar, disse que a Defesa Civil chegou a pedir autorização para usar o prédio como abrigo, mas não deu continuidade ao processo. A escola cederá uma sala para uma reunião entre os moradores e representantes da prefeitura amanhã (22), às 18h30.

Os desabrigados garantem que a Defesa Civil só chegou ao local oito horas depois do incêndio, para entrega de colchões e cobertores. “Não recebemos almoço”, conta a empregada doméstica Nercina Café, de 65 anos, que perdeu tudo e está hospedada na casa da filha. “Agora só tenho a roupa do corpo”.

Nercina, que mora na favela Alba desde que chegou da Bahia, há 22 anos, lembra que já vivenciou três incêndios no local, sendo que o primeiro foi contido a apenas duas residências e o segundo em um local distante da sua casa. “Só esse me prejudicou. Agora é limpar o terreno para montar tudo de novo”, afirma.

Sua neta, Lidiane de Jesus, de 24 anos, que não teve a casa afetada pelo fogo, lembra que toda limpeza é feita pelos próprios moradores, incluindo crianças, sem a ajuda da prefeitura. Ela conta também que a favela, que ocupa um terreno da administração municipal, já havia sido demarcada para ser desapropriada e que os moradores já foram cadastrados em programas de habitação.

Bolsa aluguel

A Secretaria Municipal de Habitação ofereceu aos desabrigados bolsa-aluguel de R$ 300, porém, eles reclamam que o valor não é suficiente para cobrir o aluguel na região. “Por aqui os preços estão por volta de R$ 500 ou R$ 600, somando a água e a luz chega a R$ 800. É muito dinheiro”, conta Rogério da Silva, que perdeu tudo e está na casa de uma tia. Sua esposa, Gislaine Rosa da Silva, e seus filhos, de 2 e 5 anos, estão na casa da sua sogra.

A reportagem da Rede Brasil Atual procurou a Secretaria de Habitação para confirmar as informações, mas, até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta. As causas do incêndio ainda não são conhecidas. A polícia científica esteve no local e deve entregar o laudo em 30 dias. Os moradores e a Defesa Civil acreditam que se trata de uma sobrecarga de energia.

Histórico preocupante

Casos de Incêndios em favelas têm sido recorrentes em São Paulo. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram 530 ocorrências na cidade desde 2008, o que motivou vereadores a abrirem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal para apurar as possíveis causas do problema. Até agora, porém, a CPI, dominada pela base aliada ao prefeito Gilberto Kassab (PSD), “não começou”, conforme palavras do presidente do colegiado, Ricardo Teixeira (PV). 

Na sexta-feira (17), véspera do incêndio na Alba, uma favela próxima à Ponte dos Remédios, na zona oeste, sofreu com uma ocorrência do tipo. E em 27 de julho os moradores da favela Humaitá, também na zona oeste, foram as vítimas. Também naquele caso a prefeitura não apresentou uma solução para os 400 desabrigados, que passaram a dormir e a comer no vestiário de um clube. 

Colaborou Estevan Muniz.

 

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