Aparato policial é destaque em audiência pública do projeto Nova Luz em SP

Encontro destinado a esclarecer população sobre projeto Nova Luz terminou com respostas evasivas da Prefeitura de São Paulo e reclamações da comunidade

São Paulo – O contingente de policiais militares, guardas civis metropolitanos e seguranças particulares destacados para acompanhar a audiência pública realizada esta quarta-feira (28), pela Prefeitura de São Paulo para apresentar o projeto Nova Luz chamou atenção dos participantes do encontro. O evento foi realizado no ginásio do Pacaembu, zona oeste da cidade. As audiências seguem nesta quinta (29) e sexta (30). Cerca de 140 guardas civis foram deslocados ao local, de acordo com o inspetor Ademilson Moura Santos, da GCM, três cães policiais e mais 25 policiais militares.

O projeto prevê a requalificação da região de Santa Ifigênia e Luz, no centro da capital, considerada “degradada” com intervenções urbanísticas, desapropriações e demolições na região. A medida deve ser aplicada a 45 quarteirões.

A estrutura de segurança da reunião – com cavaletes de metal para isolar a população em corredores estreitos – chocou movimentos sociais, associações de moradores e de comerciantes. “É aviltante a quantidade de sistemas de segurança neste local”, criticou a presidenta da Associação Amoaluz, Paula Ribas, conselheira da Zona Especial de Interesse Social (Zeis) da região.

A moradora questionou o aparato, o distanciamento dos técnicos da Prefeitura da comunidade e a falta de comunicação sobre o evento. “Quero registrar a péssima comunicação para audiências públicas da Companhia City (uma das empresas do consórcio que elaborou o projeto urbanístico da Nova Luz). Não foi comunicado que as pessoas não poderiam trazer água, sombrinha ou pilhas, por exemplo, e as pessoas tiveram de jogar seus pertences fora porque não havia lugar para deixar”, desabafou, em sua fala na audiência.

“Esta é uma audiência pública para encurralar a população. Muito desagradável essas grades e corredores policiais para receber trabalhadores e moradores”, reclamou Sidney Pitta, ativista do movimento de moradia popular na capital.

Ivanete Araújo, conselheira da Zeis, comparou o aparato de segurança à festa de peão de Barretos (SP). “Só não sei quem é o boi”, ironizou. 

No interior do ginásio, a comunidade ficou isolada do palco, de onde a secretária de Habitação, Elisabete França, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, e outros representantes da Prefeitura ouviam o público. Todas as manifestações foram filmadas e os participantes cadastrados e revistados.

Problemas persistem

Durante a audiência destinada a apresentar o projeto à comunidade que sofrerá os impactos da requalificação urbanística, que será executada por empresas privadas, lideranças de moradores e comerciantes voltaram a criticar a falta de transparência das ações da Prefeitura, a ausência de políticas sociais para a população e a falta de atendimento médico especializado aos dependentes químicos que frequentam ruas da região.

Paula Ribas voltou a pedir a revisão dos critérios de intervenção imaterial no bairro, a inclusão de ações culturais e sociais no projeto e cuidados médicos aos dependentes. “O projeto é muito frágil e fraco no aspecto cultural e social.”

A representante do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (Labhab) da USP, Patrícia Moura, destacou que os rumos do projeto estão pouco sintonizados com as pessoas que vivem na área.

Leandra Fernandes, da tradicional padaria e restaurante Casa Aurora, descreveu aos técnicos da Prefeitura a reforma realizada em seu comércio, há 50 anos em funcionamento. “Finalizamos há pouco tempo reformas com empréstimos do Finame (linha de financiamento do BNDES). Renovamos tudo”, explica. “Eu vou quebrar e 60 famílias vão ficar sem emprego”. 

Respostas insuficientes

Após a etapa de perguntas da comunidade, que teve de inscrever-se ainda no período da tarde para ter direito à manifestação, o secretário Miguel Bucalem respondeu às perguntas dos participantes. Mas foi considerado evasivo e pouco esclarecedor por moradores e comerciantes da região.

“Estamos dando a maior atenção possível a mais de dois mil habitantes fora da Zeis”, informou o secretário. Segundo ele, os dependentes químicos estão sendo atendidos por equimentos de saúde já existentes na região. “A abordagem é pela (área de) saúde e não pelo projeto urbano”, explicou.

A resposta, considerada insuficiente, gerou questionamentos e um princípio de bate-boca com lideranças da região. “Onde estão esses locais de atendimento, que nunca vimos?”, questionou o público.

Para Leandra, da Casa Aurora, as respostas foram simples demais diante dos impactos do projeto na vida da população do bairro. “Ele disse que vamos ter preferência. Mas como se transfere uma padaria inteira?”, questionou. “Estou saindo com as mesmas dúvidas”, disse.

“As respostas foram protocolares. As mesmas de sempre”, avaliou Paula ,da Amoaluz.

Nesta quinta, ocorre a audiência pública promovida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente para manifestações sobre o estudo de impacto ambiental do Nova Luz. Na sexta, há nova audiência da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Ambas ocorrem no ginásio do Pacaembu, a partir das 18 horas.