Coleta assinaturas por tarifa zero no transporte em São Paulo é iniciada

Lei de iniciativa popular se baseia em projeto da gestão da prefeita Luiza Erundina

Depois de realizar protestos no início do ano contra aumento da tarifa, movimento organiza coleta de assinaturas para projeto de lei que garantiria o passe livre (Foto: © Jailton Garcia)

São Paulo – O Movimento do Passe Livre (MPL) iniciou campanha para reunir 500 mil assinaturas a favor de um projeto de lei de iniciativa popular que defende a tarifa zero nos ônibus municipais da capital paulista. A apresentação do texto aconteceu na sexta-feira (19) à noite, com a participação da deputada federal Luiza Erundina (PSB) e de Mauro Zilbovicius, co-autor da redação da proposta.

O MPL pretende fazer ações para divulgar o projeto e recolher assinaturas. Mais detalhes são apresentados no site oficial da campanha. A iniciativa se baseia em um projeto adotado na gestão de Erundina na prefeitura de São Paulo (de 1989 a 1992). A atual deputada mostrou-se emocionada com o entusiasmo dos jovens em relação a seu projeto, elaborado há quase 20 anos. Ela lembrou que a ideia ousada foi um desafio, mas não pode ser aplicada em sua gestão. A ex-prefeita explicou que essa política de transporte foi amplamente discutida com a população, por meio de audiências públicas e plenárias populares.

O projeto foi elaborado pelo então secretário de transporte de sua gestão, Lúcio Gregori, e envolvia custear o transporte coletivo de maneira indireta, por meio de um fundo composto a partir de parte da arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Erundina disse que vai lutar pela causa em âmbito federal, com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que o transporte seja considerado um direito social.

“O IPTU é um dos únicos impostos que o poder local pode modificar”, justifica a deputada. “Não foi um aumento grande o que propusemos: o mais rico iria pagar mais e quem não tivesse propriedade não ia pagar nada. O projeto era viável, mas tínhamos minoria na Câmara e não foi aprovado”, relembra a ex-prefeita.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Mauro Zilbovicius, explica que, hoje, a tarifa atrapalha até na circulação dos corredores de ônibus em São Paulo. Segundo ele, o fato de muitas linhas circularem nas principais vias com destino a locais diferentes sobrecarrega o sistema. Se a tarifa não existisse o ônibus poderia circular de uma maneira parecida com o metrô, com linhas que ligassem as periferias ao centro em sua total extensão fazendo com que as pessoas embarcassem no primeiro carro disponível que lhes servisse, fazendo quantas conexões fossem necessárias – atualmente, o bilhete único permite, no máximo, tomar quatro carros em até três horas.

Atualização

O projeto atual, do MPL, também defende a criação de um fundo dos transportes, reunindo todos os recursos da área e o repasse da arrecadação de impostos de forma progressiva (os mais ricos pagariam mais). O MPL pretende entregar o projeto à Câmara dos Vereadores apenas depois de reunir as assinaturas necessárias. Seria uma forma de mostrar o apoio popular à gratuidade do transporte.

Para Nina Capello, integrante do MPL, o projeto quer mostrar à população uma nova maneira de pensar a mobilidade urbana. “Os ônibus hoje vão da periferia para o centro e vice-versa; como se as pessoas só precisassem ir de casa para o trabalho. Muita gente não conhece a cidade de verdade.” O MPL e outros movimentos sociais colocaram a questão do transporte em pauta em 2011 com pelo menos 10 manifestações nas ruas contra o aumento de R$ 2,70 para R$ 3, promovido pela administração do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, rumo ao PSD) em janeiro deste ano.

Após três meses de protestos, um diálogo inédito foi estabelecido entre os poderes Executivo e Legislativo paulistano até a realização de uma audiência pública com o secretário de Transportes e algumas rodadas de negociação. Sem resultados concretos, o vereador Ítalo Cardoso (líder do PT na Câmara) chegou a entrar com pedido de revisão da tarifa, julgado nesta semana em favor da prefeitura.