Após cassar licenças, prefeitura de São Paulo destrói bancas de ambulantes

Antes habituados ao “rapa”, os ambulantes de São Paulo têm agora de enfrentar a proibição de Kassab (Foto: Arquivo Monica Campi) São Paulo – “É uma estupidez”, diz Maria Celina […]

Antes habituados ao “rapa”, os ambulantes de São Paulo têm agora de enfrentar a proibição de Kassab (Foto: Arquivo Monica Campi)

São Paulo – “É uma estupidez”, diz Maria Celina Marra, de 65 anos, assistindo à cena de destruição na zona sul de São Paulo. Vendedora ambulante, ela e centenas de colegas perderam ontem (31) as bancas nas quais trabalhavam no bairro do Jabaquara. Após cassar as licenças de trabalho dos ambulantes, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) decidiu ordenar a repressão e a destruição das estruturas nas quais atuavam. 

Segundo o Sindicato dos Microempreendedores e da Economia Informal do Estado de São Paulo, por causa da cassação das licenças, estima-se que cerca de 500 trabalhadores da região ficarão sem emprego.  Indignados, vendedores fizeram protestos no mesmo dia, em frente à prefeitura. “Essa estupidez apavora a gente, o barulho da máquina e o martelo doem nossos ouvidos e vai doer na barriga de muita gente”, afirmou a diretora do sindicato.

A advogada Juliana Avanci, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, afirma que o subprefeito do Jabaquara, Roberto Marciano, negou o pedido de prazo para que os trabalhadores pudessem retirar as suas mercadorias e as bancas. 

Para a vendedora ambulante Maria Teixeira da Silva, a situação é de revolta. “Eles não querem saber se você tem conta ou não, interrompem a sua vida, pegam as suas coisas, vão embora e não oferecem nada”, disse.

Segundo Denivaldo Vieira de Azevedo, trabalhador que mantinha a sua banca fixa no local desde a regularização, em 2002, a partir do momento em que prefeitura concedeu a permissão de uso, os ambulantes pagam cerca de R$ 1.000 por ano de impostos.

José Oliveira Santos, ambulante há 14 anos no local, afirma que a administração de Gilberto Kassab (PSD) não maltrata apenas os ambulantes, mas também as famílias alimentadas por este trabalho.  “Infelizmente o governo não olha para a classe trabalhadora, não pensa no ser humano. Se pensasse, chamaria a gente para conversar e dava outro local para instalarmos as nossas barracas”, disse.

João Batista Lopes, que teve a sua licença cassada em abril de 2011 e agora trabalha com o sogro, disse que, além da ação feita ontem contra os ambulantes, ele também está ameaçado de perder a moradia por causa da operação urbana Água Espraiada. “Nós, nordestinos que viemos aqui para construir São Paulo, temos de voltar para as nossas terras, porque se ficarmos aqui, estaremos como as pessoas na Cracolândia, sem opção. A cidade de São Paulo está desse jeito”, disse. 

Protestos

Trabalhadores ambulantes de todas as regiões de São Paulo, organizados pelo Fórum de Ambulantes da cidade paulistana, fizeram manifestação em frente à prefeitura contra a cassação de suas licenças. “Além de discutir o direito à cidade e ao trabalho, estamos denunciando a prefeitura das atrocidades que vem cometendo com esses trabalhadores ambulantes”, afirmou o representante do fórum, Otávio Anísio Amaral Ramos.

Na última terça-feira (29), a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos ingressaram com uma ação contra a prefeitura por causa da perseguição aos ambulantes. A assessora pedagógica, Luciana Itikawa, da entidade, ressalta que a ação feita pela prefeitura, fere os direitos trabalhistas garantidos pela agenda do trabalho decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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