CPTM sofre por falta de investimentos e aumento de usuários, diz consultor da ONU

Usuários lotam plataforma inadequada: CPTM não acompanha demanda e impõe sofrimento à população (Foto: ©Rivaldo Gomes/Folhapress) São Paulo – O aumento de usuários nas linhas da Companhia Paulista de Trens […]

Usuários lotam plataforma inadequada: CPTM não acompanha demanda e impõe sofrimento à população (Foto: ©Rivaldo Gomes/Folhapress)

São Paulo – O aumento de usuários nas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a falta de investimento em infraestrutura no sistema explica os sucessivos problemas no transporte ferroviário em São Paulo. O diagnóstico é do especialista em transportes, Sérgio Ejzenberg, consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) no Programa de Desenvolvimento de Transportes para Bogotá e Colômbia.

“Isso não poderia ter acontecido. Na hora que você ofereceu integração [com o metrô e o ônibus] chamou gente para o sistema. E obviamente a rede [elétrica] não suporta a demanda atual”, disse Ejzenberg.

“Você percebe que há uma exigência maior de alimentação, tudo isso precisa de energia. E a rede seguramente não estava preparada para isso. Isso explica os recorrentes problemas que sempre se dão no pico da manhã”, acrescentou.

Na última quinta-feira (29), um problema elétrico na Linha 7-Rubi (Luz – Francisco Morato – Jundiaí) da CPTM causou a paralisação dos trens entre as 7h e 10h, quando o funcionamento foi retomado parcialmente. Apenas às 15h a totalidade do sistema voltou a operar. Em uma das estações mais atingidas, a Francisco Morato, usuários revoltados com os sucessivos problemas destruíram catracas que davam acesso à área de embarque.

“Se a CPTM sabia [do aumento de passageiros] e não tomou providências, é inépcia. Se ela não sabia, é falta de planejamento. Se sabia, tomou as providências e não conseguiu orçamento para fazer, é decisão política equivocada. Há algum erro em algum lugar”, disse o especialista. Pedido de entrevista à CPTM não foram respondidos até a noite da sexta (30).

Deputados estaduais membros da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo fizeram uma inspeção na Estação Francisco Morato. “O que houve aqui é resultado da ebulição de tudo que vem ocorrendo nas linhas da CPTM. Há diminuição do investimento do governo e cortes no orçamento”, disse o deputado Alencar Santana Braga (PT).

De acordo com ele, a bancada petista fez uma representação no Ministério Público Estadual pedindo apuração sobre omissão do governo na manutenção da linha. Na Estação Francisco Morato, os usuários precisam cruzar a linha do trem a pé antes de chegar a plataforma de embarque. “As pessoas são colocadas em risco”.

O PT também deverá convocar o secretário de transportes do estado, e o presidente da CPTM para esclarecer aos deputados as sucessivas falhas que estão ocorrendo no sistema.

Segundo a CPTM, a linha ontem demorou quase oito horas para retomar totalmente o funcionamento devido aos usuários que desceram dos trens e tomaram os trilhos. “Por questão de segurança, a circulação de trens que vinha ocorrendo parcialmente teve de ser interrompida, o que provocou lotação nas estações dessa linha”, informou a companhia, em nota.

O frequentador da Estação Francisco Morato, Fábio Alexandre Souza, disse que já recebeu advertência no trabalho por chegar atrasado. “Eu chego aqui às 4h30 da manhã. Não é questão de fila aqui dentro, é que não cabe ninguém dentro da estação. A fila fica lá fora. Ultimamente a situação tem piorado, o trem vem de 40 em 40 minutos, e já chega lotado de Franco da Rocha [uma das estações anteriores]”.

“Toda a semana tem paralisação por falta de energia. Principalmente no final de semana. Final de semana não tem trem. Demora 30 minutos para chegar e mais 30 para sair”, acrescentou.

Marcio Nazario Ribeiro, também usuário da estação, conta que na quinta-feira dos incidentes perdeu o dia de trabalho por falta da condução. De acordo com ele, além da lotação dentro da estação, há falta de espaço dentro dos trens. “Aqui tem todo tipo de problema: paralisação, muito intervalo entre os trens e está sempre muito lotado. Os trens parecem ‘lata de sardinha’”, comparou. “Ontem mesmo eu não pude trabalhar, e aí tive que voltar para casa. Quando falta trem, eles tentam colocar ônibus, só que os ônibus já vêm cheios”, completou.

Em nota, a CPTM voltou a dizer que herdou sistemas antigos, e também repetiu que agora estão recebendo investimentos para sua modernização. “Somente neste ano serão mais R$ 1 bilhão para obras de infraestrutura (sinalização, telecomunicações, energia, rede aérea, via permanente e construção de passarelas), além da modernização das estações mais antigas e da frota de trens”, informou. A companhia ainda destacou que a rede aérea de energia e os sistemas de alimentação elétrica dos trens estão sendo trocados e novas subestações de energia estão sendo construídas em todas as linhas.

“Já está em fase de conclusão a licitação para contratação de projeto executivo, fabricação, fornecimento e instalação de novas subestações para as linhas, cujos investimentos são de R$ 664 milhões”, dizia o comunicado.

No primeiro trimestre de 2012, a CPTM registrou 15 ocorrências que prejudicaram o funcionamento normal dos trens – média de mais de um incidente por semana. Quatro dessas ocorrências foram provocadas por falha no sistema de alimentação elétrica. Sobre as demais, a CPTM classifica suas causas comor “fatores externos”, categoria que inclui alagamentos, mas também falhas nas composições.