Moradores da favela Humaitá, incendiada nesta madrugada em São Paulo, ainda não têm abrigo

Mais de 400 desabrigados esperam definição da prefeitura sobre o destino que tomarão depois do incêndio ocorrido nesta sexta (27), às 3h; causas ainda são desconhecidas

Moradores passaram o dia em meio aos escombros para tentar recuperar objetos (Sarah Fernandes/ RBA)

São Paulo – No fim da tarde desta sexta-feira (27), depois do incêndio que durante a madrugada destruiu pelo menos 150 barracos na favela Humaitá, na zona oeste de São Paulo, os mais de 400 desabrigados ainda não sabiam onde passar a noite. No começo da tarde, receberam colchões e cobertores da prefeitura e improvisaram um local de repouso em uma praça próxima à favela. Embaixo das árvores, fileiras de colchões acolhiam crianças e idosos. A refeição, cedida pela prefeitura, foi feita lá mesmo, sob o sol do meio-dia. Não houve distribuição de água. 

De acordo com a Subprefeitura da Lapa, responsável pela área, a Defesa Civil municipal estava analisando para qual abrigo levar as famílias. A previsão era que fossem encaminhadas para o do Jaguaré. Havia ainda a possibilidade de que parte dos moradores fosse abrigada na sede de um clube público instalado no bairro, o Clube da Cidade.

Uma igreja evangélica da comunidade virou ponto de armazenamento de fraldas, leite, pão e água e de recebimento de doações de roupas e calçados, feitas por moradores do bairro. “Quando percebi o fogo acordei minha mulher e saímos correndo. Só deu tempo de pegar o RG. Essa camiseta que estou vestindo ganhei agora”, contou o morador Eliseu de Jesus, que perdeu tudo. 

As causas do incêndio ainda não foram divulgadas. A polícia científica esteve no local pela manhã realizando perícia. Os moradores suspeitam de que uma panela esquecida no fogo tenha gerado o incêndio. Também circula a hipótese de curto circuito de uma resistência.

Moradores relataram que, há alguns meses, receberam uma carta de um oficial de justiça solicitando que deixassem o local, um terreno de ocupação irregular, que pertence à prefeitura, ao governo estadual e a proprietários privados. De acordo com eles, o processo não teve andamento.

Organização

A defesa civil e a polícia militar instalaram bases móveis na praça para cadastrar os desabrigados e entregar uma cesta básica e um kit de higiene para cada morador. Em uma longa fila, um a um, os desabrigados preenchiam fichas com nome, número do documento de registro geral, número do barraco e quantidade de pessoas da família. As assistentes sociais entregavam atestados para as pessoas que não puderam ir trabalhar por conta do acidente.

Rosimeire Luci, moradora da favela, tomou a frente da comunidade para ajudar no trabalho da prefeitura, passando informações sobre os vizinhos. “Queremos que todos recebam ajuda, mas exatamente na quantidade que têm direito, porque, se a mesma tragédia acontecer em outra favela, pode faltar colchões ou cestas básicas lá.”

Apesar da mobilização, não havia controle sobre quem circulava pelos escombros. Muitas crianças reviravam as cinzas na tentativa de recuperar algum objeto, mesmo com algumas pequenas labaredas que persistiam no local.

Os bombeiros não estavam presentes. Uma moradora que teve queimaduras leves no rosto e no braço passou, por conta própria, uma pomada indicada para bebês no ferimento. “Não sei se pode ajudar ou não, mas estava ardendo”, disse.

“Aqui estou como indigente. Não tenho mais nada, nem meus documentos consegui salvar. No desespero saí descalço, vestindo só essa bermuda’, mostrou o morador José Carlos Sodré. “Assim, de que jeito vou conseguir recomeçar?”, questionou, com lágrimas nos olhos.

Leia também

Últimas notícias